sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Negrura



(Carlos da Gama. Marrocos2013)

 “Neste dia sem luz que me anoitece,
Que me sepulta inteiro,
Até de mim a minha dor se esquece
Para que eu seja um morto verdadeiro.

Chove tristeza fria no telhado
Do castelo do sonho; nua, nua
A calçada que subo, já cansado
De tanto andar perdido nesta rua.

Duma olaia caiu, morta, amarela,
Qualquer coisa que foi princípio e fim;
E bem olhada, bem pensada, é ela
Aquela folha que lutou por mim…

Sozinho e morto ouço cantar alguém,
Mas é longe de mais a melodia…
E o ouvido que vai nunca mais vem
Trazer-me a luz que falta no meu dia.”
                                                               Miguel Torga, in «Diários I a IV»


Sem comentários:

Enviar um comentário