terça-feira, 20 de janeiro de 2015

confins do sonho



 «… quando fechamos o livro e julgamos que tudo fica encerrado lá dentro, por vezes sucede o inverso: sai tudo de lá de dentro, excepto justamente as palavras. A história e os personagens fogem das páginas e vão vaguear por aí, assaltando-nos em sonhos, numa praça longínqua de uma cidade estranha, numa manhã de chuva ou um corredor de hospital».
Miguel Sousa Tavares, in «Não se encontra o que se procura»

 


Uma vez mais, privo com o Cávado pelas bandas de Gemeses. 
Amo estar aqui na contemplação deste quadro bucólico de pura natureza, apesar, ou por causa da nudez das árvores e do súbito emagrecimento do rio, provocado pela baixa-mar.
Embebedo-me dos sons da passarada que rejubila pelo escasso e tímido sol que aconchega esta manhã de Janeiro.
Acabei de ler o livro «Não se encontra o que se procura», de Miguel Sousa Tavares. Adoro este escritor tardio que, paradoxalmente, me provoca a entrar dentro de mim para encontrar o que sempre procuro: resposta para as inquietações que me trazem cativo, desde que me conheço!
Miguel Sousa Tavares tem uma escrita luminosa e de agradável leitura e possui o condão de nos fazer sonhar. Surpreende quando fala da alma contida num livro. E coloca os personagens e a história que os une a abandonar o livro para vaguearem por outros romances, deixando na estante apenas as palavras, espécie de corpo físico.
É bela e inédita esta visão humana de um romance que, desta forma, nos transporta para outros confins do sonho e da construção literária.

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