terça-feira, 14 de agosto de 2012

Em frente deste mar…


V.P.Âncora                               Foto: Carlos da Gama




Em frente deste mar… de novo! Olho-o pela janela da minha Micha e fico cheio de maresia. Este eterno rumor que teima em seduzir-me pela espuma branca que deixa junto da rebentação.
Um pouco afastado e encimando uma rocha mais ousada estão os pescadores. Lançam o isco para onde julgam melhor enganar os peixes incautos. 
São teimosos e da cor do mar estes homens que sempre anseiam regressar aos seus, devidamente equipados com boas novas trazidas em pequenas cestas de plástico.
Fumam, sempre, talvez para não sentir o passar do tempo. E aguardam pacientemente o estremecer da cana quando é aprisionado um peixe mais audaz.
Este lugar é eterno. Foi cá que habitamos sonhos de juventude rebelde em tempos despreocupados. Foi para cá que trouxemos os rebentos em épocas de veraneio.
Hoje tudo é mudança. Estamos novamente regressados aos tempos  das mãos dadas.  É o início da tarde e alongo o olhar para junto das rochas onde bailam bátegas de um mar revolto. 
Por ali, meio perdido, almejo um corpo franzino, quase estático de olhar no horizonte. Imagino os pensamentos de que se veste a alma daquela mulher. Moendo, talvez, inquietações que carrega e imaginando-as levadas pelas ondas deste imenso Atlântico.
A vida, todas as vidas são o resultado de encontros e desencontros. E penso que ela transpira emoções de encontros que cimentam a relação familiar. Em frente deste mar… de novo!