quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Emergir da aurora!


                                                                                                     Foto: Carlos da Gama       

 

Quando os instantes custam a passar

Nas escuras noites de fortes insónias

Sinto os impulsos da alma a sangrar

Na recordação das velhas memórias!

 

Quando os rumores são como punhais

Que colocam a alma em desassossego

Quando o tempo se faz longo demais

Pelas expectativas de todo este enredo

 

És tu que eu sinto sempre a meu lado

Instigando força e uma serena atitude

Com saudável mestria geras este fardo

Apesar da tua aura revelar inquietude!

 

Sei que aqui aportará nova aragem

À boleia dos ventos, pela estrada fora,

Fará desta mágoa uma breve passagem

Não mitigará o novo emergir da aurora!

 

domingo, 22 de janeiro de 2012

Quando eu nasci



                                                          Foto: Carlos da Gama        
 



Quando eu nasci,
ficou tudo como estava.

Nem homens cortaram veias,
nem o Sol escureceu,
nem houve Estrelas a mais...
Somente, esquecida das dores, a minha Mãe sorriu e agradeceu.

Quando eu nasci,
não houve nada de novo
senão eu.

As nuvens não se espantaram,
não enlouqueceu ninguém...

P'ra que o dia fosse enorme,
bastava
toda a ternura que olhava
nos olhos de minha Mãe...


(Sebastião da Gama)

sábado, 21 de janeiro de 2012

Carta de despedida

                                                                                                     Foto: Joana Carvalho       



"Se por um instante Deus se esquecesse de que sou uma marioneta de trapo e me oferecesse mais um pouco de vida, não diria tudo o que penso, mas pensaria tudo o que digo.

Daria valor às coisas, não pelo que valem, mas pelo que significam. Dormiria pouco, sonharia mais, entendo que por cada minuto que fechamos os olhos, perdemos sessenta segundos de luz.

Andaria quando os outros param, acordaria quando os outros dormem.
Ouviria quando os outros falam, e como desfrutaria de um bom gelado de chocolate! Se Deus me oferecesse um pouco de vida, vestir-me-ia de forma simples, deixando a descoberto, não apenas o meu corpo, mas também a minha alma.

Meu Deus, se eu tivesse um coração, escreveria o meu ódio sobre o gelo e esperava que nascesse o sol.
Pintaria com um sonho de Van Gogh sobre as estrelas de um poema de Benedetti, e uma canção de Serrat seria a serenata que ofereceria à lua.

Regaria as rosas com as minhas lágrimas para sentir a dor dos seus espinhos e o beijo encarnado das suas pétalas...
Meu Deus, se eu tivesse um pouco de vida... Não deixaria passar um só dia sem dizer às pessoas de quem gosto que gosto delas.

Convenceria cada mulher ou homem que é o meu favorito e viveria apaixonado pelo amor.
Aos homens provar-lhes-ia como estão equivocados ao pensar que deixam de se apaixonar quando envelhecem, sem saberem que envelhecem quando deixam de se apaixonar! A uma criança, dar-lhe-ia asas, mas teria que aprender a voar sozinha. Aos velhos, ensinar-lhes-ia que a morte não chega com a velhice, mas sim com o esquecimento.

Tantas coisas aprendi com vocês, os homens...
Aprendi que todo o mundo quer viver em cima da montanha, sem saber que a verdadeira felicidade está na forma de subir a encosta.

Aprendi que quando um recém-nascido aperta com a sua pequena mão, pela primeira vez, o dedo do seu pai, o tem agarrado para sempre.

Aprendi que um homem só tem direito a olhar outro de cima para baixo quando vai ajudá-lo a levantar-se.
São tantas as coisas que pude aprender com vocês, mas não me hão-de servir realmente de muito, porque quando me guardarem dentro dessa maleta, infelizmente estarei a morrer..."

GABRIEL GARCIA MARQUEZ

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

A mais brilhante luzinha!

                                                                                                                                                                                                           Foto: Carlos da Gama        


Quando te sinto mais perto
Dos medos que me assaltam
És madrugada em que desperto
E silêncios que me acalmam!

Sempre prenhe de afectos
Qual quimera sem tempo
Partilhas sonhos inquietos
Que logo devolves ao vento!

Um dia, uma bela joaninha          
Fez um verso com mestria
Que tinha sido gerada
P'la mais brilhante luzinha!
 

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Saudade

                                                                                                     Foto: Joana Carvalho       


De quem é esta saudade
que meus silêncios invade,
que de tão longe me vem?
De quem é esta saudade,
de quem?
Aquelas mãos só carícias,
Aqueles olhos de apelo,
aqueles lábios-desejo...
E estes dedos engelhados,
e este olhar de vã procura,
e esta boca sem um beijo...
De quem é esta saudade
que sinto quando me vejo?
Gilka Machado

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

DEUS SEGUNDO SPINOZA



                                                                                                     Foto: Carlos da Gama       


“Pára de ficar rezando e batendo no peito!
O que eu quero que faças é que saias pelo mundo e desfrutes de tua vida.
Eu quero que gozes, cantes, te divirtas e que desfrutes de tudo o que Eu fiz para ti.

Pára de ir a esses templos lúgubres, obscuros e frios que tu mesmo

construíste e que acreditas ser a minha casa.
Minha casa está nas montanhas, nos bosques, nos rios, nos lagos, nas praias.
Aí é onde Eu vivo e aí expresso meu amor por ti.

Pára de me culpar da tua vida miserável: 
Eu nunca te disse que há algo mau em ti ou que eras um pecador, ou que tua sexualidade fosse algo mau.
O sexo é um presente que Eu te dei e com o qual podes expressar teu amor, teu êxtase, tua alegria. Assim, não me culpes por tudo o que te fizeram crer.

Pára de ficar lendo supostas escrituras sagradas que nada têm a ver comigo.

Se não podes me ler num amanhecer, numa paisagem, no olhar de teus amigos, nos olhos de teu filhinho... não me encontrarás em nenhum livro!
Confia em mim e deixa de me pedir. Tu vais me dizer como fazer meu trabalho?

Pára de ter tanto medo de mim. Eu não te julgo, nem te critico, nem me irrito, nem te incomodo, nem te castigo. Eu sou puro amor.

Pára de me pedir perdão. Não há nada a perdoar. 
Se Eu te fiz... Eu te enchi de paixões, de limitações, de prazeres, de sentimentos, de necessidades, de incoerências, de livre-arbítrio. 
Como posso te culpar se respondes a algo que eu pus em ti?
Como posso te castigar por seres como és, se Eu sou quem te fez? Crês que eu poderia criar um lugar para queimar a todos meus filhos que não se comportem bem, pelo resto da eternidade? Que tipo de Deus pode fazer isso?

Esquece qualquer tipo de mandamento, qualquer tipo de lei; essas são artimanhas para te manipular, para te controlar, que só geram culpa em ti.

Respeita teu próximo e não faças o que não queiras para ti. A única coisa que te peço é que prestes atenção a tua vida, que teu estado de alerta seja teu guia.
Esta vida não é uma prova, nem um degrau, nem um passo no caminho, nem um ensaio, nem um prelúdio para o paraíso.
 

Esta vida é o único que há aqui e agora, e o único que precisas.
Eu te fiz absolutamente livre. Não há prêmios nem castigos. Não há pecados nem virtudes. Ninguém leva um placar.

Ninguém leva um registro.
Tu és absolutamente livre para fazer da tua vida um céu ou um inferno.
Não te poderia dizer se há algo depois desta vida, mas posso te dar um conselho. Vive como se não o houvesse.
Como se esta fosse tua única oportunidade de aproveitar, de amar, de existir. Assim, se não há nada, terás aproveitado da oportunidade que te dei.
E se houver, tem certeza que Eu não vou te perguntar se foste comportado ou não. Eu vou te perguntar se tu gostaste,se te divertiste... Do que mais gostaste? O que aprendeste?

Pára de crer em mim - crer é supor, adivinhar, imaginar. Eu não quero que acredites em mim. Quero que me sintas em ti.

Quero que me sintas em ti quando beijas tua amada, quando agasalhas tua filhinha, quando acaricias teu cachorro, quando tomas banho no mar.

Pára de louvar-me! Que tipo de Deus ególatra tu acreditas que Eu seja? Me aborrece que me louvem. Me cansa que agradeçam.

Tu te sentes grato? Demonstra-o cuidando de ti, de tua saúde, de tuas relações, do mundo.
Te sentes olhado, surpreendido?... Expressa tua alegria! Esse é o jeito de me louvar.

Pára de complicar as coisas e de repetir como papagaio o que te ensinaram sobre mim. A única certeza é que tu estás aqui,que estás vivo, e que este mundo está cheio de maravilhas. Para que precisas de mais milagres?

Para que tantas explicações?
Não me procures fora! Não me acharás. Procura-me dentro... aí é que estou, batendo em ti."
Baruch Spinoza.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Em desalinho!

                                                                                                     Foto: Joana Carvalho       


Neste véu diáfano de incerteza
Onde tenho andado, qual miragem
Entre margens de inquieta rudeza
Aguardando o regresso da viagem!

Só eu caminho pelo meio desta selva
Aspirando velhos sonhos cor de mar
Tal como as pétalas verdes da relva
Sei para onde o vento me quer levar!

Queria correr e saltar estes muros
Que vertem nostalgia amarga de fel
Anseio o dia de respirar ares puros
Feitos brisa de cavalos em tropel!

A madrugada é de azul quando emerge
Com a alma disfarçada em rosmaninho
A saudade é um tempo que remexe
Emoções e outras fúrias em desalinho!

 Carlos da Gama

domingo, 1 de janeiro de 2012

Sonhos e expetativas!

                                                                                                     Foto: Carlos da Gama       



Por vezes, sinto medo de escrever. Porque ao juntar as letras sinto que tenho que me responsabilizar por elas.
Quando junto as letras elas formam palavras que podem ser belas, soltas, livres e …  o seu contrário.
Quando escrevo nostalgia, por exemplo, receio que essa palavra sofra desse sentimento de quase felicidade, sem o ser.
Quando escrevo maldade, sinto que esse conceito fica encerrado na palavra que construí e que dela nunca mais se afasta. Quando penso em amor, receio vulgarizar a emoção mais nobre à face da terra.
Um dia, tropecei com a palavra «sonho». E apaixonei-me de imediato. Acho que foi amor à primeira vista. Porque senti a alma elevar-se para uma dimensão diáfana, com horizontes de liberdade e de expectativa positiva. Sempre soube que ele comanda a vida, tornando-se extremamente importante para todos os seres pensantes.
O sonho multiplica-se por vários contextos. Quem o desconhece não vive. Quem não ousa enfrentar os sonhos, não vence. É perseguindo-os que se constrói o futuro. Dizem, até, que quando o homem sonha, a obra nasce! É pura verdade!
Por vezes, pensamos que o sonho está mesmo ali ao nosso lado. E é o tempo que nos corrige a direcção. Só damos conta que nos enganamos quando o pretenso sonho se transforma em pesadelo.
Hoje é o primeiro dia do ano. De certo que todos sonhamos com um tempo novo, apesar dos presságios que nos cercam a nível da performance do país.
Mas devemos teimar em sonhar para que o mundo avance na direcção certa. E a vida de cada um de nós seja como a aragem de água fresca, de que se veste o sonho! 
Que 2012 cumpra todos os vossos sonhos e expetativas!

 Carlos da Gama