quinta-feira, 27 de março de 2014

O sítio das ondas gigantes



Tarde quente, de quase verão, na cidade da Nazaré. 
O mar está alterado e arrasta muitos curiosos, de máquinas fotográficas a tiracolo, na admiração das ondas de 4-5 metros de hoje. 

Google
Esta praia, mundialmente conhecida por albergar o «canhão da Nazaré», cresceu em celebridade após o norte-americano Mcnamara aí ter surfado uma onda de mais de trinta metros. 
O chamado «canhão da Nazaré» é um dos maiores vales submarinos do mundo, que se prolonga por cerca de 200 kms e atinge uma profundidade superior a 5 mil metros. 
Google
 
É este grandioso acidente geomorfológico que provoca alterações a nível dos sedimentos. 
Tal fenómeno faz com que as ondas consigam viajar pela falha geológica a uma maior velocidade, oferecendo um espectáculo de dimensões gigantescas na Praia do Norte da cidade da Nazaré.

Também desta bela praia se avista o lendário «sítio» de onde D. Fuas Roupinho interrompeu bruscamente o seu cavalo, ao aperceber-se estar junto ao precipício, segundo dizem, por milagre da Senhora da Nazaré. 

Não por acaso, as excursões, para o sul do país, que se faziam na minha infância, tinham como ponto de paragem obrigatório a Igreja da Senhora dos Navegantes, da cidade da Nazaré.

terça-feira, 25 de março de 2014

Azul de mar



 
Chegamos, já a tarde tinha feito caminho. Mas deu ainda para um passeio pela marginal da Lagoa de Óbidos. 
Este é um dos locais a que regresso sempre que a saudade puxa pelas emoções. 
Por cá andei, pelos meus verdes anos, quando me preparava para a guerra colonial. 
Há momentos passei pelo aquartelamento onde permaneci durante os três primeiros meses do ano de 1973. 
Ao rever aquela instituição militar, um vulcão de emoções sacudiu-me a memória.

Já passou tanto tempo … e a sensação que me invade é de que tudo aconteceu há escassos dias!
O tempo, essa incógnita da vida, é como um rio que corre inexoravelmente para a foz. 
Só damos conta da sua passagem quando o espelho reflecte a imagem que custa a aceitar.
A Foz do Arelho é também memória de afectos. Para aqui trazia a minha gente, de tenra idade, na busca de brisa fresca de verão e de dias felizes.
O longo passeio em torno da Lagoa continua a ser de pura maresia e liberdade. 
Apetece aspirar o ar morno do entardecer enquanto perpassam pela memória alguns dos mais belos postais esquecidos na poeira do tempo.
S. Martinho do Porto, ali ao lado, que conheci ainda como o «penico dos burgueses», é hoje um recanto de multidões. 
Apesar de algumas elegantes moradias, da burguesia lisboeta do passado, que resistem ao tempo, proliferam construções em altura que lhe desfiguram a sua beleza primitiva. 
Mesmo assim, é retemperador alargar a vista pelo areal da concha e mirar o oceano a autoflagelar-se contra as arribas da entrada na baía.
Lembro bem: S. Martinho do Porto ganhou importância em mim por via do Frederico Manuel, meu companheiro de armas na Guiné-Bissau. 
Foi lá longe, nas conversas quentes regadas a whisky e cerveja, que o Frederico falava da sua terra com paixão e saudade.
S. Martinho do Porto em dia luminoso, como o de hoje, é um encanto. A porta que permite a entrada do atlântico para a concha lá está de ombreiras graníticas e águas agitadas de azul de mar.

sexta-feira, 21 de março de 2014

Sonhos de areia




Gosto de retornar a este enorme recinto, junto da marina da Praia da Rocha. O areal está quase deserto de gente. Existe sol em abundância, mas a brisa fresca e a agitação das águas afasta as pessoas. Daí que o passeio, por entre as rochas douradas, seja de maior liberdade e maresia.

Durante a caminhada, um ou outro casal mais aconchegado às falésias fazem-me compreender que não estamos sós. 
De repente, surge pela frente um homem idoso, munido de uma geringonça de detectar metais e com uma pequena enxada ao ombro. 
Caminhava cabisbaixo, a sondar as areias, sempre na expectativa de que o aparelho emitisse algum sinal para, de seguida, cavar a área e encontrar qualquer «tesouro» perdido por turista mais incauto.
Aquela figura franzina trouxe-me à memória as «picadas» na Guiné, quando sondavamos qualquer mina assassina, ao tempo de guerra colonial. 
Mas, de igual forma, a expectativa, estampada naquele rosto enrugado e de tez morena, pareceu-me com a dos garimpeiros da selva amazónica que dedicam a vida ao sonho de um «tesouro» saído das areias removidas pelo suor da ilusão. 
Foi o esvoaçar de um bando de gaivotas que desviou o meu cismar para outras latitudes e a fruir o momento.
No passeio pela marginal, vimos pessoas a caminhar lentamente e outras com um ritmo mais ousado. 
As conversas que passam por nós têm o sabor de diversos idiomas europeus. 
De quando em vez, o vento é mais forte. Mas o sol, luminoso e quente, não o deixa incomodar. 
Está uma manhã que faz esquecer o inverno do nosso descontentamento.
O autocaravanismo é isto: percorrer territórios, admirar paisagens, buscar afagos do sol, caminhar por praças e avenidas, apreciar a gastronomia local e registar instantâneos para memória futura.


quarta-feira, 19 de março de 2014

Terra de navegantes





Antes de chegar a Lagos, destino da viagem de hoje, visitamos a simpática «Praia da Luz». 

Um lugar mítico de memórias sadias e, simultaneamente, uma estância de veraneio tristemente célebre pelo desaparecimento de uma criança inglesa, um caso de enorme rumor social e mediático.

Mas o que nos arrastou até ali foi a recordação de felizes vivências, de tempos já distantes, e de paisagens que permanecem belíssimas.

A baia da Praia da Luz continua de águas serenas de matizes verdes e azuis. 

Apesar de ainda estarmos em Março, as flores já embelezam a marginal e os pequenos canteiros das casas alvas. 

O sol fez questão de marcar presença neste regresso a um dos locais fantásticos da minha juventude tardia.

Seguimos, depois, para Lagos, onde decidimos pernoitar. 

A autarquia, atenta ao crescente fenómeno do turismo de proximidade, criou uma área de serviço de auto caravanas num enorme recinto bem junto ao estádio. 

Cá estão uma boa quarentena, oriundas de vários países europeus: Suécia, Finlândia, Itália, Dinamarca, Alemanha, França e Inglaterra. 

Não terá sido por acaso o desabafo, em jeito de espanto, da garota que, bem cedo, cobrava a estadia: - «finalmente, um português!». 

Curiosa exclamação quando estamos no nosso país. 
Mas já há muito que sabemos que o Algarve é a mais estrangeira região portuguesa. E ainda bem para a economia nacional.
O tempo convida a um passeio até à marginal para fruir das aragens desta bela cidade algarvia. 
A avenida que bordeja a marina é uma artéria amiga do coração.
E a praia que fica lá ao fundo a fazer companhia ao forte é retemperadora para a alma.

Terra de navegantes, a cidade de Lagos honra os seus heróis, Gil Eanes e Infante D. Henrique que, nos versos de Camões, se aventuraram «por mares nunca dantes navegados».

Após uma noite de sossego, a manhã surgiu com um sol quente e uma brisa suave de mar. Mais ao lado, ouvia-se o rumor da civilização a circular pelas artérias mais próximas, como a anunciar que o dia era de labor.