quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

silêncios tristes

Carlos da Gama


O tempo escoa-se pela fria tarde
a noite desperta do torpor inquietante
cresce a maresia, sem qualquer alarde,
esvoaça em sonho a gaivota errante

Pelo mágico areal que se faz eterno
correm silêncios que parecem tristes
é do horizonte este abraço fraterno
num misto de cores que jamais vistes

Viaja na inquietude esta minha alma
sedenta de paz, sem qualquer bulício,
só o som do mar lhe transmite calma
e todo este ambiente, também natalício!

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Magia do Natal



Joana Carvalho





Desta vez experimentei o exercício da nobre missão de encarnar a figura do Pai Natal.
Numa noite de afectos partilhados, toda a família do meu amigo Domingos Ribeiro reúne-se no acolhedor Salão criando um ambiente de festa e de magia, apesar de algum mal disfarçado nervosismo das crianças perante a ansiada chegada do «velhinho de longas barbas» que as brindarão com prendas pelo bom comportamento durante o ano prestes a terminar.

Chegado de um outro convívio, não menos feliz, entrei num espaço lateral ao Salão para me vestir a preceito. Mas não contive as gargalhadas pela figura de bonacheirão em que me ia tornando à medida que completava a fatiota de «Pai Natal».
No Salão, os convivas deliciavam-se, entre conversas múltiplas e petiscos próprios da época, num ambiente aquecido por uma lareira sempre alimentada durante esta noite fria e tão especial.
Mas foi a entrada da figura afável e marcante do Pai Natal que precipitou a algazarra dos convivas e o olhar mágico, cândido e interrogativo das crianças que o esperavam com a habitual ansiedade. Se o Pai Natal ali estava era porque mereciam a sua presença. E o momento da entrega dos presentes acrescentou candura à magia guardada durante todo o ano.

E, acreditem, agora compreendo melhor o facto do Pai Natal se apresentar, ano após ano, com aquele ar bonacheirão e de visível saúde. Porque não pode haver missão mais nobre e saudável do que a de despertar o sorriso das crianças.
Está de parabéns a família Ribeiro por manter bem viva esta tradição ancestral da junção dos afectos numa noite tão especial e de despertar nas crianças o sonho e a magia do Pai Natal.

domingo, 23 de dezembro de 2012

Boas Festas!





Aos visitantes e amigos: 
Boas Festas
Feliz 2013

Bom dia!


Tonicha





Hoje o sol decidiu lembrar-nos que … «após a tempestade, vem a bonança!». 
Não ficará por muito tempo, mas sabe bem vê-lo entrar pela casa e aquecer o tempo húmido e cinzento dos últimos dias.
Sabe bem olhar o verde do jardim pela porta do refúgio de emoções desta estação de invernia. E afagar a alma com a luz quente que invade o escritório logo pela manhã. 
Bom dia!

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

É assim a vida!


Não aconteceu o anunciado fim do mundo. Tudo vai continuar na mesmice do costume.
Hoje o dia está húmido. Quase triste. A natureza desnudada só se remexe quando o vento corre ousado no seu encalço.

Joana Carvalho
Entramos no inverno. Uma estação plena de ironias.
Passou já tanto tempo desde os dias longos de frio e chuva vestidos de um viver pobre e de alegria breve. 
Um tempo em que se esperava por esta quadra com a alma em sobressalto. Algo de novo despontava numa satisfação que não se materializava em coisa alguma. Mas existia uma magia que animava esta época de afagos.

Passadas que foram muitas existências e o afloramento do núcleo de afectos de proximidade, parece que a  vida perde sentido a  cada dia que passa. Olhamos em frente e vemos um espaço de sobressaltos, apesar da esperança. A ponto de emergir a inquietante interrogação sobre se terá valido a pena todo este percurso.

Um dia destes, li um escrito acerca do génio da arte da criação, Óscar Niemayer, que, num desabafo tardio, terá concluído que a vida era um minuto. Tinha vivido mais de cem anos. Mas, estou certo, se tivesse o dobro do tempo, a vida ter-se-ia igualmente definido como um sopro. Porque, quando olhamos para trás, não vislumbramos a largura dos afectos, nem a intensidade dos momentos vividos. É assim a vida!

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

mudo e quedo

"Até me fica mal dizer isto, mas con­fesso que, de quando em quando, chego a ter pena do pro­fes­sor Cavaco. O vetusto pres­i­dente passa a maior parte do tempo mudo e quedo, decerto em reflexão, tão pro­funda quando inócua, sobre o mundo e o país que aju­dou a criar. E é um deus-nos-acuda: que ele não diz nada quando deve dizer; que só fala a propósito de min­udên­cias como o estatuto dos Açores ou a vul­ner­a­bil­i­dade do cor­reio elec­trónico; ou ainda que, tal como a polí­cia e os mari­dos engana­dos, o pres­i­dente só aparece quando não é pre­ciso.

E se, vez por outra, o homem que­bra o silên­cio, é outro ai-jesus. Porque, dizendo, acabou por nada dizer, ou porque disse o que não devia ter dito, ou porque muito sim­ples­mente não disse coisa com coisa, o que, aliás, já começa a ser um hábito.

Recen­te­mente, o pres­i­dente Cavaco Silva voltou a falar, o que serviu para ficar­mos todos a saber que ainda não mor­reu. Falou no dia da greve geral, para dizer que ia tra­bal­har, e numa entrega de prémios a jor­nal­is­tas, onde até ten­tou fazer uma piada. Não resul­tou, mas conta a intenção.

Falou, ainda, num con­gresso de comu­ni­cações, para, entre out­ras coisas, exor­tar os por­tugue­ses a «ultra­pas­sar o estigma que afas­tou Por­tu­gal do mar, da agri­cul­tura e da indús­tria.» Assim mesmo. Não disse, mas a gente sabe, que esse estigma foi ele próprio quem no-lo lançou –quando, nos anos que se seguiram à entrada do nosso País no mer­cado comum, se empen­hou com grande zelo em cumprir e fazer cumprir as ordens de Brux­e­las no sen­tido de des­man­te­lar o tecido pro­du­tivo nacional.

Durante anos (sobre­tudo naque­les em que Cavaco Silva foi primeiro-ministro), agricul­tores rece­beram (muito) din­heiro para deixar as ter­ras ao aban­dono, cen­te­nas de fábri­cas foram encer­radas em nome da«com­pet­i­tivi­dade», a frota pesqueira foi metodica­mente abatida para sat­is­fazer os dese­jos das grandes potên­cias europeias.

Ao mesmo tempo, a saborosa fruta dos nos­sos pomares foi obri­gada a normalizar-se segundo os «padrões europeus», os jaquinz­in­hos passaram à clandestinidade e o seu con­sumo começou a ser visto como uma espé­cie de ped­ofilia pis­cí­cola, e até o vinho-a-martelo gan­hou estatuto legal tudo para mostrar à «Europa» que merecíamos ser acol­hi­dos no seu seio farto.

Foram, ainda assim, bas­tantes as vozes que então se fiz­eram ouvir e que ten­taram, debalde, fazer ver aos incau­tos que todo esse delírio ale­gada­mente mod­ern­izador teria um preço. Esta­mos agora a pagá-lo.
Por tudo isto, não deixa de ser curioso que seja, hoje, Cavaco Silva a inci­tar os por­tugue­ses a ultra­pas­sar o estigma que tem o seu nome e a sua marca. Pode­ria pensar-se que se trata de um saudável exer­cí­cio de autocrítica, mas era exi­gir demais e o pobre não tem estu­dos para tanto.

De Marx, receio que o pres­i­dente ape­nas con­heça algu­mas citações avul­sas do mano Grou­cho e um ou outro tre­jeito de Harpo. Mas, de Hem­ing­way, sus­peito que nem um pará­grafo lhe tenha, alguma vez, cau­sado qual­quer emoção. Fosse o pres­i­dente um homem de out­ras leituras para lá dos diver­sos tomos de relatórios-e-contas que já lhe terão pas­sado pela ponta dos dedos, e admi­tiria vis­lum­brar um assomo de arrependi­mento no seu apelo.

Pode dar-se o caso, tam­bém, de Cavaco ter a esper­ança de que, regres­sando ao mar, a maio­ria de nós já não volte. Afi­nal, o min­istro Gas­par e os out­ros têm-se esforçado em fazer tudo para que a vida dos por­tugue­ses se torne ainda mais insu­portável do que já era. Se uns quan­tos optarem por se ati­rar ao mar, sem­pre são uns cobres que se poupam nos funerais. Isto, pelo menos, é o que devem pen­sar as cabeças desabitadas dos sen­hores do gov­erno. Nesta comé­dia amoral, o pres­i­dente, coitado, tem de fazer o seu papel. Pardo, nat­u­ral­mente".
Jor­nal do Fundão | 13.Dez.2012


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