terça-feira, 30 de julho de 2013

Ao lado da noite







Os sonhos perseguiam-no. Um que perdeu algures, quando a viela ficou negra e medonha, foi levado por uma notícia que navegou por águas agitadas e ventos pré-fabricados. 
A partir daí, a terra dos sonhos nunca mais foi a mesma. Passou, até, a parecer uma miragem sem retorno.
Sozinho, por entre a desventura, procurou ganhar forças precisamente quando elas escapavam rumo a um abismo que se alimenta de fantasias desfeitas.

Até que, ao lado da noite, identificou um outro sonho, vestido de nostalgia, mas carregado de magia. 
Apenas aguardava, serenamente, que a maré sossegasse de quimeras tardias. E estava já tomado de esperança, apesar da penumbra que teimava em o abraçar.

Os dois encontraram-se por acaso. 
Ambos andavam sedentos de paz, mais do que de justiça. Por isso, aproximaram as emoções com que se encobriam. 
E, ao entardecer, quando o sol se transformou num mágico luzeiro, adornado de rubras labaredas por sobre o horizonte, tornaram-se amigos. Sem subestimar que a amizade é o que resta do infortúnio!

Fotos: Tonicha e CG 

segunda-feira, 29 de julho de 2013

Surpreendente bem-estar!



Imagem: Tonicha


Habitamos, desde há momentos, o bairro de motorhomes da Costa Nova.

Após o almoço, no interior da Micha, seguiu-se uma sesta com as emoções a segregar momentos de ternura. 

A praia, ali ao lado, sussurrava uma tarde macia de calor acarinhado pela brisa suave e reconfortante.
 
Imagem: CG
Inaugurei o primeiro mergulho no Atlântico que teve o sabor de uma luta de forças, com o mar a levar a melhor. 

Por vezes, fui surpreendido com a teimosia das águas que me derrubava e arrastava pelo areado. Mas foi uma boa peleja que o sol secou num ápice.

A tarde esgotava-se lentamente neste recanto de maresia. Enquanto o jantar era saboreado na companhia do Alentejo engarrafado e com a música a emprestar ao momento um surpreendente bem-estar!

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Se ...






«Se fores capaz de não perder a cabeça
quando todos à tua volta perdem a deles
e te culpam por isso;

Se fores capaz de confiar em ti mesmo
quando os outros duvidam,
mas aceitando perguntar a ti mesmo
se não terão um bocadinho de razão;

Se fores capaz de esperar sem deixar que a espera te canse,
ou, sendo alvo de calúnia, te recusares a caluniar,
ou, sendo odiado, não te deixares levar pelo ódio
sem te tornar sobranceiro nem te perderes em palavras ocas;

Se fores capaz de sonhar sem deixar que os sonhos te escravizem;

Se fores capaz de pensar, mas não cruzares os braços;

Se fores capaz de viver o triunfo e a desgraça
tratando-os, a ambos, como importantes que são;

Se fores capaz de suportar ver a verdade das tuas palavras
deturpada por velhacos para a transformarem
em armadilha para os tolos;
ou, vendo as coisas a que dedicaste a vida feitas em pedaços,
te vergares para as reconstruir, com ferramentas já gastas;

Se fores capaz de juntar, numa mão cheia, todos os teus ganhos,
arriscá-los num cara ou coroa,
perdê-los e começar do zero,
sem nunca soltar um lamento;

Se fores capaz de obrigar o teu coração,
o teu espírito e o teu corpo
a servirem à tua vontade mesmo depois de exaustos
e, assim, te mantiveres de pé
quando já nada restar dentro de ti,
excepto a força que te diz: «Aguenta»;

Se fores capaz de falar às multidões sem perder a virtude,
caminhar com reis sem deixar de ser simples;

Se nem os  teus inimigos
nem os teus amigos mais queridos te conseguirem magoar;

Se todos os homens contarem contigo,
mas nenhum dispuser de ti;

se fores capaz de preencher o fugaz minuto
com sessenta segundos vividos plenamente,
tua será a Terra e tudo o que nela existe,
e o que mais importa … serás um Homem, meu filho!»

 
«Carta a um filho», de Rudyard Kipling
(escrita em 1910 )