sexta-feira, 29 de julho de 2011

Até ao novo estio …





Hoje, poderia falar do clima deste meu país, quentinho de verão! Ou de «Que fazer quando tudo arde?» do António Lobo Antunes. Ou falar de metamorfoses... naturais e humanas.
Falar, ainda, de que não tenho avistado a lua... talvez por ela se sentir em fase nova e a timidez seja o seu refúgio de mocidade. Esperemos que fique mais cheiinha e aí surgirá em todo o seu esplendor!
Gosto de a ver nas manhãs quentes do verão, ainda com o céu sonâmbulo, pintado de azul anil. Acho que, assim, o dia inicia-se mais iluminado e cresce a vontade em me distender pelas estradas largas das rotinas de sempre. Fica mais leve esta vida de encontros e desencontros. Em que, como geme a cantiga: «ninguém é de ninguém!».

Mas, falar em metamorfoses traz-me à memória alguns sons da minha infância. Mais concretamente, a lembrança das melodias saídas, nas tardes longas e quentes do estio, de uma generosa poça de água existente, à época, junto da casa da família.
Pela calada da noite, ouvia-se um trilhar de sons de milhares de rãs e girinos, como que a confirmar uma vivência feliz, apesar de servirem de alimento aos galináceos que, pelo entardecer, se dirigiam àquela terra prometida onde se banqueteavam, a modos de uma orgia romana. Dali, só regressavam de papo cheio.
Mas, à medida que a seca ia avançando, aquela fonte iniciava um percurso de redução de água... e os sons ficavam cada vez menos estridentes. Até que o mutismo denunciava que a vida se extinguia de vez. Até ao novo estio!

                  Fotos: Google Imagens      

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Joaninha, voa ... voa !






Após o convivio social e de preparação para a vida ...










... chegou o tempo de enfrentar o próprio projecto, com coragem e sem medos!



O sucesso está em conhecer o terreno que pisamos e os «animais» com quem nos confrontamos....
Sempre confiar ... desconfiando!

Beijos
                  Fotos: Google Imagens         

quarta-feira, 27 de julho de 2011

prenúncios de morte ...



No passado fim-de-semana houve prenúncios de mortes violentas, inesperadas ou nem tanto assim: Amy Winehouse, dezenas de jovens noruegueses e alguns americanos.
Sinais de que o mundo mostra-se cada vez mais cansado da vida e prefere os caminhos da morte.
Amy era uma estrela que ameaçava desprender-se do firmamento a qualquer instante. Nos escassos anos de vida comportou-se como se estivesse só no mundo! Apesar das multidões que a idolatravam, sentia-se só! E foi a vivência dessa solidão que a fez pensar no sentido da vida e na libertação de todos os seus fantasmas pela morte. Merece respeito, por essa manifestação de lúcida dignidade. Gostei de a ver na loucura breve em que se detinha. Admirei a sua voz de sonho. Não admira, pois, que tenha preferido novas dimensões para se manifestar em todo o esplendor.
Na Noruega, um demónio à solta calou os rumores de uma ilha de maresia e fez estremecer o centro de Oslo. A vida debateu-se, por momentos, num breve confronto com a bestialidade humana. Fruto de uma doentia visão do mundo. Imperdoável o gesto premeditado de se sentir dono da vida de alguém. Na América, repetiu-se o pesadelo do costume. Nada mais do que já não estejamos acostumados.

Carlos da Gama
                   Fotos: Google Imagens         

Há momentos assim …



Há momentos assim: é chegada a hora
Do tempo em que a vida é de melancolia
Feita esperança dos teus beijos quentes!
Esta nostalgia das fragrâncias de outrora
Leva-me com o vento numa viagem tardia
Sempre assombrado por desejos ardentes!

Há momentos assim: rarefeitos de morte
Toldados com manhãs de luz oprimida
Por estradas cruzadas, mas sem direcção!
Por elas caminho sem rumo e sem norte
Correndo veloz pelas esquinas da vida
Na busca do futuro que está mais à mão!

Há momentos assim: em que apetece partir
Carregando maresia numa mochila ausente
Fazendo da aventura meu porto e destino!
Fintando a vida com uma ousadia a fingir
Sinto-me mais solitário no meio da gente
Preferindo os sons dum cais clandestino!

Há momentos assim: em que procuro em vão
Nas palavras que escrevo, em versos perdidos
Refúgio para esta alma inundada de dor!
Sinto-me num abismo que incute atracção
Não vislumbro sintomas melhor definidos
Na inquieta tormenta de que sou portador!

 Carlos da Gama
                   Fotos: Google Imagens         

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Estio …



















Não sei o que faço aqui
Sem vontade de escrever
Neste tempo cor de azul
Esta necessidade de ti
Que perturba o meu viver
É sonho vindo do sul

Procuro encontrar a rima
Que desperte o teu sorriso
Como o vento faz ao mar
Ele é luz que me ilumina
E a direcção que preciso
Para em ti poder navegar!


 Carlos da Gama
                   Fotos: Google Imagens         

domingo, 24 de julho de 2011

Kseniya Simonova - Sand Animation (Україна має талант / Ukraine's Got Ta...

Vale a pena ver.
Kseniya Simonova foi a vencedora da edição Ucraniana do Got Talent.
Na final, ao vivo, fez uma animação da invasão da Alemanha na Ucrânia durante a Segunda Guerra Mundial, tendo usado os dedos e uma superfície com areia.
Foram 8 minutos maravilhosos que demonstraram um talento especial e trouxeram, através da arte, a memória viva de uma guerra que marcou várias gerações.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Tô com saudade de tu, meu desejo
Tô com saudade do beijo e do mel
Do teu olhar carinhoso
Do teu abraço gostoso
De passear no teu céu

É tão difícil ficar sem você
O teu amor é gostoso demais
Teu cheiro me dá prazer
Quando estou com você
Estou nos braços da paz

Pensamento viaja
E vai buscar meu bem-querer
Não posso ser feliz, assim
Tem dó de mim
O que é que eu posso fazer?"
BETHANIA

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Sbastião Antunes - Sabes eu também

Estava difícil combinar um café, mas desta vez lá foi
Talvez possamos falar do que já lá vai que as vezes ainda dói
Da coragem esquecida que já se perdeu
quem deixou por dizer foste tu ou fui eu
da lembrança guardada num canto qualquer
da palavra apagada por não se entender
e dizer-te num gesto mais enternecido
Sabes, eu também ando um bocado perdido.

Vou preparar-te um jantar, concerteza vou ser original
E vou escolher-te um bom vinho. Tu sabes, nunca me saí mal
Vou falar-te das voltas que a vida trocou
Das verdades que o tempo já entrelaçou
Entre sonhos queimados lançados ao vento
Entre a cor de um sorriso e o tom de um lamento
E dizer-te de um sopro empurrado pela sorte
Sabes, eu também ando um bocado sem norte

Olha, não fiz sobremesa. Deixa lá, fica para a outra vez
Vamos deixar mais um copo a falar dos quês e dos porquês
Uma historia que nos apeteça lembrar
Um episódio que nunca nos deu para contar
Um segredo guardado p’lo cair do pano
Um encontro marcado no cais do engano
E dizer-te na hora em que a voz fraquejar
Sabes, eu também me apetece chorar

E vou chamar um táxi. É hora p’ra te levar a casa
Era suposto um de nos nesta altura ficar com a alma em brasa
Mas a vida é assim, não aconteceu
Pouco importa dizer, foste tu ou fui eu
O que importa é o abraço que estava por dar
Há-de haver uma próxima e mais um jantar e
E dizer-te a sorrir já passa das três
Dorme bem, quem sabe … um dia talvez.
Sebastião Antunes

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Onde está a razão, afinal?





Numa das recentes viagens pela imensa blogosfera, dei de caras com a imagem que aqui coloco e que me perturbou intensamente.
Nela podemos observar um homem, de condição visivelmente frágil, na cama de um hospital, partilhando afectos com o seu amigo de quatro patas. Porventura, na derradeira despedida do único ser vivo merecedor da sua atenção.
O meu olhar fixou-se, perplexo, em todo aquele contexto, que sugere imensas leituras e legitimas interpretações. Desde logo, inquieta profundamente o abraço entre aquele homem, debilitado pela doença, e o seu cão, de pose meiga e tranquila. Indiscutivelmente, um amigo fiel. O único amigo?

É, sem sombra de dúvidas, um retrato de grande intimidade que desperta para uma sublime amizade e genuína dedicação entre dois seres, alegadamente, de diferentes racionalidades.
O retrato sugere, de igual forma, que quando, pela velhice, passamos a ser um problema para os outros, cresce em nós um vazio de emoções, que se espalham pela penumbra dos dias, a ponto da vida deixar de ter sentido.
E apetece confirmar que, na sociedade em que vivemos, quando tudo se desmorona à nossa volta, quando os afectos humanos desaguam no mar da solidão, o recurso mais fiel e leal é o nosso animal de estimação. Isto acontece todos os dias ao nosso lado, sem qualquer sinal de embaraço da nossa alma.

São muitas as palavras e respectivos contextos que esta imagem desperta em mim: valor da vida, melancolia, solidão, final anunciado, fidelidade canina, afectos partilhados, despedida serena e final de linha. Mas, também, espera silenciosa, saudade do futuro, lealdade desinteressada, amizade pura e dedicação garantida.
Nesta autêntica balada de afectos, a postura serena daquele animal parece confirmar ao seu dedicado amigo: «Aqui estou!», «Não te abandono!» e «Conta comigo!».

Depois de «ler» esta fotografia, apetece meditar sobre a irracionalidade da espécie humana - que se arroga de ser a única portadora de racionalidade -, em esquecer os seus semelhantes quando estes apenas «dão prejuízo».
E, em contraponto, entender a razão porque o cão se liga ao homem pelos laços de enternecedores desvelos, mesmo quando este o transforma em escravo dos seus caprichos. Onde está a razão, afinal?


                Carlos da Gama
                                         Foto: Google Imagens

terça-feira, 12 de julho de 2011

Ontem, como hoje!

Encontra-a sempre naquele espaço de eleição. É aí que ela partilha os afectos com os que a visitam. Sempre com um sorriso para oferecer e uma atenção desdobrada em carinhos, mesmo quando as coisas não correm de feição.

Velha Escola da Sé - Braga
Uma das imagens felizes que retém de sua mãe, quando ainda menino, é daquele dia em que ela o acompanhou a Braga para, na velha Escola Primária da Sé, fazer o exame da quarta classe.
Sentia-se bem janota dentro da camisola de cor vermelha que ela propositadamente lhe comprara.
Foi como que um prémio antecipado que lhe oferecera pelo esperado sucesso naquele exame, que representaria o fim de um ciclo.
Depois, por razões de destino, rumou para um colégio interno, de cariz religioso. As saudades que sentiu na despedida foram compensadas pelo olhar meigo e de visível orgulho de sua mãe e dissimuladas pelo entusiasmo que ela lhe incutia em prosseguir aquele sonho.
Ele sentia que as propinas que eram pagas, em cada trimestre, significavam um acrescido esforço ao, já demasiado precário, orçamento familiar. Mas ela era a mais empenhada, não olhando a meios para que os filhos pudessem sonhar mais alto do que era pressuposto. Sempre o apoiou num tempo em que eram poucos os privilegiados que, na terra onde nascera, tinham possibilidades de estudar.

Desde sempre notou, no olhar de sua mãe, uma mal disfarçada nostalgia pelo facto de, na sua época, não ter podido frequentar, em liberdade, a escola da sua aldeia. Na sua geração, de escassos recursos, todos contribuiam, desde tenra idade, com trabalho para o orçamento familiar.
Ele recorda-se bem do falatório das campesinas, durante o amanho do quintal da sua casa: - que os estudantes eram apenas uns vadios e que só estudava quem não queria trabalhar. Ou seja: estudante seria, na boca daquelas pobres mulheres, igual a bandido!
Mas essas, eram as mesmas que censuravam as raparigas que usavam as emergentes minissaias ou calças femininas e, mais tarde, acabavam, também elas, por se render às modernices de um tempo em grande transformação a nível social e dos costumes.

Ele sentia que sua mãe pertencia a outra galáxia, pois nunca deu ouvidos àquelas maledicências e, pelo contrário, sempre apontou o caminho da formação académica e incentivou os filhos a beneficiarem das evoluções da moda.
Ela própria só não frequentou a escola todo o tempo que desejava porque tal não lhe foi permitido. Contava a avó que a Maria – esse é o nome de sua mãe – fugia para a escola, pelo prazer em aprender. Gosto ainda hoje reconhecido pois lê, diariamente, um jornal de dimensão nacional e, semanalmente, chegam-lhe às mãos revistas de assuntos vários.

Em conversas de memórias frescas, a sua mãe gosta de lhe lembrar o estado de alegria com que ele regressava, para umas férias em casa, após três meses de ausência. E que, à medida que se aproximava o dia da partida para o colégio, emudecia de tristeza. E ele recorda-se que ambos viviam aqueles últimos dias de férias num silêncio cúmplice mas sem nunca, um ou outro esmorecer nesse objectivo de prosseguir os estudos.
Palácio de Cristal - Porto
Mais tarde, ao fazer vinte anos, foi a ida para a tropa a separar o convívio dos afectos.
Foi ela a primeira a perceber que aqueles dez dias de descanso em casa antecediam a mobilização para uma das três frentes de guerra em África.
Tinha jurado não desvendar esse segredo de grande angústia e tristeza. Mas, para seu espanto, o sexto sentido de sua mãe foi directo ao assunto. E ele não teve como desmentir: estava mobilizado para a Guiné, para onde partiria dentro de escassos dez dias.
Reteve na boa memória a viagem que partilhou com ela à cidade do Porto para comprar o fardamento de guerra, no chamado «Casão Militar». Foi um dia repleto de emoções. O almoço teve lugar num dos restaurantes dos jardins do Palácio de Cristal, com vista para o Rio Douro.
Ele queria que aquele dia ficasse registado como um marco de afectos libertados. E como o dia da despedida daquele fantásico ser humano, por quem nutria uma infinita ternura e que sempre considerou como uma das mulheres da sua vida. Ontem, como hoje!

Carlos da Gama
                                      Fotos: Google Imagens

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Às vezes, vinham cartas…


Era sempre uma bênção dos deuses a chegada do correio a Buruntuma. Tal como em todas as zonas do interior da Guiné, não existiam estações dos correios. Apesar disso, com mais ou menos demora, sempre a correspondência chegava, muitas vezes a locais isolados, inóspitos e de muito difícil acesso.
A hierarquia das Forças Armadas Portuguesas sabia bem da enorme importância que tinha, para a moral das tropas, a troca de afectos dos militares com os seus familiares. Só quem viveu aqueles estranhos tempos pode testemunhar o alvoroço e a alegria da chegada do correio, o conforto e ajuda que todos sentíamos pelas notícias da família e dos amigos.

Fac-simile de aerograma
Um dos instrumentos de comunicação mais utilizados, nos cerca de treze anos que durou a guerra nos chamados territórios ultramarinos, foi o aerograma. Transformou-se numa autêntica instituição de comunicação na guerra colonial. Nasceu de uma ideia do Movimento Nacional Feminino, criado em 1961 com o objectivo principal de «prestar auxílio moral e material aos que lutam pela integridade do território pátrio”.
Estes papeis, autênticos guardiões de sonhos e saudade, de juras e promessas de amor, de medos e fantasmas e de muita audácia e generosidade, constituíram, para a grande maioria dos combatentes, o único elo de ligação entre zonas recônditas de África e a região mais interior de Portugal continental e insular. Colmatava vazios de alma e encurtava distâncias de afectos.

O aerograma era uma simples folha de papel de cor azul ou amarelo pálidos que, depois da escrita de saudade, era dobrado em formato de envelope e enviado sem necessitar de selo.
Era portador de histórias alegres e tristes. Lembro bem do sorriso aberto de quem recebia notícias sobre o nascimento de um filho, sobre desejos reprimidos e juras de amor eterno manifestados pelas namoradas ou sobre as melhoras de saúde de um familiar mais querido.
Mas também a tristeza invadia a alma quando a principal notícia era sobre a morte de um qualquer ente querido ou amigo, ou da sensação estranha, pretensamente nostálgica e melancólica, de saber do nascimento de um filho que, se tudo corresse de feição, só muito mais tarde haveria de conhecer.

Em Buruntuma, o correio chegava, quase sempre, de helicóptero. E era para o heliporto que corriam todos os militares logo que o ronronar dos motores, ainda longínquo, denunciava a sua aproximação.
Era uma liturgia digna de se ver quando o helicóptero pousava na pista poeirenta e das suas entranhas saía a preciosa carga, fechada a cadeado.

O silêncio nervoso que pairava no ar apenas era cortado pela voz do carteiro de serviço ao anunciar os nomes dos felizardos. Todos traziam a esperança estampada no rosto de ser um dos eleitos das notícias vindas da metrópole. E não receber uma carta ou encomenda, no dia da distribuição do correio, era uma maldade dos deuses que se manifestava num imenso desconforto e nostálgica inquietude.

Sofria-se muito quando esse momento se fazia um deserto de emoções. Era como que se o mundo se tivesse esquecido de nós. A solidão rasgava mais caminho por aquelas matas africanas.
Só quem lá viveu a saudade dos familiares mais queridos ou de uma namorada feita promessa de felicidade, é que saberá valorizar devidamente o significado que tinha o receber uma mensagem escrita num simples aerograma. Funcionava como uma injecção de morfina que fazia esquecer as agruras daquele destino colectivo. E a auto estima tomava conta de nós durante algum tempo mais.
Depois, regressava a saudade!

Carlos da Gama
                                      Fotos: Google Imagens

domingo, 10 de julho de 2011

Preciso de silêncio …





Preciso de silêncio … para me ver por dentro. Para poder voar sem destino que nos castigue. Para te imaginar por aí deambulando pelas sombras do que fomos.

Preciso de silêncio … para caminhar em paz pelo espraiado do sul quente da magia. Para esvoaçar meus sonhos e fugir na aventura do infinito.

Preciso de silêncio para estar só. Para que a nostalgia me faça a companhia que os deuses sempre recusam.
Preciso de silêncio … para olhar os horizontes em que estamos mergulhados. Para caminhar lado a lado com as palavras por dizer. Para te ouvir nesse marulhar das águas em plena luz do luar.

Preciso de silêncio … para te ler a alma. Para navegar por entre brumas de saudade. Para te olhar o sorriso de luz e encanto. Para sonhar devagar …devagar!

Preciso de silêncio … como um louco ama a loucura de se sentir protegido. Para ouvir os sons que me enchem a alma de saudade. Para estar só na tua companhia.

Preciso de silêncio … para me sentir dono de ti nesta aventura dos sentidos. Para verter vontades de te dar as mãos por esse imenso areal da tua vida. Para olhar o céu e sentir o azul do mar. Para perscrutar dimensões que não domino.

Preciso de silêncio … Preciso de ti !


 Carlos da Gama
                   Fotos: Google Imagens         

sábado, 9 de julho de 2011

Love Story


Em 1970, tinha 17 anos. Esse tempo de juventude foi de grande fermentação de ideias que, mais tarde, influenciaram a formação da minha personalidade. Foi por essa época que assisti ao filme «Love Story».
Extremamente romântico e envolvente, apesar de o enredo ser uma clássica história de amor entre um rapaz muito rico e uma rapariga da classe média-baixa.

Constituiu, na altura, um enorme êxito de bilheteira. Estávamos num tempo de grandes alterações sociais e de descobertas técnicas e cientificas e o mundo estava a mudar vertiginosamente.
Após a Segunda Guerra Mundial, os países destruídos ganham pujança com a reconstrução e os regimes democráticos, que sucederam um pouco por toda a Europa Ocidental, permitiram um crescente progresso na qualidade de vida dos cidadãos. Foi ai que nasceu o modelo social europeu que a actual crise económica e financeira parece querer colocar em causa.
Em Portugal vivia-se, ainda, sob um regime político despótico, retrógrado, limitador das liberdades e repressor aos mais variados níveis. Em nome da defesa do império ultramarino, os jovens eram obrigados a rumar para as várias frentes de guerra de África, logo que atingissem a maioridade.
O «Love Story, para além da sedutora história de amor, constituiu uma lufada de ar fresco na visão de outras latitudes e sugeriu um repensar da forma de vida num país amordaçado, concorrendo, apesar de modestamente, à fermentação de ideias que conduziram à revolução de Abril de 1974.

Mas foi um tremendo êxito de bilheteira em todo o mundo, vencedor de vários prémios e globos de ouro, nomeadamente nas categorias de melhor filme (drama), melhor director, melhor actor (Ryan O'Neal), melhor actriz (Ali MacGraw), melhor roteiro e melhor banda sonora.
Lembro bem da dificuldade em conseguir-se um bilhete pois as salas estavam quase sempre superlotadas. Era comum as conversas andarem à volta do enredo do filme e da banda musical que foi, igualmente, um extraordinário sucesso de vendas.

O enredo contava o drama vivido por um estudante de direito, de família muito rica, que conhece e se apaixona por uma estudante de música, de origem humilde, que acabam por se casar algum tempo depois. No entanto, o pai do rapaz não aceita a nora, simplesmente pelo facto de ela não pertencer à classe social do filho, acabando este por ser deserdado.
Algum tempo depois, a moça tenta engravidar e não consegue. Uns exames médicos de rotina sugerem que algo não está bem com a sua saúde e a gravidade da doença acaba por conduzir a um destino trágico.
Quando estreou no meu país, o filme só podia ser visto por maiores de 17 anos. Situação incompreensível nos tempos actuais. Há cerca de 40 anos a situação política, social e económica era uma realidade muito diferente, pelo que o filme não teria hoje a repercussão que teve no início da década de 70 do século XX.

As nossas representações sociais e motivações sofreram uma enorme mudança desde esses tempos. Digamos que, por exemplo, no campo da representação sexual, o que era, supostamente, pornográfico em 1970 nem sequer consegue ser erótico em 2011.
Os cidadãos do meu país de hoje estão muito longe dos portugueses de 1970. Porque, como dizia Ortega y Gasset, «Nós somos nós e as nossas circunstâncias!». E o que nos era dado e imposto há 40 anos não é o mesmo nos tempos actuais. E ainda bem que assim é!

 Carlos da Gama
                   Fotos: Google Imagens         

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Palavras soltas…





As palavras são pretextos
Que esvoaçam em liberdade
E na direcção do infinito!
Recolho-as deste meu peito
Desnudadas e sem vaidade
Nas emoções que pressinto!



As palavras da minha vida
São paixão, afecto, ternura
Vento, saudade e maresia!
E há outras menos sofridas
Como horizonte e aventura
Luar da noite e luz do dia!


Palavras são gritos de alma
São murmúrios de saudades
Promessas de muitas juras!
Por vezes, com toda a calma,
Escondem outras vontades
De segredos e de aventuras!


Sendo de histórias de amor
Ficam bem mais coloridas
Como são os malmequeres!
Quando o tema é sedutor
São tuas, minhas palavras
Faz delas o que quiseres!


 Carlos da Gama
                   Fotos: Google Imagens         

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Meus versos!








Estendo o olhar e … ao longe,
Em horizontes incógnitos
Tudo surge em desalinho!
Esses contextos de assombro
Povoados de seres indómitos
São, também, o meu destino!




          Esta longa, longa ausência
          D’um tempo feito quimera
          E de emoções já esquecidas!
          Sempre incita à persistência
          Duma mágoa que passa a ser
          Raiva e fúria consentidas!


          Sonho sempre em regressar
          Ao passado que foi meu
          Conquistado com bravura!
          Tudo faço para afastar
          As longas noites de breu
          Que se inspiram na tortura!


          Sei que semeio inquietude
          Ao embalar nos meus versos
          Sons nostálgicos e tristes!
          Mas, ser verdadeiro é virtude
          Acreditem, não são perversos
          Meus versos que por aí vistes!


              Carlos da Gama
                                     Fotos: Google Imagens


segunda-feira, 4 de julho de 2011

Mulher-monumento !



Foto: Joana Carvalho


Lá estava ela, como sempre, caminhando devagar, cada vez mais curvada pelo destino, pelo passar dos anos e, sobretudo, pela canseira de toda uma vida. Se, até há pouco tempo, se esforçava por se endireitar, hoje já não justifica qualquer vontade de o fazer.
O seu olhar continua transparente e extremamente meigo. Mas parecia pedir desculpa ao mundo por estar naquele convívio que também lhe pertencia, por direito próprio. Era a festa de baptismo do seu bisneto Tiago, filho da Martinha, como, afectuosamente, gosta de a chamar.
Sempre prefere a companhia dos filhos de maior proximidade e afectos: a Tina e o Rui. E quando tal não é possível, já nada lhe corre de feição. É a este filho que dedica o maior carinho e deposita a esperança de resolução dos problemas que vão surgindo.
Se, por razões do destino, este lhe faltasse, nem que fosse por um breve tempo, a sua vida minguaria, por certo! Porque é no Rui que suporta a sua existência e partilha as alegrias e angústias.

Virgínia é o seu nome e eu tenho muito orgulho em tê-la como sogra. O seu fantástico exemplo de vida cedo despertou em mim um grande apreço, respeito e admiração. 

Um dia, já muito distante, chamei-lhe mulher-monumento! Talvez porque, já nessa altura, a considerasse merecedora de uma distinção douradora no tempo.
O termo «sogra» tem sido fortemente diabolizado nas sociedades ocidentais. Porque, normalmente, é associado a mulher rezinga, fofoqueira, inconveniente, inoportuna, demasiado omnipresente e interessada na vida privada dos filhos.
A mãe da minha companheira é, literalmente, o contrário de tudo isto. É meiga e afável, cautelosa na abordagem da vida dos filhos, preocupada com eventuais problemas, generosa quanto baste, feliz quando visitada, apesar de nostálgica pelo tempo que passa. Ao longo de quase três décadas de ligação à família, nunca lhe ouvi qualquer trejeito ou dissimulada crítica. Antes pelo contrário: a sua bonomia e serenidade denunciam e valorizam o prazer de nos ter junto dela.

Toda a sua vida foi uma constante luta pela garantia da sobrevivência do seu núcleo de afectos. A curvatura da sua coluna vertebral testemunha uma vida de sacrifício e de trabalho rude nos campos de Gemeses. Em terra de leiras generosas, pela proximidade do rio, a vida desta mulher foi de trabalho árduo de sol-a-sol e de afectos conquistados e distribuídos com o suor do seu esforço.
Após o seu casamento, favorecido pelos ares dos campos de Gemeses, foi percebendo que o companheiro, com quem escolheu partilhar a vida, apresentava uma crescente fragilidade física que o fazia mais de casa do que do mundo. Daí o ter-se convencido que teria de assumir o papel de timoneira do destino da prole que, ao longo dos anos, ambos foram gerando.
Por vezes, fico a pensar que mistério é este que leva as pessoas a optar por uma vida de extremo labor e sacrifício para que nada falte aos seus mais queridos. Que força é esta que não se extingue, qualquer que seja o esforço ou o tempo decorrido!
Numa sociedade que, cada vez com maior ênfase, baseia os seus valores no individualismo e egoísmo, este exemplo de vida é um farol de esperança em favor da humanidade. Mas, cada vez mais me convenço que as gentes do passado exibiam uma envergadura de maior entrega e generosidade pelos outros.

A minha sogra tem 86 anos. Vive numa casa confortável, com uma das melhores vistas de Gemeses. Da varanda, de generosas paisagens, o olhar estende-se pelo imenso descampado, que muda de cor à medida que as estações do ano se sucedem. Dali avista-se o serpentear do Rio Cávado, que empresta àquele local um bucolismo de sonho. 
Também ali se respira um ar puro de maresia pois o oceano, todos os dias, entra pelo rio dentro engrossando as suas águas para cumprir o ciclo das marés.
Desde há uns anos que a Senhora Virgínia foi reduzindo a actividade campestre, na exacta proporção do aumento da idade e da fragilidade do seu corpo.
O meu desejo é que o destino acrescente muitos mais anos à vida e, fundamentalmente, conceda mais vida aos anos daquela que um dia ousei chamar, com propriedade, «Mulher-monumento»!

Carlos da Gama
                           Fotos: Carlos da Gama