quarta-feira, 13 de julho de 2011

Onde está a razão, afinal?





Numa das recentes viagens pela imensa blogosfera, dei de caras com a imagem que aqui coloco e que me perturbou intensamente.
Nela podemos observar um homem, de condição visivelmente frágil, na cama de um hospital, partilhando afectos com o seu amigo de quatro patas. Porventura, na derradeira despedida do único ser vivo merecedor da sua atenção.
O meu olhar fixou-se, perplexo, em todo aquele contexto, que sugere imensas leituras e legitimas interpretações. Desde logo, inquieta profundamente o abraço entre aquele homem, debilitado pela doença, e o seu cão, de pose meiga e tranquila. Indiscutivelmente, um amigo fiel. O único amigo?

É, sem sombra de dúvidas, um retrato de grande intimidade que desperta para uma sublime amizade e genuína dedicação entre dois seres, alegadamente, de diferentes racionalidades.
O retrato sugere, de igual forma, que quando, pela velhice, passamos a ser um problema para os outros, cresce em nós um vazio de emoções, que se espalham pela penumbra dos dias, a ponto da vida deixar de ter sentido.
E apetece confirmar que, na sociedade em que vivemos, quando tudo se desmorona à nossa volta, quando os afectos humanos desaguam no mar da solidão, o recurso mais fiel e leal é o nosso animal de estimação. Isto acontece todos os dias ao nosso lado, sem qualquer sinal de embaraço da nossa alma.

São muitas as palavras e respectivos contextos que esta imagem desperta em mim: valor da vida, melancolia, solidão, final anunciado, fidelidade canina, afectos partilhados, despedida serena e final de linha. Mas, também, espera silenciosa, saudade do futuro, lealdade desinteressada, amizade pura e dedicação garantida.
Nesta autêntica balada de afectos, a postura serena daquele animal parece confirmar ao seu dedicado amigo: «Aqui estou!», «Não te abandono!» e «Conta comigo!».

Depois de «ler» esta fotografia, apetece meditar sobre a irracionalidade da espécie humana - que se arroga de ser a única portadora de racionalidade -, em esquecer os seus semelhantes quando estes apenas «dão prejuízo».
E, em contraponto, entender a razão porque o cão se liga ao homem pelos laços de enternecedores desvelos, mesmo quando este o transforma em escravo dos seus caprichos. Onde está a razão, afinal?


                Carlos da Gama
                                         Foto: Google Imagens

Sem comentários:

Enviar um comentário