quinta-feira, 21 de julho de 2016

Tempo de zarpar!



Sempre cultivei um imenso respeito pela corajosa opção de vida que desdenha da vivência aburguesada e certinha. Sempre nutri um certo enlevo pelas imagens que mostram a vida nos confins da selva, entre rios corredios, ou de águas mais serenas, e veredas luxuriantes povoadas por putos de arco e flecha. O sentimento que me invade, nesses instantes de deslumbramento, é de que, por ali, a vida tem sabor a felicidade.
Noutras circunstâncias, porém, assalta-me a dúvida sobre se esse modo de vida, de céu aberto, será, de facto, a expressão da liberdade total. Mas, pressinto que o desprezo pela vida corredia e o redesenhar dos sentidos libertam a alma, impelindo-a a navegar em quimeras de outros caudais mansos e frescos. 

A relação humana continua a ser um mistério que sempre nos sobressalta. Mormente, quando, após uma fase de ruptura natural da nossa vivência colectiva, se inicia um percurso diverso do que existiu até aí.
De início, vive-se a ilusão de que tudo vai voltar a ser o que sempre foi. Com o passar do tempo, apercebemo-nos que se estabeleceu um novo ciclo e que nada será como dantes. Porque, nunca nada será como dantes, por muito que ambicionemos.
Por vezes, donde esperamos consideração, colhemos ausência. Onde construímos celebração, passa a haver melancolia e saudade. Onde havia agregação, subsiste memória de momentos aprazíveis. 
Porque a vida é sempre uma lição, chegou, porventura, o tempo de zarpar!

segunda-feira, 18 de julho de 2016

Sonha!



Agarra as palavras...
vem comigo
ao mosaico eterno
da cidade
Abre-te para ver a nudez
da vida e os sons
da monotonia

Absorve a paz do poema
que se espraia
na maresia

Espera o tempo novo
que se desdobra
no horizonte
Constrói um futuro
ao som do vento 
até que a madrugada
desponte

Sonha!

segunda-feira, 11 de julho de 2016

S. Miguel (Açores) – o paraíso na terra!


Na primeira semana de Julho, visitamos, uma vez mais, a Ilha de S. Miguel, a maior dos Açores. Terra de lagoas imensas, de florestas místicas, de miradouros sublimes e de vales encantados, S. Miguel é uma excelente síntese do arquipélago.

Ponta Delgada é a capital da Ilha que impressiona pela sua beleza. As «Portas da Cidade», seu principal ex-libris, com as arcadas voltadas para o mar, parecem dar as boas-vindas a quem chega. 
O casario pitoresco, de ancestrais usos e costumes, cativa os visitantes logo de início. Apesar de algumas fachadas senhoriais de azul celeste ou amarelo forte, o edificado, em geral, é branco com cantarias em basalto negro.

Percorrer as estradas em S. Miguel é fruir do verde imenso, ladeado pelo azul de mar, e sentir uma fragrância agradável que as hortênsias exalam. Percursos íngremes alcançados a custo para, logo depois, fruir de paisagens e lonjuras de cortar a respiração.
Água, muita água multicolor detida por formosas lagoas rodeadas por verdejantes pastagens, paraísos dos bovinos que se amontoam nos empinados dos campos e que ignoram a nossa passagem.

 A Lagoa das Sete Cidades continua a enamorar quem a visita. O enorme espelho verde e azul merece bem a distinção das sete maravilhas naturais de Portugal. 
Apesar do nevoeiro turvar a visão, no Miradouro da Vista do Rei o espanto dos rostos é notório em todos os que admiram as águas verdes e azuis lá em baixo. A atracção é tão grande que apetece ficar por ali tempo sem fim. Mas a curiosidade desafia-nos a descer até junto das águas como que para confirmar o esplendor das alturas.

Ziguezagueando pela montanha, subimos ao ponto mais elevado da Ilha de S. Miguel, chegando à Lagoa do Fogo, imenso espelho de água cercado de muita vegetação. 
É a segunda maior Lagoa da Ilha e a mais alta, há muito classificada como reserva natural, tal o seu valor natural e paisagístico.
A caminho do Nordeste, fizemos uma pausa no Miradouro de Santa Iria para observar o eterno contraste entre a verdejante beleza dos campos de S. Miguel e o intenso azul do Oceano Atlântico. 
Dali seguimos para a mais antiga fábrica de chá da Europa (desde 1883): a Gorreana. A visita é gratuita e inclui provas de chás, visita às plantações e à maquinaria de selecção e secagem do produto.

A Lagoa das Furnas, por seu turno, pareceu-nos adormecida por entre aquele remanso verde de águas tranquilas no meio de uma luxuriante vegetação. Por ali não se sente o tempo a passar. 
As fumarolas que brotam da terra e as ferventes águas, que gorgolejam calor e espalham o forte odor a enxofre, fazem-nos cismar nos mistérios que inspiram as energias mágicas do nosso mundo natural.
A Poça da D. Beija, idílico espaço termal ao ar livre, oferece-nos um tempo para relaxar nas águas quentes que correm por diversos tanques, sempre repletos de turistas. Com água a atingir os 39º, todo o local apresenta-se bem cuidado e com excelentes condições.

Também nos banhamos na piscina natural da Ponta da Ferraria, que se forma junto das rochas durante a baixa maré. Aí, a água fria do oceano mistura-se com a água quente de nascentes termais de origem vulcânica. É um local muito aprazível onde muitos se penduram nas cordas, magistralmente presas às rochas, sendo embalados pelas ondas do mar e fruindo das qualidades terapêuticas daquelas águas termais.

Pelo entardecer, Ponta Delgada ganha uma paleta de cores macias que nos deixa a alma mais introspectiva. Sabe bem entrar nos bares para repor energias e, depois, passear lentamente pela ampla marginal a olhar os barcos de diferentes portes que transparecem uma tranquilidade dormente de fim de dia.
É quase obrigatório subir a escadaria da Baía dos Anjos para admirar a silhueta da cidade e dos montes vulcânicos que se perfilam no horizonte. É uma visão extraordinária que se obtém quando observamos o azul de mar e a perspectiva do verde ondulado mais ao longe. Mas, também, para contemplar os portentosos navios de cruzeiro e toda a faina marítima do porto de Ponta Delgada.

No último dia, tivemos a sorte de assistir à preparação do encerramento das festividades ao Divino Espírito Santo que os açorianos cultivam com um extraordinário fervor e fé. 
Este povo, que viu a sua terra sujeita, vezes sem conta, a tragédias da natureza, agarra-se a uma comovente religiosidade que lhes fornece a energia bastante para recomeçar a vida sempre que necessário.

Foram sete dias de emoções fortes de que já se sentem saudades. Mas, por certo, voltaremos um dia a fruir da admirável hospitalidade dos açorianos e a reapreciar o que de melhor existe numa ilha de beleza única e repleta de história e tradição.

domingo, 10 de julho de 2016

Biarritz

 
Uma vez mais em Biarritz. Por cá me demoro sempre que a França surge como destino de viagem. Desta vez é o regresso de alguns países que amei visitar: Bélgica e Holanda.
Adoro este local que me recebe com um tempo de boa feição. O passeio pelas margens do oceano é repleto de brisas suaves e magníficas vistas. Lá em baixo divertem-se os muitos surfistas no meio de águas cor de pérola e com um azul de mar bem colado ao horizonte.
Esta estância balnear foi, em tempos recuados, um dos principais pontos turísticos da nobreza que se alojava nos palacetes em redor da praia. 
Na actualidade, é um dos destinos mais procurados pelos amantes de surf já que a praia apresenta ondas possantes. 
Um passeio pelas ruas e avenidas desperta-nos para os vários dialectos que se fazem ouvir, com maior ênfase para o francês, espanhol e basco. 
A influencia basca é perceptível tanto na gastronomia quanto na arquitectura das casas que muito acrescenta à atmosfera elegante que a cidade desfruta. Foi, aliás, esta arquitectura que deslumbrou Victor Hugo que por aqui passou um tempo da sua vida.
Gostei de, uma vez mais, admirar toda a costa de Biarritz a partir do «Rochedo da Virgem», antigamente ligado a terra por uma ponte de madeira e hoje por uma estreita ponte metálica desenhada por Gustave Eiffel. Tudo aqui é deslumbrante!


sexta-feira, 8 de julho de 2016

S. Rodez



S. Rodez é uma cidade a que dedico afectos. Estive aqui há mais de 25 anos, quando viajava pela Europa com uma pequena tenda de campismo na bagageira do carro.
Por isso, a primeira visita que fiz foi ao parque de campismo - Camping Layoule - para matar saudades de um tempo distante … mas ainda tão perto.
Ainda lembrava bem do som das águas do rio que por ali serpenteia e da casinha branca onde ainda hoje se faz o check-in.
É impressionante como as emoções brotam tanto tempo passado. 
Olhei para o fundo do parque para adivinhar o local em que coloquei a tenda e vi os infantes a brincar por entre o verde do chão e do arvoredo. 


Rodez é a capital de Aveyron, departamento onde se encontram das mais belas criações francesas, como o Viaduto de Milau, a mais alta ponte rodoviária do mundo, com 343 metros de altura e o roquefort, famosa variedade de queijo produzido com leite de ovelhas.

A cidade cresceu muito desde então e está mais moderna. 
Gostei de revisitar um dos ex-líbris de S. Rodez, a Catedral  de Notre Dame de Rodez, de estilo gótico e construída entre os séculos XII e XVI.
Na Place de la Cité, na Place du Bourg e na Rue de Neuve podem ser vistas belas casas renascentistas entre lojas e cafés que se juntam lado a lado. Em suma: uma bela cidade a visitar!


sexta-feira, 1 de julho de 2016

Saint Flour




De regresso de Auxerre, paramos em Saint Pourçain s/ Sioulle, nas margens do rio Sioulle que aí corre apressado. Após o almoço, passamos por Aigueperse, pequena cidade fortificada rodeada por zonas húmidas o que faz jus à origem do seu nome «Aquae Sparsae», literalmente, «água por todos os lados».

No final do dia, pernoitamos em Le Cheix, uma pequena comuna do centro de França situada no departamento de Puy-de-Dôme, região de Auvergne, a cerca de 21 kms de Clermont-Ferrand.

No dia seguinte, rumamos a Saint-Flour. Já há muito que desejava visitar este município localizado entre duas regiões vulcânicas, ao lado da auto-estrada (A75) que liga Clermont-Ferrand ao mediterrâneo.
Dividida em cidade alta e cidade baixa, situa-se, por entre montanhas do maciço central francês, a cerca de mil metros de altitude, ou seja, no topo dos mais altos afloramentos vulcânicos de Auvergne. 
As vistas sobre a paisagem circundante da cidade alta são espectaculares e oferecem ao viajante a oportunidade de apreciar o lado rural da França medieval.

A Catedral de Saint-Pierre é o monumento mais importante da cidade. De estilo gótico, do século XV, a Catedral é toda construída em basalto negro. Muitos outros edifícios importantes, também construídos de lava vulcânica, podem ser admirados nas inúmeras ruas estreitas e praças pitorescas do centro histórico, tais como a «Place du palais» ou «Place d’Armes». 
Talvez este ambiente natural e histórico tenha contribuído para que Saint-Flour passasse a ser conhecida, nos nossos dias, como «região de arte e história».
Optamos por pernoitar na parte antiga, a cidade alta. 
Ao entardecer, um passeio ao longo dos portões fortificados e restos de muralhas conduziu-nos a tempos imemoriais do seu passado medieval. 
Porque a cidade deslumbra não só pela sua história e cultura mas também pelo maravilhoso cenário que se alcança no cimo das muralhas, onde uma paisagem campestre natural se desdobra diante dos nossos olhos.