quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Outono!


Joana

Tempo de silêncios. Dias longos, solitários. Melancolia que se refugia na alma. Saudade dos sorrisos luminosos. 
Outono: tempo de recolhimento sem calor maternal. Nostalgia doída bem dentro da alma. Saudade do escasso tempo em falta. Tristeza perdida na confusão.
Outono: tempo de descoberta da inocência perdida,  lá longe ... saudade do tempo em que o olhar transpirava ternura.  Vida de inquietações moldada por encontros e desencontros. Esperança derretida na amálgama da turma desalinhada.
Outono: tempo de silêncios!

quinta-feira, 6 de outubro de 2016

Arribas rendilhadas!

CG

Fonte da Telha é um povoado ribeirinho em plena Costa da Caparica. 
É uma longa tira de areia situada na base de uma falésia fóssil, de cor amarelo-pardo ou ligeiramente avermelhada, que faz barreira ao oceano numa vasta dimensão até ao Cabo Espichel. 
CG
A areia, muito compacta e de cor alaranjada, é de uma extensão a perder de vista. 
Ao chegarmos, uma surpresa: o casario, de classe média-baixa, está implantado em pleno areal e algumas casas esforçam-se arriba acima.
As pequenas construções, os cafés e bares dão um aspecto colorido a esta praia. Porém, o caótico amontoado do edificado indicia alguma clandestinidade de tempos idos.
CG
O mar, por ali, parece-se com o do Algarve com águas que se espreguiçam num vai e vem cadenciado e sereno. 

Ao amanhecer, fizemos um longo passeio, ao longo da praia, no sentido norte-sul, junto da rebentação, até à Lagoa de Albufeira. 
Apenas alguns pescadores se atarefavam na arte de enganar os peixes. 
O ambiente ia aquecendo à medida que o dia clareava e o sol a surgia no horizonte, a montante. A admiração da arriba fóssil adjacente e do manso oceano aligeiraram o esforço da caminhada, de cerca de duas horas e meia.
A arriba, que percorre todo o areal até à Lagoa de Albufeira, é de uma beleza extraordinária. 
CG
A vegetação do sopé, de um intenso verde, acrescenta frescura à arriba fóssil, da cor do ouro, rica em restos de vertebrados marinhos e que, em 1984, foi classificada como Paisagem Protegida com a finalidade de preservar as características morfológicas e geológicas do local.
Lá no alto, a arriba exibe formas singulares, caprichosamente lavradas pela erosão, de belas construções naturais semelhantes a castelos fantásticos com imensas torres de diferentes tamanhos.
O azul do mar a reflectir a abóbada celeste, a visão do esplendor rendilhado das arribas e o caminhar solitário pelo vasto areal fez desta manhã soalheira, de suave brisa, um dos mais belos momentos deste peregrinar pelo país.


domingo, 2 de outubro de 2016

Alentejo borda-d’água

(Carvalhal)

Cá estamos, pela segunda vez, na Praia do Carvalhal, imponente abertura para o Atlântico, emparedada por possantes contrafortes graníticos, característicos da costa vicentina.
Aqui chegados, o mesmo deslumbre que nos invadiu na primeira vez. São belos os montes que rodeiam este refúgio, onde o nudismo se passeia com um à-vontade que impressiona. A praia é de areia macia e o oceano exibe-se de baixa maré.

Para trás ficou a costa algarvia. Albufeira, ainda apinhada de gente, suaviza o interesse de quem ama mais o sossego e os silêncios da voz do mar.
A Praia da Rocha convida a um percurso até ao Vau, por entre arribas, que desafiam o instável equilíbrio, e grutas da cor do ouro semeadas ao longo do imenso areal.
(Sagres)
Sagres, pelo contrário, é um promontório que nos convoca à meditação sobre os recuados tempos em que o nosso país se aventurou na conquista de territórios desconhecidos. 
Por ali permanecem vestígios da Escola Náutica que formou homens de têmpera que ousaram enfrentar o medo do desconhecido para levar, o mais longe possível, o nome de Portugal.

São cerca de 9.00 horas e o sol já se faz sentir com alguma intensidade. Os veraneantes, de fim de época, vão chegando aos poucos. Não se vêm crianças, pois, já estarão atarefadas pelo regresso às rotinas escolares. Daí que a praia do Carvalhal esteja mais solitária. 
                                                                                                                    (Carvalhal)
O marulhar das águas, lá ao fundo, denuncia um azul-turquesa que dá mais brilho a este Alentejo borda-d’água.
Subi o morro do lado direito para admirar a praia lá do alto. E amei. 
As águas parecem mais serenas e os poucos veraneantes passeiam-se na admiração do mar.
Ao contemplar a paisagem bucólica, por entre um silêncio de sonho, tudo o que a alma carrega de preocupações desaparece, como por magia. Adorava permanecer neste paraíso, achado ao acaso, durante todo o tempo que o mundo tem. Esquecer o que vivemos e deixar que o pensamento voe tranquilamente pelo nosso futuro breve.