segunda-feira, 12 de outubro de 2015

A importância do futebol





A tarde já ia a meio. Acabamos de chegar às portas da cidade e não tínhamos qualquer referência onde estacionar e pernoitar. 
Avistamos um posto de polícia e parámos. Ao sair da autocaravana, percebi o olhar surpreso dos agentes que conviviam do lado de fora do posto. Dirigi-me a eles e procurei saber onde poderia estacionar. 
Já com a descontracção visível em seus rostos, fomos encaminhados para um parque próximo dali, junto ao «Centre Commercial Acima». Estávamos em Beni-Mellal, cidade situada no sopé do monte Tassemit, entre a cordilheira do Médio Atlas e a planície de Tadia.
Após um curto tempo de descanso e de estudo do local, deslocamo-nos até ao centro da cidade para perceber o seu carácter e observar o seu modo de vida. E não demos o tempo por perdido.
A medina, no coração da cidade velha, tem a feição de outras cidades e vilas marroquinas: ruas estreitas e escuras sempre cheias de gente e onde se vende de tudo um pouco. 
Impressionou-me a pobreza de algumas bancas que apenas vendiam pequenas porções de peixe frito e outras ninharias culinárias expostas ao sol e ao imenso pó levantado dos caminhos de terra pelos transeuntes. 
E, mesmo esses humildes locais de venda, tinham clientes que, por uns escassos dirhams, matavam a fome.
São ruas onde não existe o conceito de higiene, sobretudo, nas bancas de peixe e de carne, onde as moscas se passeiam aos magotes sem qualquer manifestação de incómodo, quer por parte dos vendedores, quer dos compradores. O mesmo acontece nas bancas de venda de pão, muitas vezes colocado em pilhas nas soleiras das portas para cliente ver, apalpar à vontade e levar aquele que melhor satisfaz a sua mirada.
Considerada uma das cidades mais importantes do centro de Marrocos, Beni-Mellal é, também, uma cidade histórica e moderna, com o seu castelo de quatro torres rodeado de amplos jardins e fontes.
Ao cair da noite, fomos abordados por dois jovens que manifestaram simpatia pelo facto de sermos compatriotas de Figo, Coentrão e Ronaldo, ícones do futebol mundial. Brindaram-nos com dois postais ilustrando as melhores vistas da cidade e neles colocaram os respectivos telefones na eventualidade de virmos a precisar enquanto aí estivéssemos. Este episódio ilustra, na plenitude, a importância do futebol para as relações de amizade entre os povos, por mais distantes que sejam.

domingo, 11 de outubro de 2015

Por que viajamos


«Nós viajamos, em primeiro lugar, para nos perdermos; e, em seguida, viajamos para nos encontrarmos. Nós viajamos para abrirmos nossos corações e olhos e para aprendermos mais sobre o mundo do que aquilo que nos é noticiado pelos nossos jornais.
Nós viajamos para trazermos um pouco do que pudermos, em nossa ignorância e conhecimento, daquelas partes do globo nas quais os ricos estão diversamente dispersos. E nós viajamos, em essência, para nos tornarmos jovens tolos novamente - para diminuir a velocidade do tempo e absorvê-lo, e nos apaixonarmos mais uma vez.»
Por que viajamos – Pico Iyer

quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Versos inquietos







Emergem flores aos molhos
No rio dos meus desejos
Para escrever em teus olhos
Poemas quentes de beijos!

Por vezes a vida emudece
Com a razão em ruptura
Ai, a teia que o tempo tece
Em desordem com a ternura

Ó memória terna de afectos
O tempo moeu-se em instantes
Subsistem versos inquietos
Mas nada será como dantes!