quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Tempo de pousio ...





Mozart, Beethowen, Vivaldi ou Wagner? Apenas confirmo que a música clássica, que brota da Antena 2, é duma pureza e harmonia que me envolve por inteiro. 
Está uma manhã levemente molhada por uma chuva miudinha, nativa de um céu cinzento. Não há vento a remexer as escassas folhas do plantio em redor, nem vivalma a deambular pelo povoado.
Ao largo, o rio corre, taciturno, para poente, cintilando à superfície e reflectindo a penumbra bucólica de águas pardacentas, bordadas pelo verde dos campos e pelo escasso casario de cores mortiças.
O silêncio desta pitoresca paisagem empurra-nos para um estádio de alma onde a melancolia da memória se desfaz em horizontes de esperança.
É, sempre, para cá que regresso, quando a saudade busca os afectos que desejamos partilhar. 
É por aqui que liberto as inquietações na expectativa de que se embalem nas águas, até à foz, e se dissipem pelo largo oceano. 
É aqui que procuro moer as vicissitudes que a vida sempre nos reserva.
O inverno é um excepcional tempo de vigília e de ausências. É o tempo de pousio onde se estruturam as utopias que dão sentido à vida. É, também, um tempo de introspecção sobre os caminhos já percorridos. É neste tempo que semeio sonhos e aventuras, a concretizar em dias luminosos de primavera.
Os sons dos clássicos acompanham-me por entre as sombras desta época sugerindo uma paz inquietante e nostálgica. Talvez porque a nostalgia é um mar que amo navegar.


sábado, 2 de janeiro de 2016

Valeu a pena!

A rádio «nostalgia» debita melodias com mais de quatro décadas, nesta tarde cinzenta e frágil do último dia do ano. Nostalgia positiva é, também, o estado anímico de que estou investido, postado na margem direita do Cávado, em Esposende.
Google Imagens
Ao estender o olhar pelo estuário verde, que se alinha à minha frente, uma série de pensamentos, vindos de longe, emergem na minha alma. Quase todos feitos de saudade dum tempo que está a findar. Apenas alguns de estupefacção pelas histórias surpreendentes e inesperadas em que me vi embrulhado.
2015 foi, por certo, um ano atípico na minha vida. Quando me achava lançado numa estrada de contornos previsíveis e de metas alcançáveis, tudo se altera a certo momento. Habituado a navegar em mansos rios de afectos, é por aí que, no início do ano, se concentra o esforço para não perder o rumo que sempre norteou a minha vivência. Tudo foi feito para que esse ambiente sadio se transformasse em cimento de emoções perenes.
2015 foi, também, um tempo de fresca saudade. Por muito que se encare com naturalidade os ciclos da existência humana, não é fácil perder a referência maior. Não é fácil!
Por último, 2015 foi de abertura de uma confidência que já o não era há muito, muito tempo. Mas, o impulso que me chegou, há alguns dias, foi a constatação de que o ser humano tem fragilidades que o tempo sempre acabará por conferir. 
Há muito que a ébria efabulação de um dos nossos, que só em parte nos pertence, era do conhecimento do interessado. Mas esse facto fora sempre ignorado no seio da turma em nome da sagrada dignidade da fonte de ternura e afectos e, mais proximamente, da memória de saudade que se espalhou como um estigma insanável.
A serenidade perante certas histórias da vida real, que nos prende a existência como humanos, vale pelo que ganhamos em afectos e sorrisos. E, apesar de tudo, acho que valeu bem a pena!