sábado, 30 de outubro de 2021

Astorga

 








Das muitas viagens rumo ao centro da Europa em que tínhamos que atravessar Espanha, Astorga ficou sempre ao lado. Desta vez, a cidade estava no roteiro de um périplo pela Galiza, Astúrias, Cantábria e parte da Província de Leão.

E foi uma agradável surpresa esta cidade milenar que, já no séc. III, assume estatuto de sede episcopal, marcando-a nos séculos posteriores.

Rivalizando com Bracara Augusta (Braga), a «Astúrica Augusta» (Astorga) é uma das mais extensas, ricas e antigas dioceses de Espanha, cuja jurisdição abrange cerca de metade da Província de Leão e parte de Ourense e Zamora.

Com uma boa parte da muralha intacta, Astorga mostra-se numa pequena elevação com vistas largas sobre o horizonte. 

O seu casco histórico é magnífico, pontificando a Catedral como ícone principal numa cidade em que a semana santa emerge como um dos principais eventos culturais, religiosos e artísticos de toda a Espanha.

O Palácio Episcopal, que sofreu um incêndio destrutivo em 1886, foi projetado pelo ícone da arquitectura mundial, António Gaudi, em estilo modernista e neogótico, é um dos monumentos mais visitados pelos turistas.



CG


domingo, 24 de outubro de 2021

Narciso

 

«É a angústia que gera a arte»

Paul Auster


















Já há uns bons tempos que vos apresento Narciso nas suas deambulações pelas memórias da vida.

É um tipo deveras singular, que incorpora um certo encanto do passado em contraponto com o persistente desassossego em relação ao futuro.

Sempre admirei este personagem franzino e de temperamento surpreendente. Admiro-lhe a temperança com que enfrenta a vida, sobretudo, nos últimos vinte anos.

Daí que continue a relatar as aventuras distantes e os portos de abrigo que foi descobrindo, amando e menosprezando.

Na senda do que profetizou Paul Auster, também Narciso necessita regressar, de quando em vez, à nostalgia do silêncio para transmitir as emoções quentes que tomam conta dele. Sobretudo, no outono da vida e das estações.

É fácil perceber esse estado de espírito, quando o recordo a caminhar, ensimesmado, pela orla da rebentação do oceano, com os pensamentos a tira-colo e o olhar fixo nos horizontes passados e futuros.

O Narciso era interiorizado até à medula e o convívio com ele não era fácil. Entediava-se com conversa fiada e, por vezes, tornava-se antipático com o seu interlocutor, principalmente, quando o assunto roçava a banalidade.

Como companheiro de jornada, foi sempre de uma cumplicidade extrema. E deixa saudades as incontáveis horas sonhadas a palrar sobre a vida, a contornar obstáculos e artimanhas dos «amigos da onça» e, mais recentemente, o tempo gasto na preparação, ao milímetro, de viagens vividas com eufórico entusiasmo.

Nos últimos anos, ocupava muito do seu tempo no estudo da ciência que mais o fascinava, a astronomia.

Percebia-se que andava confuso com o novo mundo revelado pela ciência, que faz tábua rasa das bases civilizacionais em que toda a humanidade tinha navegado ao longo dos séculos.

Mas gostava sempre de eleger para si a frase de Di Luchese:

«(...) quero morrer quando a fascinação não mais me surpreender (...)».

CG 

 

quinta-feira, 21 de outubro de 2021

A um moribundo

 



Não tenhas medo, não! Tranquilamente,

Como adormece a noite pelo Outono,

Fecha os teus olhos, simples, docemente,

Como, à tarde, uma pomba que tem sono...

A cabeça reclina levemente

E os braços deixa-os ir ao abandono,

Como tombam, arfando, ao sol poente,

As asas de uma pomba que tem sono...

O que há depois? Depois?... O azul dos céus?

Um outro mundo? O eterno nada? Deus?

Um abismo? Um castigo? Uma guarida?

Que importa? Que te importa, ó moribundo?

- Seja o que for, será melhor que o mundo!

Tudo será melhor do que esta vida!

                                                         Florbela Espanca





sábado, 16 de outubro de 2021

Oviedo

 



Já há alguns anos que sonhava visitar Oviedo, tão só, porque um amigo de tempos recuados era dali e falava da sua cidade com entusiasmo e paixão. 

Nas inúmeras deambulações pela costa setentrional de Espanha, Oviedo ficou sempre ao lado.





Oviedo é a capital do Principado das Astúrias, conhecida pela sua qualidade de vida e pelo rico e variado património histórico, de que se destaca a Catedral de San Salvador, cuja construção foi iniciada no séc. XIII e que contém uma mistura de elementos pré-românicos, românicos, renascentistas, barrocos e góticos.

A cidade oferece inúmeros parques verdes, é polvilhada por dezenas de estátuas,, quer de celebridades da cultura, quer de personagens folclóricos e recebeu, mais de uma vez, o título de cidade mais limpa da Espanha.




Sobre a impressão que Oviedo deixa ao visitante, nada como transcrever o que sobre ela escreveu o cineasta Woody Allen, após aí receber o maior prémio concedido na Espanha, o prémio Príncipe das Astúrias, na categoria Artes: «Uma cidade deliciosa, exótica, bonita, limpa, agradável, pacífica, para pedestres. Algo como saído de um conto de fadas».



CG


quinta-feira, 14 de outubro de 2021

Las Médulas

 




É uma paisagem mágica e idílica aquela que nos surge quando chegamos a Las Mèdulas. A pouco mais de 20 quilómetros da cidade de Ponferrada, Província de Léon, surgem pináculos de terra vermelha e ocre que interrogam de espanto o viajante.

Uma investigação rápida ao google dá conta que aquela paisagem fantástica é o que restou de uma montanha modelada por cerca de 200 anos de exploração mineira a partir do séculos I da era cristã.



São, provavelmente, das maiores minas de ouro a céu aberto do império romano. Aí está demonstrado o génio dos romanos na península ibérica ao ensaiarem uma técnica original de captação de ouro, há mais de dois mil anos, que consistia em escavar cavidades na montanha que eram depois enchidas com água com o objetivo de criar suficiente pressão para fazer explodir a montanha.

Os restos do que ficou, após a exploração aurífera dos romanos, é uma paisagem de terra avermelhada em relevos e de floresta povoada por centenários castanheiros e carvalhos com enormes troncos de formas estranhas e retorcidas que, com o contraste da cor verde da sua folhagem e o dourado das montanhas, empresta um toque exuberante à paisagem.




Declarado como Património Mundial da Humanidade pela UNESCO devido à sua beleza e interesse cultural único, Las Médulas são visitadas por milhares de turistas, sobretudo nos meses da primavera e do outono.

CG




terça-feira, 5 de outubro de 2021

Monforte de Lemos

 



Monforte de Lemos é uma pequena vila onde se pensa ter nascido Inês de Castro no ano de 1325 e que fez parte da corte de D. Constança de Aragão quando esta foi a Portugal casar-se com o Infante D. Pedro, filho do Rei Afonso IV. A relação amorosa entre o Infante e Inês de Castro e a sua morte cruel transformou-se no mais famoso e trágico caso de amor da história portuguesa.
Monforte recebeu-nos com tempo morno, apesar da teimosia das nuvens em não deixar o sol brilhar em toda a plenitude. Caminhar pelo seu centro histórico é respirar uma atmosfera de tempos recuados, de pujante e bem restaurada arquitetura medieval desenhando ruas estreitas e empedradas para a vida. E foi essa a razão principal de ter sido declarada como bem cultural de interesse.





Todo o conjunto arquitetónico da Casa do Condado de Lemos é imponente e eleva-se sobre um pequeno promontório donde se avista uma paisagem deslumbrante, com a cidade dispersa a seus pés, num arco de 360 graus.
O palácio da Casa de Lemos, original do século XIII, conserva parte das muralhas originais. Também a Torre de Menagem, da mesma data, e todo o casario e monumentos que lhe estão próximos testemunham a importância que Monforte de Lemos alcançou em séculos passados. Daí avista-se o convento das Clarissas e o Colégio de Nossa Senhora da Antiga.
A cidade é banhada pelo Rio Cabe que é atravessado pela Ponte Velha, construção do século XVI, em pleno casco urbano.




CG