quinta-feira, 21 de outubro de 2021

A um moribundo

 



Não tenhas medo, não! Tranquilamente,

Como adormece a noite pelo Outono,

Fecha os teus olhos, simples, docemente,

Como, à tarde, uma pomba que tem sono...

A cabeça reclina levemente

E os braços deixa-os ir ao abandono,

Como tombam, arfando, ao sol poente,

As asas de uma pomba que tem sono...

O que há depois? Depois?... O azul dos céus?

Um outro mundo? O eterno nada? Deus?

Um abismo? Um castigo? Uma guarida?

Que importa? Que te importa, ó moribundo?

- Seja o que for, será melhor que o mundo!

Tudo será melhor do que esta vida!

                                                         Florbela Espanca





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