Leio
o Torga nos seus Diários XV. Tem quase oitenta anos e expressa-se numa
invejável vitalidade literária.
No
entanto, as suas letras e versos caminham paulatinamente de encontro à
finitude, que antevê muito próxima. Sente-se o cansaço duma vida de braço dado com a inquietude.
Torga
vestiu sempre uma fisionomia austera. No entanto, à medida que se aproxima do
fim, como com quase todos os idosos da nossa praça, acrescenta severidade e
rigidez ao semblante.
Sempre
me interroguei da razão dos velhos exibirem, quase sempre, rostos tristes e
melancólicos.
Parece
que a luz da vida desaparece com a idade, cedendo lugar à penumbra. O
pensamento rápido e a memória prodigiosa vão dando lugar ao esquecimento. A
solidão substitui a algazarra festiva doutros tempos, o olhar fica mais fixo em
horizontes esvaziados de sonhos e a chama da vida vai-se apagando lentamente.
Há um tempo para tudo. E a
velhice é o tempo do fim. Do esmorecer da esperança e da certeza de que a vida
não é perene. E disso damos conta, sobretudo, após vermos partir os nossos
afectos maiores. Pois é quando ficamos sem chão!