terça-feira, 14 de março de 2017

O esmorecer da esperança ...







Leio o Torga nos seus Diários XV. Tem quase oitenta anos e expressa-se numa invejável vitalidade literária. 
No entanto, as suas letras e versos caminham paulatinamente de encontro à finitude, que antevê muito próxima. Sente-se o cansaço duma vida de braço dado com a inquietude.
Torga vestiu sempre uma fisionomia austera. No entanto, à medida que se aproxima do fim, como com quase todos os idosos da nossa praça, acrescenta severidade e rigidez ao semblante.
Sempre me interroguei da razão dos velhos exibirem, quase sempre, rostos tristes e melancólicos. 
Parece que a luz da vida desaparece com a idade, cedendo lugar à penumbra. O pensamento rápido e a memória prodigiosa vão dando lugar ao esquecimento. A solidão substitui a algazarra festiva doutros tempos, o olhar fica mais fixo em horizontes esvaziados de sonhos e a chama da vida vai-se apagando lentamente.
Há um tempo para tudo. E a velhice é o tempo do fim. Do esmorecer da esperança e da certeza de que a vida não é perene. E disso damos conta, sobretudo, após vermos partir os nossos afectos maiores. Pois é quando ficamos sem chão!

2 comentários:

  1. Este post e esta longa ausência.... Será que perdeu alguém que lhe era querido? Se for o caso, os meus sentimentos Carlos. E que reencontre a alegria de estar vivo.
    Abraço apertado
    Ruthia

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    Respostas
    1. Obrigado, Ruthia.
      Esta estrada, que percorri nos últimos anos, ainda não chegou ao fim, não! Estou, tão só, a atravessar um período menos bom que, como tudo na vida, há-de passar um dia destes.
      As suas amáveis palavras têm o condão de me despertar de um tempo de chumbo para a luz do dia. Oxalá seja mais cedo que tarde!
      Abraço
      Carlos

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