quinta-feira, 31 de maio de 2012

Aqui!




Junto da catedral
dos sonhos de uma vida
normalizada.
Perto de uma voz
emudecida
mas não calada!
Nostalgia de vento
que transporta
versos frescos do relento.
Vida sem norte
plena de brisa
do vento forte
que deambula sem sorte!
Caminho lentamente
perto da felicidade
que desmente
esta espuma sem idade!
Sorrisos ténues de dor
que se faz todos os dias
numa orgia multicolor
com cheiro a malvasias!
Sempre esta incógnita
que trespassa o imaginário
duma continua fé indómita
deste  gesto solidário!
Sensaboria de rotinas
com passagens serenas
por águas puras cristalinas
que escorrem pelas arenas.
Aqui!

Carlos da Gama

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Nada é de borla…



Ao som de baladas musicais que embalam estes silêncios salgados, os dias que ficaram para trás moldam o futuro próximo.
O ciclo do tempo é veloz quando sentimos que os dias passam muito lentamente, enquanto os anos se vão apressados. Impressiona, mesmo, esta injusta vertigem da existência humana. 
Ainda ontem eu vagueava, atónito, por entre as palhotas do interior da Guiné-Bissau na vivência de um tempo de calafrios e de medos contidos por intervalos de uma guerra injusta e imbecil.
Foto: Carlos da Gama
E, hoje, dou-me conta que já passaram quase quarenta anos desde que coloquei os pés emocionados no asfalto do aeroporto de Lisboa. 
Não foram por acaso as lágrimas que atraiçoaram uma exigida coragem militar, em face do regresso ao conforto dos afetos da família. 
Mas há momentos em que as emoções são mais fortes que o esforço de contenção!
Depois… foi um cavalgar sereno, mas determinado, pela escolha da mãe dos meus filhos, pelo percurso destes, desde o nascimento até ao dia em que as emoções escorreram pela alma, ao assistir ao seu orgulhoso terminar do percurso universitário. 
Ou seja, até ao recebimento da «Carta de Alforria» ou, como muito bem definiu a reitora de um dos pólos universitários, a «Carta de Navegação» que lhes permite o domínio de ferramentas na condução do barco das suas vidas por rotas sonhadas ao longo dos anos de aprendizagem. Na convicção de que nada é garantido sem esforço!

Carlos da Gama

Cerveira é …


Foto: Carlos da Gama




(...) Descobrir na montanha o símbolo da natureza protegida!

(...) Rio que escorre de Espanha trazendo saudades das águas quentes que se ficaram por lá!

(...) Socalco de artes que se perpetuam em cada biénio, como seiva de cultura embrenhada na província mais remota!

(...) Princesa do Minho que acolhe as suas águas numa vaidosa margem que se enche de esculturas de alguns artistas para fruição de todos.
  
Cerveira é calma, paz e serenidade quando o sol nos entra pela alma dentro!

Carlos da Gama

terça-feira, 29 de maio de 2012

Bom (cão)panheiro!


Foto: Carlos da Gama




Daqui avista-se uma grande roda vermelha, com listas brancas, presa a um poste de madeira de frente ao mar.
Sinal de que se iniciou a época balnear e de que a praia é vigiada.
Nesta manhã, de sol transparente, apenas os velhos fazem a sua caminhada lenta, beneficiando do iodo que se desprende das águas e das algas, ou ficam sentados em qualquer local a olhar o horizonte azul de mar. Talvez, absorvendo o ar puro desta manhã plena de maresia.
Lá ao longe, junto das rochas onde o mar se transforma em algodão branco, o Kiko experimenta a vivência matinal com o mar por companhia maior.
Foto: Carlos da Gama
Viajou pela primeira vez na Micha, numa tentativa de que se habitue a outras andanças e molde o seu comportamento como vigilante atento. 
Mas parece ser um erro de casting: se a sua fúria se liberta em latidos estridentes, assustando qualquer transeunte menos atento, teima em não largar a companhia dos donos, quer durante a noite, quer durante o dia.
Quando chega a hora da caminha, exige, de forma determinada e insistente, a partilha do mesmo leito, apenas tolerando na acomodação aos pés dos donos.
Se, por acaso, fica um pouco só, faz questão de destruir tudo o que alcança, numa miserável chantagem que tem conseguido vencer.
É um cão atento ao que se passa à sua volta, não permitindo a aproximação à Micha de qualquer ser vivo  que não seja por bem. Mas, paralelamente, faz questão de não permanecer só, por pouco tempo que seja. Por vezes, torna-se um tormento difícil de aguentar este mal disposto carente de afagos!
Neste momento, deleita-se com a sua dona preferida a olhar o mar. Quem sabe o que lhe vai no pensamento ou no instinto felino. Apesar de tudo, tem sido um bom (cão)panheiro!

Carlos da Gama

Perto do coração!


Foto: Tonicha




De novo … junto do mar. O meu espaço de conforto!
É aqui que estendo o olhar pelo azul de mar. É aqui que ouço o repetido rumor dos silêncios. É aqui que sinto a liberdade correr ao meu encontro. É aqui que o pensamento se espraia numa extensão a perder de vista! É aqui que me sinto em casa. De verdade!
Está um belo dia de sol que aquece o ânimo e faz esvoaçar o pensamento. Para trás, deixo meus afetos repartidos por Paris e Braga. 
Aquele, faz a sua primeira incursão para outro país no cumprimento do seu trabalho na arte de arquitetura. Espera-se que uma porta mais larga se abra à sua frente, já que o país onde nasceu não oferece oportunidades de crescer nesse domínio. Oxalá assim seja, porque bem o merece!
Em Braga, lá continua a mensageira de cuidados e afetos. Sempre sorriso e bonomia dirigidos aos mais carenciados de cuidados do corpo e da alma. Porque, quase sempre, a palavra é a ferramenta mais necessária nos cuidados de saúde. Oxalá continue a amar a nobre atividade de cuidadora das fragilidades humanas.
Se a nossa vida tem algum significado, ele está espelhado no orgulho sentido pelos rebentos que criamos ao longo das últimas três décadas. Até que é chegado o tempo, de excessiva nostalgia, do os ver navegar, enquanto os seus progenitores voltam à estrada para um novo percurso de maior proximidade da natureza e de descoberta de diversos povos e gentes. Mas sempre com os afetos perto do coração. Sempre!

Carlos da Gama

domingo, 27 de maio de 2012

Luzeiro

Foto: Carlos da Gama



Farol …
Luz de esperança
rodando em busca de náufragos!
Luz viva de inquieta
insegurança!
Tábua a que me agarro
com aconchego.
Promessa de pé firme
neste turbulento rochedo
que desfalece
perante um olhar
que enternece!
Começo de um
novo caminho.
Passo a passo a campanha
chega ao seu destino!
Há intervalos de lucidez
nos deuses que
acompanham a vida!
Luzeiro de luz revisitada
que cativa!
Farol que reluz de
memória proibida!
Carlos da Gama

sábado, 26 de maio de 2012

Rituais de fumos …




Finisterra …
Que dizer deste cabo altaneiro e de puro assombro na sua grandeza? Simplesmente, deslumbrante! Aqui, ouve-se o rumor do mar com os olhos de caminhante!

Uma sensação de total liberdade percorre a alma ao chegar: pelo desassombro, pela magia, pelo olhar que se deleita pelo imenso azul e pelas liturgias dos caminhantes que ali se alimentam de paz, silêncios e meditação. Porque a imaginação não é mais do que a forma como trabalhamos a memória!
O promontório é gigantesco. E, por certo, se Camões fosse galego diria que aqui é «onde a terra acaba e o mar começa!».
Deste lugar sedutor, avista-se uma paisagem de sonho em que apetece ficar para sempre!
Lá em baixo, muito ao fundo, o azul quase embriaga. Uma imensidão de água que se estende até ao infinito. O imenso lago que se mexe e remexe numa inquietude que impressiona. Onde apetece ancorar para espairecer da vida, para refrescar a alma e repensar o futuro.

A terra pintou-se de azul nas suas profundezas e de um verde misturado de amarelo nas alturas de um corpo feito de ventos de magia.
Em Finisterra ganha-se, com maior nitidez, a noção de abismo espalhado pelo azul de mar da dimensão do céu.
Mesmo em tempo de chuva e de algum desconforto da atmosfera, o promontório acolhe-nos sem incomodar.
É, também, um local de fumos que se denunciam pelo rochedo. Uns, menos ortodoxos, são resultado dos tempos modernos de dependências várias. 
Outros, são a continuidade das tradições ancestrais em que os caminhantes, após longo esforço, queimavam as vestes suadas pelo cansaço. Apesar de tudo, o Cabo Finisterra cativa pela magia que incute na alma do visitante. É muito bom estar aqui!

Texto e fotos: Carlos da Gama

Desabafo

Foto: Tonicha







Sempre que escrevo,
é de um retrato
que trato.
Por estes dias,
pelo amanhecer,
o amarelecido papel
recorda o suicídio que
continua a ser a
opção de viver!

           Quantos anos de teimosia,
           quanta ternura ignorada,
           quanta alegria contida!
           Quanta paz requerida
           no tempo que resta
           nesta lúgubre madrugada!


           Há uma miragem
           que permanece.
           Há uma fuga
           que entontece!
           Queiram os deuses
           que não seja tarde
           neste relento que arde.
           A aragem fresca que procura
           esta dádiva que perdura
           e que anuncia:
           - Há vida para além da vida!

Carlos da Gama

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Pozas calientes de Outariz


Numa recente viagem pela Galiza, começamos por visitar a cidade de Orense e, particularmente, as águas quentes de Outariz.
O GPS foi fiel às coordenadas previamente inseridas e pelo meio-dia já estacionávamos a Micha na margem esquerda do Rio Minho, que se serpenteia longamente por terras galegas até se afogar no mar de Caminha.
Após o almoço, rumamos às célebres «pozas calientes» para experimentar um banho de cerca de 40º, quando a temperatura atmosférica desse dia rondava os 16º. 

Foto: Carlos da Gama

Depois de uma entrada a custo, pela diferença térmica sentida, apetecia não mais sair dali, tal o conforto oferecido pelas quentes águas termais. Uns chuviscos frios, que nos visitavam de quando em vez, faziam crescer a vontade de ali permanecer a fruir de um ambiente de excelência.
As Pozas Calientes de Outariz são uma dádiva da natureza, descobertas e tratadas pelos romanos e preservadas até aos nossos dias como águas termais de usufruto gratuito pelos cidadãos. Possui vestiários e as suas águas, que são indicadas para tratamentos de reumatismo e artrite, tem uma temperatura de 60ºC na nascente.
O município de Orense preserva aquele espaço com um cuidado exemplar. Nas cerca de três horas que ali permaneci, o técnico da autarquia fez uma contínua vigilância, quer do espaço, quer da temperatura das águas, para além de prestar todas as informações requeridas pelos utilizadores.
E ali, olhando para aquele espaço de fruição popular, veio-me à ideia que se fosse no meu país o uso daquele benefício seria bem pago. Está, pois, de parabéns o Município de Orense pela aposta que faz na qualidade de vida e da saúde dos seus munícipes.
Pozas Calientes de Outariz – (GPS: N42.34817 W7.91240).
Carlos da Gama

sexta-feira, 18 de maio de 2012

«Há fogo em Laúndos!»



O percurso matinal de hoje pela marginal, num esforço saudável do lento pedalar, foi aquecido pelo sol que mantém um verão teimosamente acolhedor.
A descoberta da parte mais antiga de Aver-o-Mar é surpreendente. As praias desertas de veraneantes são vigiadas pelos velhos que parecem olhar o mar com a nostalgia e saudade. Enquanto que as gaivotas se juntam numa irmandade aguardando o momento certo para se fazerem ao mar. 

O monte de Laúndos lá continua sobranceiro sobre toda esta rica região da Póvoa. É um local ermo de romaria, onde um filho da terra, que fez fortuna no Brasil, investiu a sua fé no embelezamento do santuário.

Mas é, também, uma das mais temerosas memórias de infância da minha companheira de afetos: o avistamento de fumo no monte de Laúndos.
Recordações de medo que o fogo de longe pudesse percorrer a distância de mais de vinte léguas e atingir a terra da Senhora do Lago, onde residira até à idade adulta.

Como ícone de memórias de infância, pelo ateamento de fogo que se anunciava ao longe, é também o local de memórias de picnics familiares e de esperanças de novos rebentos que dariam continuidade ao ADN coletivo.
A partir dessas felizes memórias de afetos, deixou de haver «fogo em Laúndos»!
Carlos da Gama

 Imagem do Google

À custa dos cidadãos!


 
Nem por acaso! De repente, surge a necessidade de adquirir um antibiótico para fazer face a um problema de saúde que se repete de quando em vez. Estamos longe de casa. Chegamos há cerca de vinte e quatro horas gozando o sol que se segue a uma semana de forte chuva e de tempo frio.
A noite foi gelada e balanceada pelos fortes ventos e pelo marulhar das ondas deste mar buliçoso. Toda a noite senti a fúria da chuva a castigar o nosso confortável abrigo. Está alteroso este mar do norte!

De manhã, fizemos um percurso breve pelo conjunto mais tradicional da vila. Um casario a bordar a marginal e a separar os campos do sustento. Após o almoço, aventuramo-nos a caminhar junto da rebentação durante cerca de duas horas. De súbito, as ondas surgiam fortes, obrigando a uma fuga apressada, nem sempre conseguida, para terreno seco e seguro. 
Chegados ao conforto da Micha, eis que se torna mais exigente a procura de uma farmácia para adquirir o tal fármaco. Mas foi um esforço inglório. Só mediante a receita médica é que seria aviado o tal medicamento.
É vil esta forma de como algumas profissões capturam a liberdade de opção por parte dos doentes.
Ninguém duvida da necessidade do apoio médico na ajuda à resolução de alguns problemas psicossomáticos. Mas é um embuste esta necessidade da sua prévia autorização para se adquirir um simples antibiótico.
Faz bem o atual Ministro da Saúde quando enfrenta este poderoso lobby médico exigindo que as prescrições de medicamentos passem a ter de incluir a Denominação Comum Internacional (DCI) do respetivo princípio ativo.
É tempo de, também nesta matéria, o país deixar de vez algumas práticas próprias da Idade Média por exclusivo interesse de uma das classes mais privilegiadas deste meu país. À custa dos cidadãos!

Carlos da Gama


Imagem do Google

Instantâneos



Foto: Carlos da Gama


Estou sentado junto à Micha a escrever estas palavras com o mar por companhia.
Interrompo a escrita para olhar a deslumbrante paisagem que me está defronte: um traçado de areia ladeado por uma contínua ebulição de prata. Mais ao longe, um azul de calmaria enche-me da sensação de paz.
Por momentos, algumas dezenas de gaivotas prendem-me a atenção. Estão perfiladas, na guarda do momento de despertar em voo rente ao mar, na busca do seu sustento.
Um pouco mais distante, uma jovem caminha lentamente pela zona da rebentação, de olhar fixo na areia, com o que à descoberta de um qualquer tesouro perdido entre as carcaças dos moluscos marinhos.
Estar perto do mar é sentir a vida a respirar junto da mais deslumbrante paisagem deste nosso planeta.
Carlos da Gama

quarta-feira, 16 de maio de 2012

madrugadas de bruma ...



Foto: Carlos da Gama

Ai esta ansiedade que sonhei banida
Sempre a exibir um carácter sinuoso
Parece um ser errante, porque vestida
De vento vadio, por vezes impetuoso

Quando, enfim, abandonei o tempo
Duma letargia que se fez destino
Soltei a alma, corri contra o vento,
Como se fosse o tempo de menino

Ignorando de vez as saudades da partida
Transportei silêncios de mil cores frugais
Como errante pela aventura da vida
Por entre verdes campos de canaviais

Na busca de um refúgio para os sonhos
Dei com o tempo cismando endiabrado
Furtivas mágoas e sonhos medonhos
E de toda a angustia que traz o passado

Permanece, ao longe, já adormecida
A irracional pertença a uma alcateia
Se existiu nostalgia, ela virou cantiga
Como serenata em noite de lua cheia

As saudades que emergem da ternura
Que outrora fizeram meus dias amenos
São da voz do mar quando murmura
Nos areais de luz onde permanecemos

A magia que se adivinha no horizonte
Viaja nos murmúrios feitos pelo vento
As madrugadas de bruma são uma ponte
Que liga todo o céu do meu firmamento

Carlos da Gama 

Amizade ...




Imagem colhida no sitio: http://a-casa-da-lapa.blogspot.pt/