segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

É assim que me sinto hoje!



CG

 Que bela melodia vem deste dia ensolarado de Fevereiro. Que vontade de ir para junto do mar e caminhar perto dele numa solidão de fragrâncias festivas. 
Que ânsia de correr pelos prados verdes de um destino previsível. Que desejo de levar a saudade a tiracolo e correr paisagens e linguajares de outras latitudes.

Quando o inverno nos surge morno e fresco, vestido a luz do sol, saberemos que não tardam os dias longos de florida primavera. E, se os sons épicos de um piano próximo nos faz sonhar, sentimos na alma o que um dia Winston Churchill escreveu: «Somos donos do nosso destino, somos os capitães da nossa alma». 
É assim que me sinto hoje!

domingo, 19 de fevereiro de 2017

Um destes dias tive um sonho

CG



«A única coisa que leva da vida é a vida que você leva»
Davi Calvacanti

O sonho é «uma constante da vida», tal como canta Manuel Freire. E a utopia que lhe enche a alma persegue-nos desde que tomamos conta de nós.

Mas é na adolescente-juventude que o mundo se revela uma conquista deslumbrante. Tudo é descoberta. Sonhamos com contextos platónicos e projectamos neles a força do destino.

Há o sonho da feliz união a dois, a que se segue o sonho de gerar os filhos mais predilectos do mundo, o da carreira profissional sustentada, o da longevidade dos nossos maiores, o das viagens adiadas e muitos mais sonhos que nos empolgam e dão força ao equilíbrio emocional perante as adversidades da vida.

Mais lá ao longe emergem desencantos, impensáveis desenganos, oportunidades perdidas e contrariedades imprevistas. E tudo isto, porque a vida vai-se transformando numa contínua despedida das pessoas e coisas que amamos desde o nascimento. E aí, sentimo-nos mais sós numa caminhada de ilusões de que se avista o epílogo.

Chegamos à idade madura e sentimo-nos algo cansados pela espera interminável da ambição de uma felicidade total, apesar do mundo seguro que fomos construindo. Mas o sonho continua a iludir-nos com um amanhã «de sonho». E a vida habitua-se.

Um destes dias tive um sonho. Porém, não me lembro de me ter encontrado nele.


domingo, 12 de fevereiro de 2017

Todas as palavras!



CG


Começou, bem cedo, a perceber a vida como um rio que deve caber nas margens que o limita e embala até à foz. Mas, tinha consciência que, pelo caminho, deixaria os afectos grávidos da sua memória e perturbados pelo futuro que já não o povoa.

Da retina do passado, costumava revisitar um dos quadros mais fagueiros da sua infância: a visão de um rapaz a trepar a encosta do monte, até à caseta, para avistar a cidade grande lá do alto. Ali punha o seu pensamento a voar pela vertigem do imenso verde, debaixo de um céu azul onde a coragem conquistava asas de sonhos encantados. Era a liberdade inundada pela frescura da paisagem e pela maresia que se adivinhava mais ao longe. 

Respirava mais fundo para absorver aquela fantástica sensação onde depositava frases de poemas que há muito guardava no pensamento.

Por vezes, sentia-se perdido nas palavras que habitavam os seus versos. Doía-lhe qualquer sentimento que desconhecia. Mas sabia que há ciclos da vida em que começamos a aprender a esperar o tempo. E o que mais precisamos são palavras cheias de memórias vivas. Todas as palavras!


sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

O olhar e a esfinge

CG



Há momentos que gostamos de surfar na vertigem do mistério. De sentir a voz do silêncio que nos inquieta como vento em seara cheia.

Quando a alma procura abrigo da ambiguidade dos tempos de chumbo, é junto do mar que se concentra. É lá que se despe do corpo e esvoaça suavemente pelo areal molhado, colada ao algodão balançado da rebentação. E sente-se o seu olhar desassossegado quando a vista se alonga na lonjura. Só a brisa fresca da ousadia a prende como uma nau no coração da quietude.

Ali, ouvindo a voz do mar, bem-humorada ou impetuosa, sente-se bem e esquece tudo o que foi o seu fado intranquilo. Apenas assimila o olhar e a esfinge daquele momento.