domingo, 19 de fevereiro de 2017

Um destes dias tive um sonho

CG



«A única coisa que leva da vida é a vida que você leva»
Davi Calvacanti

O sonho é «uma constante da vida», tal como canta Manuel Freire. E a utopia que lhe enche a alma persegue-nos desde que tomamos conta de nós.

Mas é na adolescente-juventude que o mundo se revela uma conquista deslumbrante. Tudo é descoberta. Sonhamos com contextos platónicos e projectamos neles a força do destino.

Há o sonho da feliz união a dois, a que se segue o sonho de gerar os filhos mais predilectos do mundo, o da carreira profissional sustentada, o da longevidade dos nossos maiores, o das viagens adiadas e muitos mais sonhos que nos empolgam e dão força ao equilíbrio emocional perante as adversidades da vida.

Mais lá ao longe emergem desencantos, impensáveis desenganos, oportunidades perdidas e contrariedades imprevistas. E tudo isto, porque a vida vai-se transformando numa contínua despedida das pessoas e coisas que amamos desde o nascimento. E aí, sentimo-nos mais sós numa caminhada de ilusões de que se avista o epílogo.

Chegamos à idade madura e sentimo-nos algo cansados pela espera interminável da ambição de uma felicidade total, apesar do mundo seguro que fomos construindo. Mas o sonho continua a iludir-nos com um amanhã «de sonho». E a vida habitua-se.

Um destes dias tive um sonho. Porém, não me lembro de me ter encontrado nele.


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