terça-feira, 31 de janeiro de 2017

Um poema





«Não tenhas medo, ouve:
É um poema
Um misto de oração e de feitiço…
Sem qualquer compromisso,
Ouve-o atentamente,
De coração lavado.
Poderás decorá-lo
E rezá-lo
Ao deitar
Ao levantar,
Ou nas restantes horas de tristeza.
Na segura certeza
De que mal não te faz.
E pode acontecer que te dê paz
»
            Miguel Torga, Diário XIII

A paz entra pela alma dentro quando lemos este poema de um dos mais importantes poetas do século XX...


segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Alvor




Muitos turistas «de casa às costas», maioritariamente, ingleses, alemães e holandeses.
Na praia, apesar da brisa fresca, filha do frio que migrou da gelada Europa central para o nosso país, são muitos os que, de t-shirt de manga curta e, outros, de fato de banho, deliciam-se esticados ao sol.
Tenho para mim que o sul do país beneficia muito, a nível económico, com a estada dos «nórdicos» durante o inverno. 
Apesar da não ocupação de camas em hotéis, ouvem-se vários idiomas nos hipermercados e bares, numa orgia consumista que muito contribui para a dinamização do comércio em época baixa.
Daí que os poderes públicos desta região tenham construído, nos últimos anos, várias infra-estruturas para os acolher em condições satisfatórias.
O Alvor é um exemplo desta realidade. 
A excelente praia, com o mar de um lado e a ria do outro, cativa muitos autocaravanistas a permanecerem por cá vários meses. 
Durante todo o dia são muitas as pessoas que caminham pelos vários passadiços, por entre as dunas, aproveitando para fazer exercício físico e repousar o pensamento por um dos mais belos locais do sul do meu país. Mais ao fundo, são as rochas que escondem encantos que só o Algarve é capaz de oferecer. 


sábado, 28 de janeiro de 2017

Inverno acolhedor!




Estamos em Lagos, antiga cidade do Infante D. Henrique. Passeamos pela Avenida dos Descobrimentos, uma extensa marginal vestida de calçada à portuguesa que coloca a cidade virada ao mar. 
No Forte de Meia Praia, que nos séculos XVII e XVIII assegurou a defesa da baía de Lagos, vê-se pouca gente a deambular, apesar do tempo favorável.

Lagos é uma cidade muito bela, que nos fala de um passado épico ao nível das navegações, onde podemos admirar algumas maravilhas, como o antigo Mercado de Escravos, o Castelo dos Governadores, a Praça do Infante, com uma estátua do navegador português, o Monumento a Gil Eanes e o Mercado Municipal, estrutura antiga que, após uma cuidada recuperação, passou a uma das importantes atracções da cidade.

De facto, para além do piso térreo manter as tradicionais funções de venda de peixe e produtos agrícolas, o piso superior tem um miradouro com vista sobre a cidade e a sua baía. 
Nas escadas, podemos ler, num painel, um poema de Sophia de Melo Breyner, poetisa de projecção mundial que gostava de passar férias em Lagos, gostava da sua gente, das suas ruas, das suas praias e do seu peixe.

Em Portimão já não se repousa na Marina. Tivemos que recolher aos «Três Castelos» para aí encostar a Micha na companhia de cerca uma vintena de autocaravanistas.
Ali não deixamos de fazer o que mais gostamos quando demandamos aquela cidade: passear demoradamente pelas arribas no final da tarde, não só para retemperar as forças, como para nos deleitarmos com as deslumbrantes vistas que dali se alcançam.
Nas praias, lá em baixo, apenas alguns nórdicos se libertam da roupagem da época e alongam os corpos ao sol sedentos de calor e mar.
O passeio até ao Vau faz-se pelos trilhos das arribas, protegidas por grades de madeira. 
O entardecer foi fantástico: o sol expirou numa autêntica bebedeira de cores quentes semeadas pelo horizonte azul de céu e mar.
Para além do registo de alguns momentos que nos pareceram mais felizes, fruímos, durante largos minutos, de um pôr-do-sol que só o Algarve nos poderia oferecer em tempo de inverno acolhedor!


quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

Sagres: onde a guerra acaba e a paz começa!




«Sagres, 10 Agosto de 1979
Não. O Infante não está ausente deste cenário: já me convenci que sim. Mas reconsiderei, procurei-o melhor, e descobri-o finalmente no espanto recolhido de quantos aqui vêm. As Catedrais também parecem vazias e Deus mora lá dentro, espelhado no silêncio respeitoso de cada visitante»
Miguel Torga, Diário XIII

Trouxe, nesta pequena viagem pelo meu país, uma companhia que gosto muito: Miguel Torga. 
Acabei, há dias, de ler «A Criação do Mundo», obra de excepção, autêntico relato da viagem da sua vida. Adorei!
A seguir, iniciei a leitura dos «Diários XIII a XVI», onde encontrei o pequeno trecho, que encima esta mensagem, sobre a sua visita a Sagres, por onde passei no dia de ontem, confirmando a sua tese, na plenitude.
Sagres recebe-nos de «vento em popa», como quase sempre. O Forte, que albergou a escola náutica nos idos anos 500, permanece num sossego enigmático. 
Ao pisar as arribas que o circundam, vem-me à memória a visão que obtive, na já longínqua manhã de Setembro de 1975, no regresso, de avião, da Guiné-Bissau: o promontório de Sagres pareceu-me uma enorme «jangada de pedra», metáfora com que o Nobel da literatura, José Saramago, titulou uma das suas obras-primas.
Sem dúvida que o local a que Camões se referiu como «onde a terra acaba e o mar começa», representou, para mim, naquela altura, algo muito diferente: onde a guerra acaba e a paz começa!
Apesar de visitar amiúde esta instância turística, Sagres incute-me sempre uma atmosfera de sonho e aventura.
Amo passar algum tempo a olhar o mar e a sua lonjura e a venerar a audácia dos homens que aí aprendiam a arte de navegar para, depois, se lançarem no largo oceano, em minúsculas caravelas, na busca do mundo desconhecido.
É este o espírito, de espanto recolhido, que me assola sempre que demando estas paragens, tal como acima regista Miguel Torga.