sexta-feira, 27 de maio de 2016

Saint-Jean-de-Luz






O tempo está luminoso, apesar de uma brisa fresca de início de Primavera.
Mas isso não foi impeditivo de um passeio pela soberba marginal até ao pequeno promontório verde semeado de bancos onde muitos descansam as mágoas e as saudades da vida na admiração da concha que banha Saint-Jean-de-Luz e Ciboure.

Foi nesta cidade que, em 1665, o monarca de França, Luís XIV, desposou a Infanta da Espanha, Maria Teresa. 
E, em frente ao animado porto, de barcos multicolores, ainda se conserva a casa que foi do compositor Maurice Ravel.

São muitos os que caminham pelo imenso passeio limítrofe ao areal e outros tantos sentados frente ao mar absorvidos por leituras de livros ou jornais do dia.
Consegue-se, aqui e ali, perscrutar olhares meditativos e tristes, porventura suscitados pela matança de Bruxelas ocorrida no dia de ontem.
A França está de luto pelo país irmão, numa solidariedade recebida há poucos meses por semelhante tragédia em Paris.
O fenómeno do terrorismo, que atinge o coração da Europa ameaça alargar-se como uma mancha de ódio, sangue e lágrimas. Por isso, será mais que tempo de cerrar fileiras e olhar para este problema de forma determinada e sem escrúpulos de hipocrisia.

Saint-Jean-de-Luz está linda, como sempre!
A sua tez basca, presente no branco das fachadas das casas e nas vigas e janelas de cor verde e vermelho, são uma afirmação do carácter nacionalista. Por isso é que, sempre que passo a fronteira de hendaye, procuro ficar por aqui o tempo necessário para matar saudades deste belo recanto de França.  Como hoje!

quinta-feira, 26 de maio de 2016

Torquemada






Iniciamos a viagem pela manhã de 22 de Março e zarpamos, via Montalegre, até à A52 que nos trouxe à Região de Castela. 
Desta vez, preferimos passar a noite em Torquemada, um pequeno município à margem da «autovia» que segue para Burgos. 
Como curiosidade histórica, temos que aqui nasceu, no ano de 1507, Catarina de Áustria, rainha de Portugal como esposa de D. João III.

As notícias deste dia foram de tragédia. Desta feita, o terror fez-se morte nos aeroportos e metropolitano de Bruxelas. Nem por acaso: a nossa viagem vai levar-nos à Bretanha francesa, seguindo-se a Bélgica, a Holanda e o Luxemburgo.
Apesar de alguma inquietação que nos invade a alma, seguiremos atentos às notícias para optarmos pelos percursos de menor congestionamento, se for o  caso.

O terrorismo é um dos maiores problemas com que se debate o mundo, sobretudo a Europa. E os acontecimentos dos últimos dias são filhos do radicalismo religioso, orientado por uma inusitada «guerra santa» do nosso século. Em nome de Alá … em nome de Deus!
Os que defendem a tese de que a história se repete, de tempos a tempos, parecem ter razão. Pois esta «jihad», que tem a força do radicalismo islâmico, assemelha-se às cruzadas da Idade Média perpetradas pelo catolicismo. Também aí se matava e torturava em nome do Deus dos cristãos.

Torquemada, não por acaso, é a localidade que, pelo nome, lembra o frade dominicano espanhol, Tomás de Torquemada que, em 1478, o papa Sixto IV nomeou inquisidor-mor de Castela. Apesar da sua origem judaica, este infame sujeito agiu com desmedida crueldade e fanatismo, sendo responsável pela perseguição, prisão, tortura e condenação de milhares de judeus e muçulmanos residentes na Espanha. Cronistas da época dão conta de que terá mandado para a fogueira milhares de denunciados.
Pelo horror perpetrado pela inquisição, sob o seu comando, Tomás de Torquemada seria considerado, pelos padrões actuais, um assassino em série e um genocida sádico e cruel. Por isso, este homem é, para muitos, uma das maiores bestas da inquisição e a personificação da intolerância religiosa. Ontem como hoje!

domingo, 8 de maio de 2016

meu mundo amuado!


Gimont - França










trago comigo a saudade
memória que voa, voa…
veste asas de orfandade
e chuva de vento na proa

névoa em rostos dispersos
leve rumor de tons quentes
tempos vadios  ou inquietos
vêm e vão-se em repentes

emergem fugazes lembranças
de certos instantes felizes
vagos sonhos e esperanças
irrompem também das raízes

mas este vagido imperfeito
dum cismar meio estagnado
com a alma a sair do peito
traz o meu mundo amuado!