domingo, 21 de abril de 2013

Gemeses, de novo!



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Adoro este lugar.
Vim cá, pela primeira vez, com a alma inquieta. Era o tempo do enamoramento, já lá vai quase uma vida!
Apesar da passagem do tempo, a memória emerge fresca e viçosa: cheguei a Esposende de transporte colectivo. 
Não imaginava, sequer, onde ficava Gemeses. Mas, pouco tempo bastou para encontrar uma amiga que se disponibilizou a acompanhar-me até aqui.
Lembro bem que essa primeira tentativa de encontro se mostrou falhada: a Tonicha estava de viagem para o sul, na companhia de familiares e amigos. Pelo que tive de regressar a casa «de mãos vazias». Embora com a sensação de que terá valido a pena. Porque tinha estado e sentido o «mundo» de criança e adolescência da jovem por quem, recentemente, me tinha apaixonado.

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Foi nesse dia que admirei as paisagens de sonho que vestem a Freguesia de Gemeses, a pouco mais de três quilómetros de Esposende.
A estrada de água que se serpenteia por esta terra verdejante empresta-lhe uma beleza ímpar, transformando-a numa verdadeira princesa do Cávado.
Não terá sido por acaso que muitas famílias do Porto tenham, por aqui, instalado a sua residência de férias. Porque este é um local de silêncios onde se gosta de ouvir as melodias dos pássaros e o sussurro das alfaias agrícolas. E onde a maresia nos entra pela alma!

sábado, 13 de abril de 2013

Cá estou, de novo!




 
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Cá estou, de novo, em A Ver-o-Mar, onde fiz o baptismo da Micha há cerca de dois anos. Por isso, este local é eterno.
Foi aqui que, pela primeira vez, experimentei o sabor do ronronar do mar enquanto a noite se estendia pelo sonho dentro. 
Foi aqui que testemunhei o mar mais azul, quando a luz do sol lhe fazia companhia. 
Foi aqui que escrevi alguns poemas, assentes no percurso de vida e nas inquietações de alma que constituem o meu ser
Foi aqui que recarreguei de maresia esta minha vida de vários temperos.
É aqui que o luar se faz mais presente e convida aos abraços de ternura no aconchego de ilusões sadias. 
É aqui que retorno, vezes sem conta, quando a nostalgia inquieta o espírito com questões ainda sem resposta. É aqui que venho sempre que a alma carece de solidão e aconchego. Por isso, aqui estou, de novo!
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Está chuvoso este início de Primavera. 
Apesar de tudo, junto da rebentação moram as esperanças de um alongamento do isco e da repentina agitação das águas. 
Admiro estes homens que passam horas intermináveis de olhar fixo no mar, esquecidos dos problemas caseiros e da crise espalhada por todo o lado. 
Mais ao longe, os barcos costeiros semeiam as redes que lhe sustentam a existência. Repetem os mesmos gestos, dia após dia.
Aqui ao lado, jaz um barco, azul e branco, no cumprimento do ciclo de vida. Como tudo na natureza!


sexta-feira, 12 de abril de 2013

Fátima



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O Santuário de Fátima é a última etapa do percurso. Este é um local quase obrigatório na saída ou no regresso das nossas viagens pelo Sul do país. 
Mais que razões de índole religiosa, é um encontro comigo mesmo que ali procuro. 
São os silêncios que por ali se ouvem e os murmúrios beatos que perscruto que me incute uma paz que não encontro noutro local. Quem sabe se estes não sejam resquícios de um passado de fé, entretanto dissipada!

Fátima é um íman difícil de explicar. Porque o viajante sente-se bem e a logística oferecida ao autocaravanista é suficiente e simpática. 
Neste local ermo respira-se tranquilidade e o ambiente convida ao recolhimento. Mesmo para os agnósticos. Porque, de vez em quando, faz bem questionar a vida e a nossa presença na Terra.

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Terminamos, há momentos, o percurso tantas vezes usado neste recinto: visita à Basílica de Nossa Senhora do Rosário, onde se encontram os restos mortais dos três protagonistas desta história de fé: Lúcia, Jacinta e Francisco.
Depois, uma breve passagem pela incontornável «Capelinha das Aparições», sempre envolvida num bulício de preces e oração. 
Seguiu-se a novíssima Igreja da Santíssima Trindade, onde nos perdemos a apreciar o exuberante painel dourado por detrás do altar-mor e a fantástica figura de Cristo na Cruz, mais semelhante com os homens do seu tempo e região.

Só um lamento pessoal a apontar: não existe recanto que não esteja semeado de ranhuras a solicitar esmolas, quer para o «Nosso Senhor», quer para os «Pastorinhos», quer para «Nossa Senhora» e, imagine-se, também, para o «Menino Jesus de Praga». 
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Não estando em causa a necessidade do Santuário dispor de recursos para fazer face às muitas despesas a que está obrigado, considero um exagero o número de caixas a solicitar esmolas. 
Em minha opinião, são estas situações, de aproveitamento da fé dos crentes, que afastam da religião tantos homens e mulheres de todo o mundo.
E, talvez por isso, não impressione o fausto exibido pela Igreja naquele local de fé!

quinta-feira, 11 de abril de 2013

Docas



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É a primeira vez que pernoito nas Docas de Belém. Esta é, a meu ver, uma das mais belas zonas de Lisboa.
Os Jerónimos, o Centro Cultural de Belém, o Padrão dos Descobrimentos e a Torre de Belém, são dos mais importantes ex-líbris da cidade luminosa. Embora o mais saboroso ex-líbris sejam os pastéis de Belém.

Por aqui aporta gente de todo o mundo.
Estão por cá uma vintena de autocaravanas, a grande maioria de países do centro da Europa.

No momento em que admirava o monumento da autoria do Arquitecto Continelli Telmo (o Padrão), que homenageia a gesta dos descobrimentos, um grupo de japoneses fixava-se na Rosa dos Ventos a admirar o percurso das caravelas portuguesas até ao seu país, em 1543.
A Rosa dos Ventos é uma construção em mármore, oferecida, ao Estado Português, pela República da África do Sul. Tem um planisfério de 14 metros, onde caravelas marcam as mais importantes rotas dos Descobrimentos Portugueses.

Ao anoitecer, o tempo permitiu-nos um passeio pelas docas. 
E foi bom de ver os monumentos com uma iluminação artificial que lhes acrescenta uma alma mágica de saudade. 
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Ao longe, a Ponte 25 de Abril, abraçava o Tejo e a Torre de Belém exibia uma áurea prateada que lhe dava um ar de mistério e magia.

As docas têm vários sons que emergem na noite: o ruído dos comboios que correm pelos carris, as águas do Tejo que vão de encontro à margem, os aviões que sobem pelas alturas em direcção a destinos vários, os carros que rolam pela Avenida da Índia, os solitários e os sem-abrigo que caminham na companhia dos seus fantasmas.
Lisboa é, por certo, uma cidade tão bela de dia, como de noite!

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Grândola, vila morena …



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Chegamos, pelo meio-dia, à AS de Grândola. Precisavamos de abastecer a Micha de água e despejar as águas negras. O local é amplo. Porém, o aspecto dos prédios periféricos e dos carros aí estacionados (estavam todos com os pneus furados), suscitou alguma insegurança.
Decidimos estacionar no parque contíguo e aí confeccionar o almoço. 
Entretanto, chega uma pequena carrinha de caixa aberta da autarquia transportando um arbusto de cerca de dois metros de cumprimento. Quatro homens saem do seu interior dispostos a replantar o mesmo. 
Enquanto um deles começa a cavar um buraco, os outros três encostam-se à viatura a apreciar o trabalho do cavador. Depois, a árvore é plantada com a ajuda de dois dos trabalhadores, enquanto os restantes continuam com a missão de «fiscalizar» o evento. 
O mais cansado da vida vai ao ponto de se deitar no banco de trás de um carro amigo que ali decidiu parar e iniciar uma morna cavaqueira. Um outro faz-se notar pela postura hierárquica, uma vez que limita a sua acção a mirar a inclinação do arbusto e a ordenar a postura que considera mais correcta.
O trabalho não durou muito tempo. Mas a imagem que fica do Município de Grândola é, no mínimo, constrangedora. O pensamento que me assaltou, no momento, foi que um país que necessita de quatro homens para plantar um arbusto não terá, por certo, um futuro muito pomissor.
Mas, também, não terá sido por acaso que a utopia da liberdade tenha determinado que, nesta cidade, «O povo é quem mais ordena»!
 É assim este meu país!