quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

Sagres: onde a guerra acaba e a paz começa!




«Sagres, 10 Agosto de 1979
Não. O Infante não está ausente deste cenário: já me convenci que sim. Mas reconsiderei, procurei-o melhor, e descobri-o finalmente no espanto recolhido de quantos aqui vêm. As Catedrais também parecem vazias e Deus mora lá dentro, espelhado no silêncio respeitoso de cada visitante»
Miguel Torga, Diário XIII

Trouxe, nesta pequena viagem pelo meu país, uma companhia que gosto muito: Miguel Torga. 
Acabei, há dias, de ler «A Criação do Mundo», obra de excepção, autêntico relato da viagem da sua vida. Adorei!
A seguir, iniciei a leitura dos «Diários XIII a XVI», onde encontrei o pequeno trecho, que encima esta mensagem, sobre a sua visita a Sagres, por onde passei no dia de ontem, confirmando a sua tese, na plenitude.
Sagres recebe-nos de «vento em popa», como quase sempre. O Forte, que albergou a escola náutica nos idos anos 500, permanece num sossego enigmático. 
Ao pisar as arribas que o circundam, vem-me à memória a visão que obtive, na já longínqua manhã de Setembro de 1975, no regresso, de avião, da Guiné-Bissau: o promontório de Sagres pareceu-me uma enorme «jangada de pedra», metáfora com que o Nobel da literatura, José Saramago, titulou uma das suas obras-primas.
Sem dúvida que o local a que Camões se referiu como «onde a terra acaba e o mar começa», representou, para mim, naquela altura, algo muito diferente: onde a guerra acaba e a paz começa!
Apesar de visitar amiúde esta instância turística, Sagres incute-me sempre uma atmosfera de sonho e aventura.
Amo passar algum tempo a olhar o mar e a sua lonjura e a venerar a audácia dos homens que aí aprendiam a arte de navegar para, depois, se lançarem no largo oceano, em minúsculas caravelas, na busca do mundo desconhecido.
É este o espírito, de espanto recolhido, que me assola sempre que demando estas paragens, tal como acima regista Miguel Torga.

2 comentários:

  1. Sagres consegue remeter qualquer mortal ao silêncio. Esteve na guerra na Guiné? Que lindo símbolo de paz.
    Abraço
    Ruthia d'O Berço do Mundo

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  2. Olá Ruthia
    Sim... participei na guerra da Guiné nos anos de 1973 1 1974. ´Na viagem de regresso, na madrugada de 12 de Setembro de 1974(no post está erradamente 1975), vi o mais lindo nascer do sol da minha vida e o meu país, visto de Sagres, pareceu-me uma enorme jangada de paz onde iria aportar.
    Abraço do Carlos da Gama

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