«Sagres, 10 Agosto de
1979
Não. O Infante não
está ausente deste cenário: já me convenci que sim. Mas reconsiderei,
procurei-o melhor, e descobri-o finalmente no espanto recolhido de quantos aqui
vêm. As Catedrais também parecem vazias e Deus mora lá dentro, espelhado no
silêncio respeitoso de cada visitante»
Miguel Torga, Diário XIII
Acabei, há dias, de ler «A Criação
do Mundo», obra de excepção, autêntico relato da viagem da sua vida.
Adorei!
A
seguir, iniciei a leitura dos «Diários
XIII a XVI», onde encontrei o pequeno trecho, que encima esta mensagem, sobre
a sua visita a Sagres, por onde passei no dia de ontem, confirmando a sua tese,
na plenitude.
Sagres
recebe-nos de «vento em popa», como quase sempre. O Forte, que albergou a escola
náutica nos idos anos 500, permanece num sossego enigmático.
Ao pisar as arribas
que o circundam, vem-me à memória a visão que obtive, na já longínqua manhã de
Setembro de 1975, no regresso, de avião, da Guiné-Bissau: o promontório de Sagres
pareceu-me uma enorme «jangada de pedra»,
metáfora com que o Nobel da literatura, José Saramago, titulou uma das suas obras-primas.
Sem
dúvida que o local a que Camões se referiu como «onde a terra acaba e o mar começa», representou, para mim, naquela
altura, algo muito diferente: onde a guerra acaba e a paz começa!
Apesar
de visitar amiúde esta instância turística, Sagres incute-me sempre uma
atmosfera de sonho e aventura.
Amo passar algum tempo a olhar o mar e a sua
lonjura e a venerar a audácia dos homens que aí aprendiam a arte de navegar
para, depois, se lançarem no largo oceano, em minúsculas caravelas, na busca do
mundo desconhecido.
É
este o espírito, de espanto recolhido, que me assola sempre que demando estas paragens, tal como acima
regista Miguel Torga.
Sagres consegue remeter qualquer mortal ao silêncio. Esteve na guerra na Guiné? Que lindo símbolo de paz.
ResponderEliminarAbraço
Ruthia d'O Berço do Mundo
Olá Ruthia
ResponderEliminarSim... participei na guerra da Guiné nos anos de 1973 1 1974. ´Na viagem de regresso, na madrugada de 12 de Setembro de 1974(no post está erradamente 1975), vi o mais lindo nascer do sol da minha vida e o meu país, visto de Sagres, pareceu-me uma enorme jangada de paz onde iria aportar.
Abraço do Carlos da Gama