Mozart, Beethowen, Vivaldi ou Wagner? Apenas confirmo que a música
clássica, que brota da Antena 2, é duma pureza e harmonia que me envolve por
inteiro.
Está uma manhã levemente molhada por uma chuva miudinha, nativa de um
céu cinzento. Não há vento a remexer as escassas folhas do plantio em redor, nem
vivalma a deambular pelo povoado.
Ao largo, o rio corre, taciturno, para poente, cintilando à
superfície e reflectindo a penumbra bucólica de águas pardacentas, bordadas
pelo verde dos campos e pelo escasso casario de cores mortiças.
O silêncio desta pitoresca paisagem empurra-nos para um estádio de
alma onde a melancolia da memória se desfaz em horizontes de esperança.
É, sempre, para cá que regresso, quando a saudade busca os afectos
que desejamos partilhar.
É por aqui que liberto as inquietações na expectativa
de que se embalem nas águas, até à foz, e se dissipem pelo largo oceano.
É aqui
que procuro moer as vicissitudes que a vida sempre nos reserva.
O inverno é um excepcional tempo de vigília e de ausências. É o
tempo de pousio onde se estruturam as utopias que dão sentido à vida. É,
também, um tempo de introspecção sobre os caminhos já percorridos. É neste
tempo que semeio sonhos e aventuras, a concretizar em dias luminosos de
primavera.
Os sons dos clássicos acompanham-me por entre as sombras desta
época sugerindo uma paz inquietante e nostálgica. Talvez porque a nostalgia é
um mar que amo navegar.
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