sábado, 9 de julho de 2011

Love Story


Em 1970, tinha 17 anos. Esse tempo de juventude foi de grande fermentação de ideias que, mais tarde, influenciaram a formação da minha personalidade. Foi por essa época que assisti ao filme «Love Story».
Extremamente romântico e envolvente, apesar de o enredo ser uma clássica história de amor entre um rapaz muito rico e uma rapariga da classe média-baixa.

Constituiu, na altura, um enorme êxito de bilheteira. Estávamos num tempo de grandes alterações sociais e de descobertas técnicas e cientificas e o mundo estava a mudar vertiginosamente.
Após a Segunda Guerra Mundial, os países destruídos ganham pujança com a reconstrução e os regimes democráticos, que sucederam um pouco por toda a Europa Ocidental, permitiram um crescente progresso na qualidade de vida dos cidadãos. Foi ai que nasceu o modelo social europeu que a actual crise económica e financeira parece querer colocar em causa.
Em Portugal vivia-se, ainda, sob um regime político despótico, retrógrado, limitador das liberdades e repressor aos mais variados níveis. Em nome da defesa do império ultramarino, os jovens eram obrigados a rumar para as várias frentes de guerra de África, logo que atingissem a maioridade.
O «Love Story, para além da sedutora história de amor, constituiu uma lufada de ar fresco na visão de outras latitudes e sugeriu um repensar da forma de vida num país amordaçado, concorrendo, apesar de modestamente, à fermentação de ideias que conduziram à revolução de Abril de 1974.

Mas foi um tremendo êxito de bilheteira em todo o mundo, vencedor de vários prémios e globos de ouro, nomeadamente nas categorias de melhor filme (drama), melhor director, melhor actor (Ryan O'Neal), melhor actriz (Ali MacGraw), melhor roteiro e melhor banda sonora.
Lembro bem da dificuldade em conseguir-se um bilhete pois as salas estavam quase sempre superlotadas. Era comum as conversas andarem à volta do enredo do filme e da banda musical que foi, igualmente, um extraordinário sucesso de vendas.

O enredo contava o drama vivido por um estudante de direito, de família muito rica, que conhece e se apaixona por uma estudante de música, de origem humilde, que acabam por se casar algum tempo depois. No entanto, o pai do rapaz não aceita a nora, simplesmente pelo facto de ela não pertencer à classe social do filho, acabando este por ser deserdado.
Algum tempo depois, a moça tenta engravidar e não consegue. Uns exames médicos de rotina sugerem que algo não está bem com a sua saúde e a gravidade da doença acaba por conduzir a um destino trágico.
Quando estreou no meu país, o filme só podia ser visto por maiores de 17 anos. Situação incompreensível nos tempos actuais. Há cerca de 40 anos a situação política, social e económica era uma realidade muito diferente, pelo que o filme não teria hoje a repercussão que teve no início da década de 70 do século XX.

As nossas representações sociais e motivações sofreram uma enorme mudança desde esses tempos. Digamos que, por exemplo, no campo da representação sexual, o que era, supostamente, pornográfico em 1970 nem sequer consegue ser erótico em 2011.
Os cidadãos do meu país de hoje estão muito longe dos portugueses de 1970. Porque, como dizia Ortega y Gasset, «Nós somos nós e as nossas circunstâncias!». E o que nos era dado e imposto há 40 anos não é o mesmo nos tempos actuais. E ainda bem que assim é!

 Carlos da Gama
                   Fotos: Google Imagens         

Sem comentários:

Enviar um comentário