segunda-feira, 15 de julho de 2013

Se ...






«Se fores capaz de não perder a cabeça
quando todos à tua volta perdem a deles
e te culpam por isso;

Se fores capaz de confiar em ti mesmo
quando os outros duvidam,
mas aceitando perguntar a ti mesmo
se não terão um bocadinho de razão;

Se fores capaz de esperar sem deixar que a espera te canse,
ou, sendo alvo de calúnia, te recusares a caluniar,
ou, sendo odiado, não te deixares levar pelo ódio
sem te tornar sobranceiro nem te perderes em palavras ocas;

Se fores capaz de sonhar sem deixar que os sonhos te escravizem;

Se fores capaz de pensar, mas não cruzares os braços;

Se fores capaz de viver o triunfo e a desgraça
tratando-os, a ambos, como importantes que são;

Se fores capaz de suportar ver a verdade das tuas palavras
deturpada por velhacos para a transformarem
em armadilha para os tolos;
ou, vendo as coisas a que dedicaste a vida feitas em pedaços,
te vergares para as reconstruir, com ferramentas já gastas;

Se fores capaz de juntar, numa mão cheia, todos os teus ganhos,
arriscá-los num cara ou coroa,
perdê-los e começar do zero,
sem nunca soltar um lamento;

Se fores capaz de obrigar o teu coração,
o teu espírito e o teu corpo
a servirem à tua vontade mesmo depois de exaustos
e, assim, te mantiveres de pé
quando já nada restar dentro de ti,
excepto a força que te diz: «Aguenta»;

Se fores capaz de falar às multidões sem perder a virtude,
caminhar com reis sem deixar de ser simples;

Se nem os  teus inimigos
nem os teus amigos mais queridos te conseguirem magoar;

Se todos os homens contarem contigo,
mas nenhum dispuser de ti;

se fores capaz de preencher o fugaz minuto
com sessenta segundos vividos plenamente,
tua será a Terra e tudo o que nela existe,
e o que mais importa … serás um Homem, meu filho!»

 
«Carta a um filho», de Rudyard Kipling
(escrita em 1910 )

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