Gosto de retornar a este enorme
recinto, junto da marina da Praia da Rocha. O areal está quase deserto de
gente. Existe sol em abundância, mas a brisa fresca e a agitação das águas
afasta as pessoas. Daí que o passeio, por entre as rochas
douradas, seja de maior liberdade e maresia.
Durante a caminhada, um ou outro casal mais aconchegado
às falésias fazem-me compreender que não estamos sós.
De repente, surge pela
frente um homem idoso, munido de uma geringonça de detectar metais e com uma
pequena enxada ao ombro.
Caminhava cabisbaixo, a sondar as areias, sempre na expectativa de que o
aparelho emitisse algum sinal para, de seguida, cavar a área e encontrar qualquer «tesouro» perdido por turista mais incauto.
Aquela figura franzina trouxe-me à
memória as «picadas» na Guiné, quando sondavamos qualquer mina assassina, ao tempo de
guerra colonial.
Mas, de igual forma, a expectativa, estampada naquele
rosto enrugado e de tez morena, pareceu-me com a dos garimpeiros da selva
amazónica que dedicam a vida ao sonho de um «tesouro» saído das areias
removidas pelo suor da ilusão.
Foi o esvoaçar de um bando de gaivotas que
desviou o meu cismar para outras latitudes e a fruir o momento.
No passeio pela marginal,
vimos pessoas a caminhar lentamente e outras com um ritmo mais ousado.
As conversas
que passam por nós têm o sabor de diversos idiomas europeus.
De quando em vez,
o vento é mais forte. Mas o sol, luminoso e quente, não o deixa incomodar.
Está uma
manhã que faz esquecer o inverno do nosso descontentamento.
O autocaravanismo é isto:
percorrer territórios, admirar paisagens, buscar afagos do sol, caminhar por
praças e avenidas, apreciar a gastronomia local e registar instantâneos
para memória futura.
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