sexta-feira, 21 de março de 2014

Sonhos de areia




Gosto de retornar a este enorme recinto, junto da marina da Praia da Rocha. O areal está quase deserto de gente. Existe sol em abundância, mas a brisa fresca e a agitação das águas afasta as pessoas. Daí que o passeio, por entre as rochas douradas, seja de maior liberdade e maresia.

Durante a caminhada, um ou outro casal mais aconchegado às falésias fazem-me compreender que não estamos sós. 
De repente, surge pela frente um homem idoso, munido de uma geringonça de detectar metais e com uma pequena enxada ao ombro. 
Caminhava cabisbaixo, a sondar as areias, sempre na expectativa de que o aparelho emitisse algum sinal para, de seguida, cavar a área e encontrar qualquer «tesouro» perdido por turista mais incauto.
Aquela figura franzina trouxe-me à memória as «picadas» na Guiné, quando sondavamos qualquer mina assassina, ao tempo de guerra colonial. 
Mas, de igual forma, a expectativa, estampada naquele rosto enrugado e de tez morena, pareceu-me com a dos garimpeiros da selva amazónica que dedicam a vida ao sonho de um «tesouro» saído das areias removidas pelo suor da ilusão. 
Foi o esvoaçar de um bando de gaivotas que desviou o meu cismar para outras latitudes e a fruir o momento.
No passeio pela marginal, vimos pessoas a caminhar lentamente e outras com um ritmo mais ousado. 
As conversas que passam por nós têm o sabor de diversos idiomas europeus. 
De quando em vez, o vento é mais forte. Mas o sol, luminoso e quente, não o deixa incomodar. 
Está uma manhã que faz esquecer o inverno do nosso descontentamento.
O autocaravanismo é isto: percorrer territórios, admirar paisagens, buscar afagos do sol, caminhar por praças e avenidas, apreciar a gastronomia local e registar instantâneos para memória futura.


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