Chegamos, já a tarde
tinha feito caminho. Mas deu ainda para um passeio pela marginal da Lagoa de
Óbidos.
Este é um dos locais a que regresso sempre que a saudade puxa pelas
emoções.
Por cá andei, pelos
meus verdes anos, quando me preparava para a guerra colonial.
Há momentos
passei pelo aquartelamento onde permaneci durante os três primeiros meses do
ano de 1973.
Ao rever aquela instituição militar, um vulcão de emoções sacudiu-me
a memória.
Já passou tanto tempo … e a sensação que me invade é de que tudo aconteceu há escassos dias!
O tempo, essa incógnita
da vida, é como um rio que corre inexoravelmente para a foz.
Só damos conta da
sua passagem quando o espelho reflecte a imagem que custa a aceitar.
A Foz do Arelho é também
memória de afectos. Para aqui trazia a minha gente, de tenra idade, na busca de
brisa fresca de verão e de dias felizes.
O longo passeio em
torno da Lagoa continua a ser de pura maresia e liberdade.
Apetece aspirar o ar
morno do entardecer enquanto perpassam pela memória alguns dos mais belos
postais esquecidos na poeira do tempo.
S. Martinho do Porto, ali
ao lado, que conheci ainda como o «penico dos burgueses», é hoje um recanto de
multidões.
Apesar de algumas elegantes moradias, da burguesia lisboeta do
passado, que resistem ao tempo, proliferam construções em altura que lhe desfiguram
a sua beleza primitiva.
Mesmo assim, é retemperador alargar a vista pelo areal
da concha e mirar o oceano a autoflagelar-se contra as arribas da entrada na
baía.
Lembro bem: S. Martinho
do Porto ganhou importância em mim por via do Frederico Manuel, meu companheiro
de armas na Guiné-Bissau.
Foi lá longe, nas conversas quentes regadas a whisky
e cerveja, que o Frederico falava da sua terra com paixão e saudade.
S. Martinho do Porto em dia luminoso, como o de
hoje, é um encanto. A porta que permite a entrada do atlântico para a concha lá
está de ombreiras graníticas e águas agitadas de azul de mar.
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