terça-feira, 25 de março de 2014

Azul de mar



 
Chegamos, já a tarde tinha feito caminho. Mas deu ainda para um passeio pela marginal da Lagoa de Óbidos. 
Este é um dos locais a que regresso sempre que a saudade puxa pelas emoções. 
Por cá andei, pelos meus verdes anos, quando me preparava para a guerra colonial. 
Há momentos passei pelo aquartelamento onde permaneci durante os três primeiros meses do ano de 1973. 
Ao rever aquela instituição militar, um vulcão de emoções sacudiu-me a memória.

Já passou tanto tempo … e a sensação que me invade é de que tudo aconteceu há escassos dias!
O tempo, essa incógnita da vida, é como um rio que corre inexoravelmente para a foz. 
Só damos conta da sua passagem quando o espelho reflecte a imagem que custa a aceitar.
A Foz do Arelho é também memória de afectos. Para aqui trazia a minha gente, de tenra idade, na busca de brisa fresca de verão e de dias felizes.
O longo passeio em torno da Lagoa continua a ser de pura maresia e liberdade. 
Apetece aspirar o ar morno do entardecer enquanto perpassam pela memória alguns dos mais belos postais esquecidos na poeira do tempo.
S. Martinho do Porto, ali ao lado, que conheci ainda como o «penico dos burgueses», é hoje um recanto de multidões. 
Apesar de algumas elegantes moradias, da burguesia lisboeta do passado, que resistem ao tempo, proliferam construções em altura que lhe desfiguram a sua beleza primitiva. 
Mesmo assim, é retemperador alargar a vista pelo areal da concha e mirar o oceano a autoflagelar-se contra as arribas da entrada na baía.
Lembro bem: S. Martinho do Porto ganhou importância em mim por via do Frederico Manuel, meu companheiro de armas na Guiné-Bissau. 
Foi lá longe, nas conversas quentes regadas a whisky e cerveja, que o Frederico falava da sua terra com paixão e saudade.
S. Martinho do Porto em dia luminoso, como o de hoje, é um encanto. A porta que permite a entrada do atlântico para a concha lá está de ombreiras graníticas e águas agitadas de azul de mar.

Sem comentários:

Enviar um comentário