Ouço o Pedro Barroso neste início de noite
calma, de silêncios e melodias.
Lá fora, a chuva cai, talvez em obediência a
uma rotina que vem de longe. Já nem consigo lembrar com nitidez o
deslumbramento da luz solar em cor azul. São de chumbo estes tempos de inverno
vestido a rigor.
No fim-de-semana, que ontem desfaleceu,
temeu-se o pior. Anunciava-se uma borrasca cruel e brutal. Mas apenas uns breves
arranhões foram sentidos em terras do centro do meu país. E foi precisa a luz
de um estádio para justificar tamanho alarido meteorológico.
Este tempo, coberto de cinza húmida, parece
querer afastar de mim a poesia que chega de longe. Um verso quente que emerge,
de quando em vez, na minha vida. Depois de uma troca de afectos, plenos de
esperança, cansa de paciência e afasta-se uma vez mais, cumprindo o ciclo das
marés ... ou de renovada paisagem colhida em qualquer café de esquina.
Este tempo é propício a isso mesmo: é
impaciente, turvo quanto baste e transparente apenas no olhar. Quem sabe se,
uma outra vez, essa visão surge numa qualquer estrela do meu firmamento. Quem
sabe ...
Imagem: Google
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