sexta-feira, 13 de agosto de 2021

Aventura falhada

 















                                                                                                                                        CG

Visitamos, pela primeira vez, Paredes de Coura, lugar mítico que acolhe, desde 1993, um dos maiores festivais de música em Portugal, evento que atrai milhares de entusiastas deste tipo de espetáculos de verão. Pernoitamos na área de serviço de autocaravanas, preparada a preceito há alguns anos, mas que, presentemente, tem a maioria dos serviços desativados. Uma pena!

Paredes de Coura é uma típica Vila do interior do Minho, banhada pelo rio Coura, um pequeno curso de água límpida que serpenteia estas terras de múltiplos encantos naturais. Por ali, a pandemia tem feito caminho, a ponto de obrigar ao encerramento de alguns serviços municipais, tais como o Museu Regional.

Como parte da fachada é envidraçada, deu para espiar algum do seu acervo, como um encantador tear rústico de madeira que, num instante, despertou memórias da minha avó materna, a quem chamava de «mãezinha». 

Ao admirá-lo, uma enxurrada de emoções emergiram em meu espírito, a ponto de quase ouvir de novo o mágico «toque, toque, toque» da braçadeira do pente a arrastar os fios da teia com que se produziam as mantas e os tapetes.

Para além dessa atividade artesanal, a minha avó era dona de um belo quintal de onde obtinha as verduras necessárias ao dia-a-dia e colhia uma apreciável variedade de frutos da época. Como a sua descendência de segunda e terceira geração era abundante, acontecia que os frutos desapareciam como por magia. Daí que fosse seu costume colocá-los a madurar numa varanda sempre vigiada para que nenhum intruso se enamorasse deles.

Vivia ainda a infância da vida e já me aventurava a entrar, de quando em vez, no espaço proibido da casa da avó e, ouvindo o costumeiro «toque, toque, toque» no andar inferior da moradia, caminhava ao som dos balanços da travessa do tear a fim de mitigar o ruído dos meus passos no soalho de madeira e alcançar o «fruto proibido». 

Um dia, quando já estava à entrada da varanda, surgiu a mãezinha que, com um sorriso de «gioconda», afirmou: - Afinal és tu o mandrião!

Admirado pela inesperada aparição, constatei depois que ela, enquanto se aproximava da varanda, simulou o «toque, toque, toque» batendo com uma vara nas escadas que ali desaguavam. O constrangimento que senti foi suficiente para pôr fim àquela aventura falhada.

CG

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