Ultimamente, encontrava-o um pouco calado, cabisbaixo, quiçá,
um pouco humilhado. Sabia que o Outono amadurecido lhe moldava os humores. Todos
os anos era assim. Mas, este Novembro mostrava-se mais acabrunhado com a
vida.
Sempre foi um espírito introspectivo. Apesar de aparentar uma
força diferente para os afectos de maior proximidade, os últimos dias desviaram-lhe
o olhar para um estádio de melancolia e enternecimento.
Sempre se esforçava por emprestar mais cor à sua vida
solitária. Fazia o possível para ter em mãos alguma bricolage que lhe consentisse
isolar-se do mundo e dos pensamentos mais amigos das consumições que o traziam
cativo, faz tempo!
Nada disto acontecia quando a imaginação se inibia de aquecer
a alma nas margens frias do Inverno. Transformava-se um tormento cada
minuto que passava. Apetecia-lhe ligar as asas e voar na companhia dos pensamentos
mais libertários. E, quando a isso se permitia, o mar era o seu porto de
abrigo. Como sempre!
Por vezes, detinha-se a ruminar as memórias dos tempos
felizes passados sabe-se lá onde. Como uma gaivota que sobrevoa, pelo entardecer, as generosas falésias da saudade e maresia. Desses momentos, de pura magia, emergiam os
que se abrigavam nas águas mansas do estuário da vida, como que numa fénix sempre renascida.
Outras vezes, o mar do norte fazia-lhe frente com a bonomia
dos passeios solitários junto da espuma aflorada do encontro das águas com o amplo
espraiado. Era uma ilusão de regresso à paz que essa odisseia lhe anunciava.
Quando estendia o olhar pela maresia, até ao horizonte, o seu
pensamento detinha-se lá ao longe, atravessava o abismo do extenso atlântico
para se aprimorar nas praias quentes donde se fabricavam sonhos de liberdade e
poesia.
Mas, não raras vezes, dava-se conta que a realidade era muito
mais austera e prisioneira de um destino que exige ser cumprido. Como um vento
que sopra de um país imaginário, também o seu pensamento voltava ao cais dos
barcos de velas contidas.
Via passar o tempo como uma miragem de saudade. E, olhando mais
adiante, adivinhava um caminho que retomava o fado que algures tinha perdido. A
sua esperança era que, apesar de curto, o haveria de percorrer com a ousadia
que tinha sido a sua imagem de marca ao longo de décadas. Numa certeza de azul
e mar!
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