Foto: Carlos da Gama |
A mesma marginal, o inalterado complexo do Inatel e, lá bem em baixo, o mesmo lago vestido de águas transparentes.
O mesmo enlevo quando
estendo o olhar admirado para o recorte montanhoso ali tão próximo.
O mesmo
impulso de calmaria nesta tarde que se segue a tantas outras. Hoje, apenas algumas negras nuvens e um vento geladinho retiram
a sensação quente de outrora.
O tempo, de cerca de quinze anos, voou num instante. Ainda
lembro, com a nitidez do vivenciado, o som da gritaria emergindo da Lagoa,
garantia de um recreio feliz às famílias que ali se espraiavam numa algazarra
descomprometida. Hoje, apenas se atrevem alguns jovens surfando de «kitesurf's» que os arrastam pelas águas ao sabor da força dos ventos.
Cá estou a saborear os mesmos cheiros e cores, misturados com
um silêncio só interrompido com o breve chilreio da passarada que habita esta magnífica
Lagoa de Óbidos. Este local faz-me bem à alma, sem dúvida!
Cai uma chuva copiosa e fria. Louis Armstrong canta «Cést si bon» ao som da trompete e demais
orquestra, emprestando magia a este momento.
O tempo aprisiona-me na Micha, excepcional zona de conforto. É a natureza a anunciar as vestes do Outono e o início da sua hibernação.
Daí que as árvores ainda não se tenham despido até à nudez completa.
Algumas exibem pétalas mais persistentes numa orgia de amarelos e ocres,
oferecendo um colorido deslumbrante à paisagem que nos rodeia.
Há algo de eterno neste lugar.
É incontido o impulso para fruir desta bebedeira de cores, silêncios e transparentes linhas de água que rumorejam pelo espraiado.
É incontido o impulso para fruir desta bebedeira de cores, silêncios e transparentes linhas de água que rumorejam pelo espraiado.
O céu triste chora uma chuva que aquece o ambiente deste meu
cismar. Há instantes que valem a vida. Como este!
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