De quando em vez, a nostalgia não o larga. Vem com uma saudade que o emudece e um devaneio que o atormenta.
Ainda não conseguiu encerrar o capítulo que abandonou lá atrás.
Por vezes, a memória reprime-o
quando faz emergir contextos dispensáveis. Como que a lembrar a necessidade de
esquecer a inquietante nudez de cada momento. E de desprezar os olhares que o rondavam
e que dissimulavam o veneno que havia de ser derramado algures.
Sempre recorda que, ao seu redor, gravitavam
almas tristes, propensas ao desânimo e portadoras de uma coexistência ressentida.
E que foi, em certos momentos, adulado por vidas sem luz que o iludiam com
falsos afectos de submissão cobarde e oportunista. Mas, para si, isso já não
constituía novidade. Há muito que confirmara que cada pessoa é um mistério e um
abismo de incógnitas e incertezas.
Pressentia, naquele tempo, a
ilusão do embuste. Aprendeu que o ser humano é um enigma difícil de
decifrar. Compreendeu que a vida é uma brisa de vento breve. Descobriu que a
luz só é perene no seio dos afectos nucleares. Decidiu não confiar a alma ao
diabo, não abrir o peito às balas e ignorar a insidiosa poeira do tempo.
Passou a ser mais exigente com o carácter
e a amizade, após um longo período de aprendizagem sofrida. Foi um caminho
lento até ao cabo das tormentas, desafio maior de toda a vida. No percurso, deixou
a pele espalhada pelas ásperas ramagens do desassossego.
A perspectiva a que se impunha era
totalmente contrária ao que sempre tinha imaginado. Mas tudo se consumou. De
repente, viu-se num horizonte mais brilhante, navegando por sobre águas
tranquilas. A rota tinha sido alterada. Os sonhos eram de outra cor. A vida ganhara
novas fronteiras ...
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