segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Novas fronteiras …




De quando em vez, a nostalgia não o larga. Vem com uma saudade que o emudece e um devaneio que o atormenta. Ainda não conseguiu encerrar o capítulo que abandonou lá atrás.
Por vezes, a memória reprime-o quando faz emergir contextos dispensáveis. Como que a lembrar a necessidade de esquecer a inquietante nudez de cada momento. E de desprezar os olhares que o rondavam e que dissimulavam o veneno que havia de ser derramado algures.
Sempre recorda que, ao seu redor, gravitavam almas tristes, propensas ao desânimo e portadoras de uma coexistência ressentida. E que foi, em certos momentos, adulado por vidas sem luz que o iludiam com falsos afectos de submissão cobarde e oportunista. Mas, para si, isso já não constituía novidade. Há muito que confirmara que cada pessoa é um mistério e um abismo de incógnitas e incertezas.
Pressentia, naquele tempo, a ilusão do embuste. Aprendeu que o ser humano é um enigma difícil de decifrar. Compreendeu que a vida é uma brisa de vento breve. Descobriu que a luz só é perene no seio dos afectos nucleares. Decidiu não confiar a alma ao diabo, não abrir o peito às balas e ignorar a insidiosa poeira do tempo.
Passou a ser mais exigente com o carácter e a amizade, após um longo período de aprendizagem sofrida. Foi um caminho lento até ao cabo das tormentas, desafio maior de toda a vida. No percurso, deixou a pele espalhada pelas ásperas ramagens do desassossego.
A perspectiva a que se impunha era totalmente contrária ao que sempre tinha imaginado. Mas tudo se consumou. De repente, viu-se num horizonte mais brilhante, navegando por sobre águas tranquilas. A rota tinha sido alterada. Os sonhos eram de outra cor. A vida ganhara novas fronteiras ...


Sem comentários:

Enviar um comentário