quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Seres errantes ...





 
Adoro este odor, feito cocktail de cheiros silvestres com maresia, que emerge do capim dos campos que ladeiam a caminhada matinal de Vila Praia de Âncora a Moledo do Minho.

Está uma manhã cálida, apesar do sol se ter refugiado por detrás das nuvens. 
A pista que percorro transporta vários veraneantes, quer em marcha, mais ou menos apressada, quer de bicicleta, quer em corridas esforçadas a suor.

O mar mostra-se ao lado entretido na labuta diária de empurrar, cadenciadamente, as águas contra as rochas deste recanto do meu país. 
É aqui que buscamos as saudades de outros momentos que fazem a melhor memória das nossas vidas. 
Era cá que, na juventude, exercíamos a liberdade selvagem em campismo postado mesmo junto ao Forte de Âncora. 
Mais tarde, quando os infantes careceram de maior conforto, o veraneio fez-se em casas alugadas à quinzena. 
Agora, a Micha acolhe-nos e transporta-nos para os locais que, a cada momento, mais desejamos.
 

Trata-se de uma modalidade de turismo de proximidade que permite viajar pelo mundo de forma apaixonante. Enquanto é tempo!

Vila Praia de Âncora encontra-se engalanada por força dos festejos gastronómicos, com o Espadarte a pontificar no cartaz, por alguns dias.
A tarde vai-se esvaindo lentamente. 
O sol pálido desce no horizonte até passar a fronteira de outras latitudes. Ainda aquece o ambiente, apesar do vento agreste que fustiga as águas deste mar de muitos rochedos.

Um bando de gaivotas pousa junto da rebentação, talvez à espera que as águas recuem para uma baixa maré que lhe descubra o sustento que carecem. 

Por estes dias, conhecemos o José, nosso vizinho no bairro de autocaravanas. 

Homem solitário, de idade avançada, todos os dias aguarda o recuo do mar para recolher o marisco que mais aprecia: os percebes. 

Conhecedor de meio mundo, o José passa mais de metade do ano na sua casa rolante, sempre colado à costa portuguesa. 

Em Novembro refugia-se no Algarve para aí passar o inverno, beneficiando de um clima mais ameno. 

A vida está cheia destes seres errantes que se habituaram a conviver bem com os silêncios que construíram durante a vida.

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