Adoro este odor, feito cocktail de
cheiros silvestres com maresia, que emerge do capim dos campos que ladeiam a caminhada
matinal de Vila Praia de Âncora a Moledo do Minho.
Está uma manhã cálida, apesar do
sol se ter refugiado por detrás das nuvens.
A pista que percorro transporta vários
veraneantes, quer em marcha, mais ou menos apressada, quer de bicicleta, quer em
corridas esforçadas a suor.
O mar mostra-se ao lado entretido
na labuta diária de empurrar, cadenciadamente, as águas contra as rochas deste
recanto do meu país.
Era cá que, na juventude, exercíamos a
liberdade selvagem em campismo postado mesmo junto ao Forte de Âncora.
Mais
tarde, quando os infantes careceram de maior conforto, o veraneio fez-se em
casas alugadas à quinzena.
Agora, a Micha acolhe-nos e transporta-nos para os
locais que, a cada momento, mais desejamos.
Trata-se de uma modalidade de
turismo de proximidade que permite viajar pelo mundo de forma apaixonante. Enquanto
é tempo!
Vila Praia de Âncora encontra-se
engalanada por força dos festejos gastronómicos, com o Espadarte a pontificar no
cartaz, por alguns dias.
O sol pálido desce no horizonte até passar a fronteira de outras
latitudes. Ainda aquece o ambiente, apesar do vento agreste que fustiga as
águas deste mar de muitos rochedos.
Um bando de gaivotas pousa junto
da rebentação, talvez à espera que as águas recuem para uma baixa maré que lhe descubra
o sustento que carecem.
Por estes dias, conhecemos o José,
nosso vizinho no bairro de autocaravanas.
Homem solitário, de idade avançada, todos os dias
aguarda o recuo do mar para recolher o marisco que mais aprecia: os percebes.
Conhecedor de meio mundo, o José passa mais de metade do ano na sua casa rolante,
sempre colado à costa portuguesa.
Em Novembro refugia-se no Algarve para aí
passar o inverno, beneficiando de um clima mais ameno.
A vida está cheia destes
seres errantes que se habituaram a conviver bem com os silêncios que
construíram durante a vida.
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