«… quando fechamos o livro e julgamos que tudo
fica encerrado lá dentro, por vezes sucede o inverso: sai tudo de lá de dentro,
excepto justamente as palavras. A história e os personagens fogem das
páginas e vão vaguear por aí, assaltando-nos em sonhos, numa praça longínqua de
uma cidade estranha, numa manhã de chuva ou um corredor de hospital».
Miguel
Sousa Tavares, in «Não se encontra o que se procura»
Uma
vez mais, privo com o Cávado pelas bandas de Gemeses.
Amo estar aqui na
contemplação deste quadro bucólico de pura natureza, apesar, ou por causa da
nudez das árvores e do súbito emagrecimento do rio, provocado pela baixa-mar.
Embebedo-me
dos sons da passarada que rejubila pelo escasso e tímido sol que aconchega esta
manhã de Janeiro.
Acabei
de ler o livro «Não se encontra o que se
procura», de Miguel Sousa Tavares. Adoro este escritor tardio que,
paradoxalmente, me provoca a entrar dentro de mim para encontrar o que sempre
procuro: resposta para as inquietações que me trazem cativo, desde que me
conheço!
Miguel
Sousa Tavares tem uma escrita luminosa e de agradável leitura e possui o condão
de nos fazer sonhar. Surpreende quando fala da alma contida num livro. E coloca
os personagens e a história que os une a abandonar o livro para vaguearem por outros
romances, deixando na estante apenas as palavras, espécie de corpo físico.
É
bela e inédita esta visão humana de um romance que, desta forma, nos transporta
para outros confins do sonho e da construção literária.
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