«Aprendi que os imbecis estão mais perto de nós do que nós
pensamos»
(Pedro Boucherie Mendes)
De
repente, quase sem dar por nada, ei-lo, para ali, lambendo as mágoas de um
tempo inquietante, por demais. Quem diria que, em idade madura, toda uma vida densamente
mourejada se desfizesse ao vento por entre uma turba sequiosa de renovados
sabores e tramas.
Joana |
E que, à hora menos esperada pela razão, surgem devaneios
sórdidos a desassossegar os critérios em que sempre nos confiamos.
Nesses
momentos, socorremo-nos de energias residuais para não nos desviarmos do rumo desde
sempre traçado.
Constato que cedo incorporou a vertigem sentida pela intriga infame que lhe mereceu sentimentos de menosprezo. Mas sei
que aprendeu com os seus «maiores» que, mais do que anatematizar certa direcção
de afectos, o melhor é compreendê-la na sua circunstância e contexto psicossocial.
Daí que, apesar de tudo, prefira relativizar o modo e a circunstância, navegando
pela bela história de amor que esteve na origem do seu advento.
Há muito que deixou de se ralar com questões
filosóficas do tipo de donde vimos e para onde vamos. Porque é já distante o
tempo do reacondicionamento dos afectos. Escasseia o fôlego e a coragem para o redesenhar
dos sentidos.
Confirmo
que a defesa da dignidade da sua alma gémea continua a ser o motor que sempre norteou
as suas opções de vida. Mesmo para lá do tempo que ele percebeu definitivo. Pois,
para ele, o longo pousio do silêncio permanecerá inerte «forever and ever».
Quanto
ao demais, mormente sobre as aleivosias trazidas por ventos desabridos, recolhe-se
no que, um dia, escreveu Miguel Torga, «Não há como o tempo para tornar
relativos os juízos absolutos».
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