sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Companheiro de eleição!






Este rio é de águas cristalinas e serpenteia sem esforço até à foz. 
Âncora, de seu nome, a doce transparência do veio de água dá a conhecer o deslumbre das tainhas ou negrões que saltam efusivamente reflectindo ao sol a parte do seu dorso mais prateado.
Ladeando o rio até perto da foz, estende-se uma espécie de capim ou de campo de trigo doirado, emprestando-lhe um bucolismo que impressiona.
Um passeio pela ponte, já meio vandalizada por forasteiros do alheio, embrenha-nos para uma quase ilha verde que se percorre por cimo da levada de madeira. 

Mas este curso é interrompido bruscamente por uma falésia de areia donde se avista, à esquerda, a curvatura do Âncora.
À direita é o largo mar que se desfaz em resmungada espuma.
Em vez de percorrer a praia, decido subir o morro para tomar um outro passadiço, sobranceiro ao oceano, que vai desaguar no parque de estacionamento da praia da Gelfa. 
Apeteceu-me correr, na liberdade da brisa fresca da manhã, sorvendo os odores da flora que, pela abundância e ausência de uso, começa a invadir a estreita estrada de madeira.
Vejo-me por entre uma multiplicidade de cores, desde o azul do mar e o céu pontilhado de pequenas nuvens brancas, ao verde forte dos arbustos que ladeiam o passadiço. 
E aí, o meu pensamento voa em liberdade por marcantes memórias recentes da minha vida.

A Tonicha preferiu permanecer na margem do Âncora, não só, a apreciar o bailado das tainhas nas águas transparentes, mas também, acordando memórias do tempo de infância dos nossos afectos, quando por cá veraneávamos, por uma boa quinzena, e povoávamos este paradisíaco local.
É neste remanso que leio a poesia de Miguel Torga, escritor que me acompanha há bastante tempo numa luminosidade literária que me deslumbra. Tem sido um companheiro de eleição!

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