Este rio é de águas cristalinas e
serpenteia sem esforço até à foz.
Âncora, de seu nome, a doce transparência do
veio de água dá a conhecer o deslumbre das tainhas ou negrões que saltam
efusivamente reflectindo ao sol a parte do seu dorso mais prateado.
Ladeando o rio até perto da foz,
estende-se uma espécie de capim ou de campo de trigo doirado, emprestando-lhe um
bucolismo que impressiona.
Um passeio pela ponte, já meio
vandalizada por forasteiros do alheio, embrenha-nos para uma quase ilha verde
que se percorre por cimo da levada de madeira.
Mas este curso é interrompido
bruscamente por uma falésia de areia donde se avista, à esquerda, a curvatura
do Âncora.
À direita é o largo mar que se desfaz em resmungada espuma.
Em vez de percorrer a praia,
decido subir o morro para tomar um outro passadiço, sobranceiro ao oceano, que
vai desaguar no parque de estacionamento da praia da Gelfa.
Apeteceu-me correr,
na liberdade da brisa fresca da manhã, sorvendo os odores da flora que, pela
abundância e ausência de uso, começa a invadir a estreita estrada de madeira.
Vejo-me por entre uma multiplicidade
de cores, desde o azul do mar e o céu pontilhado de pequenas nuvens brancas, ao
verde forte dos arbustos que ladeiam o passadiço.
A Tonicha preferiu permanecer na
margem do Âncora, não só, a apreciar o bailado das tainhas nas águas
transparentes, mas também, acordando memórias do tempo de infância dos nossos
afectos, quando por cá veraneávamos, por uma boa quinzena, e povoávamos este paradisíaco
local.
É neste remanso que leio a poesia
de Miguel Torga, escritor que me acompanha há bastante tempo numa luminosidade
literária que me deslumbra. Tem sido um companheiro de eleição!
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