domingo, 22 de dezembro de 2013

Viagens de costa à vista







Chove a cântaros. Pelo caminho, que me trouxe a Esposende, o céu deixou surgir o sol por entre nuvens carregadas de água. 
Foi de «pouca dura», pois, toda a tarde a Micha enfrentou fortes bátegas de vento molhado e tresloucado.
A ponto de, há momentos, a ter ajustado à direcção mais aconselhada à tempestade, «não fosse o diabo tecê-las»!
O estuário do Cávado está cheio como nunca. As águas estão inquietas num deambular brusco e desajeitado. 
De quando em vez, uma nuvem mais generosa deixa o sol espreitar por uma fresta lá no horizonte. 
Mas depressa se inicia um novo ribombar de bátegas contra a Micha.
 
Este espaço contíguo ao refúgio das naus pesqueiras, é bem iluminado. 
Por aqui aportam almas solitárias retidas nas viaturas pela ferocidade do tempo. Vêm cá para olhar o estuário e, porventura, pensar na vida em que se enredam.
A escassos metros, repousam o «S. Pedro» e a «Margarida», dois barcos retirados do rio até que a tempestade amaine. 
Na doca, os barcos pesqueiros descansam até melhores dias. 
Mais ao longe, ouve-se o rugido dramático e sibilino do Farol, como que a rogar cuidados acrescidos a qualquer embarcação perdida na lonjura do oceano.

A noite prevê-se balanceada pelos ventos e bem fustigada pela tormenta anunciada. 
No remanso da Micha, o Kiko mostra-se atento aos movimentos menos ortodoxos. É um excelente vigilante nestas viagens de costa à vista.

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