Chove a cântaros. Pelo caminho, que me trouxe a
Esposende, o céu deixou surgir o sol por entre nuvens carregadas de água.
Foi de
«pouca dura», pois, toda a tarde a Micha enfrentou fortes bátegas de vento
molhado e tresloucado.
A ponto de, há momentos, a ter ajustado à direcção mais
aconselhada à tempestade, «não fosse o diabo tecê-las»!
O estuário do Cávado está cheio como nunca. As águas
estão inquietas num deambular brusco e desajeitado.
De quando em vez, uma nuvem
mais generosa deixa o sol espreitar por uma fresta lá no horizonte.
Mas depressa
se inicia um novo ribombar de bátegas contra a Micha.
Este espaço contíguo ao refúgio das naus
pesqueiras, é bem iluminado.
Por aqui aportam almas solitárias retidas nas
viaturas pela ferocidade do tempo. Vêm cá para olhar o estuário e, porventura,
pensar na vida em que se enredam.
A escassos metros, repousam o «S. Pedro» e a «Margarida»,
dois barcos retirados do rio até que a tempestade amaine.
Na doca, os barcos
pesqueiros descansam até melhores dias.
Mais ao longe, ouve-se o rugido dramático
e sibilino do Farol, como que a rogar cuidados acrescidos a qualquer embarcação
perdida na lonjura do oceano.
A noite prevê-se balanceada pelos ventos e bem
fustigada pela tormenta anunciada.
No remanso da Micha, o Kiko mostra-se atento
aos movimentos menos ortodoxos. É um excelente vigilante nestas viagens de
costa à vista.
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