quinta-feira, 21 de julho de 2016

Tempo de zarpar!



Sempre cultivei um imenso respeito pela corajosa opção de vida que desdenha da vivência aburguesada e certinha. Sempre nutri um certo enlevo pelas imagens que mostram a vida nos confins da selva, entre rios corredios, ou de águas mais serenas, e veredas luxuriantes povoadas por putos de arco e flecha. O sentimento que me invade, nesses instantes de deslumbramento, é de que, por ali, a vida tem sabor a felicidade.
Noutras circunstâncias, porém, assalta-me a dúvida sobre se esse modo de vida, de céu aberto, será, de facto, a expressão da liberdade total. Mas, pressinto que o desprezo pela vida corredia e o redesenhar dos sentidos libertam a alma, impelindo-a a navegar em quimeras de outros caudais mansos e frescos. 

A relação humana continua a ser um mistério que sempre nos sobressalta. Mormente, quando, após uma fase de ruptura natural da nossa vivência colectiva, se inicia um percurso diverso do que existiu até aí.
De início, vive-se a ilusão de que tudo vai voltar a ser o que sempre foi. Com o passar do tempo, apercebemo-nos que se estabeleceu um novo ciclo e que nada será como dantes. Porque, nunca nada será como dantes, por muito que ambicionemos.
Por vezes, donde esperamos consideração, colhemos ausência. Onde construímos celebração, passa a haver melancolia e saudade. Onde havia agregação, subsiste memória de momentos aprazíveis. 
Porque a vida é sempre uma lição, chegou, porventura, o tempo de zarpar!

4 comentários:

  1. Os meus «infantes» sempre estarão comigo ... qualquer que seja a lonjura ou a liberdade do pensamento! bjo

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  2. Descobri este espaço e gostei bastante. Ficarei por aqui a "zarpar" pelos imensos relatos.

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    1. Obrigado pela passagem por esta «estrada» e pelas amáveis palavras. Até sempre!

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