sábado, 26 de julho de 2014

Veigas de Lamas de Mouro




- Tens filmes para visualizarmos esta noite?
A pergunta soou nos meus ouvidos quase como uma blasfémia. 
Era o que faltava vir para as «veigas de Lamas de Mouro» munido de uma série de fitas de aviário. 
O tempo, por aqui, tem de ser ocupado na contemplação, sem dúvida! 
Mesmo que na serra o dia anoiteça cedo e o horizonte se aproxime mais de nós.
Ao elevar o olhar pela paisagem, o azul do céu segue-se, imediatamente, ao verde dos vidoeiros, abetos, pinheiros, teixos, castanheiros e carvalhos, entre outras variedades da rica flora que inunda este vasto Parque Nacional da Peneda-Gerês.
Chegamos, já a tarde amadurecia. Mas ainda vimos fumos pelos relvados agrestes e pressentimos murmúrios de vozes, quentes de mosto, dos que aproveitam o dia todo na companhia da impressionante beleza paisagística de Lamas de Mouro.
O sol de verão ainda alumia as verdes pétalas da luxuriante vegetação. 
Há momentos, percorri alguns trilhos próximos do veio de água que se desnuda em todo o esplendor. 
Sempre me impressionaram as ribeiras do Gerês que, por tão transparentes, fazem questão de mostrar as entranhas, num sereno convite ao mergulho nas suas águas.
Vir para estas paragens de sonho, faz bem à alma.
Gostaria, até, de me perpetuar por aqui um bom par de semanas. Porque sinto-me mais perto de mim. 
Aqui revivo os silêncios de que sou tão carente. 
Aqui aprecio melhor esta ancestral relação da vida com a natureza, donde nunca devíamos ter saído. 
Aqui consigo deixar mais longe a artificialidade da vida e entregar a ilusão aos prados e montes que me rodeiam.

O Rio de Mouro passa a meus pés com as suas águas translúcidas e sossegadas. Não se vê ou sente vivalma.

Todo este oásis do Gerês, esverdeado pelas chuvas invernais, está repleto de árvores de espécies autóctones.

São as Veigas de Lamas de Mouro que fizeram o encanto da minha juventude. 
Era para cá que vinha, quase todos os anos, «carregar baterias» para o stress citadino e laboral. 

Normalmente, passava cá os últimos dias de férias de final de Verão e, quase sempre, tinha a chuva por companhia. 
Mas existe maior encanto em tempo quente e soalheiro. Porque o calor permite um outro olhar das águas mansas que serpenteiam pela floresta.

O silêncio é absoluto. 
Apenas se ouve ao longe o chilreio dos pássaros que por aqui curtem a vida. 
A própria brisa, que nos aconchega, não é suficiente para importunar os ramos dos ulmeiros, castanheiros e vidoeiros que se estendem pelo planalto.
Está uma tarde de sonho. 
O quadro bucólico que me rodeia é tão pujante, tão maravilhoso, que gostava de possuir engenho bastante para o retratar em palavras. 
Gostava de pintar a transparência das águas que passam de mansinho pelos trilhos fluviais. Amava retratar o verde da floresta encimado pelo azul do céu. Queria saber criar o sabor da brisa que me prende os pensamentos a esta vida. Nas veigas de Lamas de Mouro.

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