- Tens filmes para visualizarmos esta noite?
A pergunta soou nos meus ouvidos
quase como uma blasfémia.
Era o que faltava vir para as «veigas de Lamas de
Mouro» munido de uma série de fitas de aviário.
O tempo, por aqui, tem de ser
ocupado na contemplação, sem dúvida!
Mesmo que na serra o dia anoiteça cedo e o
horizonte se aproxime mais de nós.
Ao elevar o olhar pela paisagem, o
azul do céu segue-se, imediatamente, ao verde dos vidoeiros, abetos, pinheiros, teixos, castanheiros e carvalhos, entre
outras variedades da rica flora que inunda este vasto Parque Nacional da
Peneda-Gerês.
O sol de verão ainda alumia as
verdes pétalas da luxuriante vegetação.
Há momentos, percorri alguns trilhos
próximos do veio de água que se desnuda em todo o esplendor.
Vir para estas paragens de sonho,
faz bem à alma.
Gostaria, até, de me perpetuar por aqui um bom par de semanas.
Porque sinto-me mais perto de mim.
Aqui revivo os silêncios de que sou tão
carente.
Aqui aprecio melhor esta ancestral relação da vida com a natureza,
donde nunca devíamos ter saído.
Aqui consigo deixar mais longe a
artificialidade da vida e entregar a ilusão aos prados e montes que me
rodeiam.
O Rio de Mouro passa a meus pés
com as suas águas translúcidas e sossegadas. Não se vê ou sente vivalma.
Todo este oásis do Gerês,
esverdeado pelas chuvas invernais, está repleto de árvores de espécies
autóctones.
São as Veigas de Lamas de Mouro
que fizeram o encanto da minha juventude.
Normalmente,
passava cá os últimos dias de férias de final de Verão e, quase sempre, tinha a
chuva por companhia.
Mas existe maior encanto em tempo quente e soalheiro.
Porque o calor permite um outro olhar das águas mansas que serpenteiam pela
floresta.
O silêncio é absoluto.
A própria brisa,
que nos aconchega, não é suficiente para importunar os ramos dos ulmeiros,
castanheiros e vidoeiros que se estendem pelo planalto.
Está uma tarde de sonho.
O
quadro bucólico que me rodeia é tão pujante, tão maravilhoso, que gostava de
possuir engenho bastante para o retratar em palavras.
Gostava de pintar a
transparência das águas que passam de mansinho pelos trilhos fluviais. Amava
retratar o verde da floresta encimado pelo azul do céu. Queria saber criar o
sabor da brisa que me prende os pensamentos a esta vida. Nas veigas de Lamas de Mouro.
Sem comentários:
Enviar um comentário