«Sim, minha força está na solidão. Não tenho medo, nem de chuvas temprestivas, nem de grandes ventanias soltas, pois, eu também sou o escuro da noite».
Clarice Lispector in «A hora da estrela»
Sentia-se meio perdido por entre reminiscências de anos submersos em abismos proibidos.
E divagava por entre sombras que tinham ficado lá atrás, preferindo um olhar mais macio do porvir.
Narciso suspendeu aquele instante para cismar o momento numa singular calmaria.
Sabia que o rumo em que se movia ia-se desfazendo em pó há
um bom tempo;
Vivenciou a vertigem do desassossego pela inquietude em que se achava mergulhado.
O sufoco das vigilias soturnas teimava em povoar-lhe a memória desfeita em vento.
Nos
últimos tempos, Narciso mostrava-se prenhe de silêncios nocturnos,
de vivências falhadas e de medos sem futuro.
A quimera que se esvaia em espuma acrescia-lhe inquietações que o retiam num entusiasmo descontente. Dia após dia!
Ansiava pelo retorno às manhãs bonanceiras de sonhos derramados numa vida sem regresso. Mas temia que já fosse tarde demais, pois, parecia que o fado da noite se tinha colado à sua pele.
Até quando?
C G
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