domingo, 25 de julho de 2021

Tempo de ouro!

 



O azul profundo, mais ao largo, faz um excelente contraste com a alvura remexida pelo embate das ondas contra as rochas de Vila Praia de Âncora.

Para Narciso, este vilarejo soube sempre a sol de verão.

Foi lá que sonhou a primeira juventude, quando o campismo rebelde se fazia junto à fortaleza local. Nesse tempo já distante, tudo era novidade e desassombro.

Narciso adora relembrar aquele mês de Agosto pós-revolucionário passado nesse cantinho de luz e mar na companhia de sua companheira e de um jovem casal de amigos.

Foi um tempo de encanto e aventura, de exercício dos afetos pelas longas noites de luar e remanso das ondas do oceano, dentro de uma pequena tenda «apache», reprimindo, a custo, os devaneios dos corpos inquietos.

Foi um tempo de pleno exercício de liberdade, pela ousadia dos sentidos, com a brisa de maresia a seduzir aqueles apaixonados na fruição do esplendor da lua brilhando no horizonte de céu e mar.

Mas, também, tempos austeros, pois, o país, à época, para além de conviver com um processo revolucionário decorrente dos equívocos do «25 de Abril», teve que aconchegar os milhares de fugitivos das possessões africanas devido à guerra civil que se instalou nos novíssimos países de Angola e Moçambique.

O Pedro, homem franzino, dedicado ao jornalismo, cheio de alegria de viver, era um dos regressados dessa epopeia africana.

A família tinha-se refugiado na região do Minho, onde dispunham de alguns bens legados pelos seus antepassados, e lançou-se, de novo, à vida.

Foi com ele e a sua jovem namorada que Narciso e a sua companheira viveram aquele sonho de verão. Um verdadeiro tempo de ouro, aquele!

O Pedro já não está entre nós. Mas Narciso sempre prefere recordá-lo na vivência feliz daqueles dias, como dos melhores da sua vida.

CG



2 comentários:

  1. As pessoas só deixam de existir, quando a última pessoa se deixar de lembrar dela. Abraço "Narciso"

    ResponderEliminar
  2. Mesmo. Gosto muito de te ver por aqui. Abraço.

    ResponderEliminar