Um passeio
pela praia, ao entardecer, é sempre um exercício de reflexão solitária. Os
pensamentos voam como o vento que acaricia o rosto quente por um sol de estio.
Pousamos o olhar no mar, até ao horizonte, e uma sensação de liberdade entra por
nós adentro impelida por um desejo de correr de braços abertos para que a magia
do momento se eternize.
Sentimos o
mundo artificial bem afastado e esquecido e reconfortamo-nos em paisagens
singulares, longe do quotidiano rotineiro.
São momentos propícios a evocar
episódios vividos com intensidade, há mais ou menos tempo.
Sobretudo, quando o inesperado nos toma por inteiro e imprime marcas profundas e perenes na alma, fazendo a vida ganhar novo sentido.
Sobretudo, quando o inesperado nos toma por inteiro e imprime marcas profundas e perenes na alma, fazendo a vida ganhar novo sentido.
Ora, o
desaparecimento de um dos nossos familiares mais queridos, apesar de expectável pelo tempo vivido, é sempre um momento único de dor e angústia onde
a racionalidade se perde num emaranhado de emoções difíceis de controlar.
Os primeiros
tempos são de incompreensão sofrida pelo desenlace a que se segue uma contida
raiva contra o destino comum, a começar pelos nossos maiores. Depois, o tempo
encarrega-se de nivelar emoções e injectar doses de resignação, muitas vezes
alojada em crenças num reencontro futuro.
Ruminava
tudo isto, há momentos, durante a caminhada junto ao mar de Porto Covo, na
companhia de um pôr-do-sol de cores quentes. Mas era a forma como cada um de
nós se confronta e reage, perante a adversidade, que mais puxava a minha reflexão.
Diz-se, e eu
acredito, que não há maior dor que o desaparecimento de um filho. Mas também
asseguro que não há menos dor quando a nossa mãe decide partir em direcção ao
infinito. Porque é a ela que lhe devemos a vida e a aprendizagem da ternura e dos
afectos que nos qualificam como seres humanos.
Por isso, e
não só, sempre pensei que um imprevisto desses funcionaria como cimento, ainda
mais agregador, dos filhos, sobretudo quando, até aí, os humores de alguns nem
sempre foram consequentes.
Seria impensável, para mim, que uma tragédia daquelas
originasse uma maior separação dos que, até então, estavam unidos, quer na
amizade fraterna, quer na atenção com o ser que nos gerou.
A ser assim,
quero acreditar tratar-se de um paradoxo do destino, de um absurdo, de uma
nova provação, de um equívoco ou seja lá o que for.
Não se compreende, de todo, a
postura de negação que se sobrepõe à continuidade do espírito gregário que,
indiscutivelmente, sempre foi o anseio do maravilhoso ser humano que nos
deixou.
Ao longo da
minha vida, aprendi que se leva
anos para se construir confiança e apenas segundos para a destruir.
Ainda
assim, acredito que o tempo faz sempre o seu caminho, qualquer que seja a
distância e a circunstância. Sobretudo quando estão em causa afectos de
proximidade. Oxalá!
"O tempo não só cura, mas também reconcilia."
ResponderEliminarVictor Hugo
Oxalá seja curto!!
Beijinho grande, adoro-vos!