quinta-feira, 10 de setembro de 2015

Afectos de proximidade!


Um passeio pela praia, ao entardecer, é sempre um exercício de reflexão solitária. Os pensamentos voam como o vento que acaricia o rosto quente por um sol de estio. 
Pousamos o olhar no mar, até ao horizonte, e uma sensação de liberdade entra por nós adentro impelida por um desejo de correr de braços abertos para que a magia do momento se eternize.
Sentimos o mundo artificial bem afastado e esquecido e reconfortamo-nos em paisagens singulares, longe do quotidiano rotineiro. 
São momentos propícios a evocar episódios vividos com intensidade, há mais ou menos tempo. 
Sobretudo, quando o inesperado nos toma por inteiro e imprime marcas profundas e perenes na alma, fazendo a vida ganhar novo sentido.
Ora, o desaparecimento de um dos nossos familiares mais queridos, apesar de expectável pelo tempo vivido, é sempre um momento único de dor e angústia onde a racionalidade se perde num emaranhado de emoções difíceis de controlar.
Os primeiros tempos são de incompreensão sofrida pelo desenlace a que se segue uma contida raiva contra o destino comum, a começar pelos nossos maiores. Depois, o tempo encarrega-se de nivelar emoções e injectar doses de resignação, muitas vezes alojada em crenças num reencontro futuro.
Ruminava tudo isto, há momentos, durante a caminhada junto ao mar de Porto Covo, na companhia de um pôr-do-sol de cores quentes. Mas era a forma como cada um de nós se confronta e reage, perante a adversidade, que mais puxava a minha reflexão.
Diz-se, e eu acredito, que não há maior dor que o desaparecimento de um filho. Mas também asseguro que não há menos dor quando a nossa mãe decide partir em direcção ao infinito. Porque é a ela que lhe devemos a vida e a aprendizagem da ternura e dos afectos que nos qualificam como seres humanos.
Por isso, e não só, sempre pensei que um imprevisto desses funcionaria como cimento, ainda mais agregador, dos filhos, sobretudo quando, até aí, os humores de alguns nem sempre foram consequentes. 
Seria impensável, para mim, que uma tragédia daquelas originasse uma maior separação dos que, até então, estavam unidos, quer na amizade fraterna, quer na atenção com o ser que nos gerou.
A ser assim, quero acreditar tratar-se de um paradoxo do destino, de um absurdo, de uma nova provação, de um equívoco ou seja lá o que for. 
Não se compreende, de todo, a postura de negação que se sobrepõe à continuidade do espírito gregário que, indiscutivelmente, sempre foi o anseio do maravilhoso ser humano que nos deixou.

Ao longo da minha vida, aprendi que se leva anos para se construir confiança e apenas segundos para a destruir. 
Ainda assim, acredito que o tempo faz sempre o seu caminho, qualquer que seja a distância e a circunstância. Sobretudo quando estão em causa afectos de proximidade. Oxalá!

1 comentário:

  1. "O tempo não só cura, mas também reconcilia."

    Victor Hugo

    Oxalá seja curto!!

    Beijinho grande, adoro-vos!

    ResponderEliminar