terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Afectos ciganos



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O dia nasceu cinzento e assim vai continuar. As nuvens parecem altaneiras e o ambiente sem cor. 
A música clássica jorra da Antena 2 fazendo companhia ao vaguear dos meus olhos pelo imenso parque de estacionamento do centro de Barcelos.

A visita a um familiar moribundo trouxe-me até aqui. As pessoas, em grupos, aproximam-se da unidade de saúde. É a hora da visita hospitalar, uma obrigação social bem arreigada no nosso povo. Qualquer que seja o diagnóstico de quem se encontra internado.
Penso, por vezes, que, neste particular, aproximamo-nos dos afectos ciganos: quando as fragilidades do corpo nos entra pela família dentro, há o «toque a reunir». Porque sempre julgamos que, quanto mais próximos, mais fortes!

Lá fora, as árvores dirigem para o céu a sua nudez. Aguardam que o sol se aproxime um pouco mais para emergir em força da hibernação forçada.
Este tempo, de escassa luz, pouco sol e frio quanto baste, leva para longe o voo dos pássaros e emudece a alma das plantas.
E custa a entender a razão destas se despirem, precisamente, na época em que era pressuposto o contrário. Talvez seja puro masoquismo este sacrifício da natureza. Ou uma mensagem de que é necessário morrer para renascer em todo o esplendor. 

Começou a chover de mansinho, dificultando a vida aos arrumadores que, ainda assim, teimam em continuar a sua função, por certo, na esperança de acrescentar, um pouco mais, o seu pecúlio até ao final do dia.

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Mozart mantém-se, no aconchego do meu carro, com a sua música eterna. A tarde vai-se esgotando aos poucos. As pessoas deambulam de um lado para o outro, com as feições a denunciar a temperatura de mais um dia de inverno.  Que acrescento à vida!

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