O dia nasceu
cinzento e assim vai continuar. As nuvens parecem altaneiras e o ambiente sem
cor.
A música clássica jorra da Antena 2 fazendo companhia ao vaguear dos meus
olhos pelo imenso parque de estacionamento do centro de Barcelos.
A visita a um
familiar moribundo trouxe-me até aqui. As pessoas, em grupos, aproximam-se da
unidade de saúde. É a hora da visita hospitalar, uma obrigação social bem
arreigada no nosso povo. Qualquer que seja o diagnóstico de quem se encontra
internado.
Penso, por
vezes, que, neste particular, aproximamo-nos dos afectos ciganos: quando as
fragilidades do corpo nos entra pela família dentro, há o «toque a reunir». Porque sempre julgamos que, quanto mais próximos,
mais fortes!
Lá fora, as
árvores dirigem para o céu a sua nudez. Aguardam que o sol se aproxime um pouco
mais para emergir em força da hibernação forçada.
Este tempo, de
escassa luz, pouco sol e frio quanto baste, leva para longe o voo dos pássaros
e emudece a alma das plantas.
E custa a entender a razão destas se despirem,
precisamente, na época em que era pressuposto o contrário. Talvez seja puro
masoquismo este sacrifício da natureza. Ou uma mensagem de que é necessário
morrer para renascer em todo o esplendor.
Começou a
chover de mansinho, dificultando a vida aos arrumadores que, ainda assim,
teimam em continuar a sua função, por certo, na esperança de acrescentar, um
pouco mais, o seu pecúlio até ao final do dia.
Mozart mantém-se,
no aconchego do meu carro, com a sua música eterna. A tarde vai-se esgotando aos
poucos. As pessoas deambulam de um lado para o outro, com as feições a
denunciar a temperatura de mais um dia de inverno. Que acrescento à vida!
Sem comentários:
Enviar um comentário