Há
dias, assisti ao filme «O Impossível»
que conta a história verídica de uma família espanhola que sobrevive ao Tsunami
de 2004, que devastou o Sudeste Asiático atingindo fortemente a Indonésia e a
Tailândia. É um filme que, de princípio ao fim, capta a atenção do espectador, com
certas cenas a transportar-nos para o turbilhão de emoções que as ondas
gigantes fizeram emergir.
Acabei
de ler uma entrevista de Maria Bélon, uma das protagonistas
daquela tragédia que, na altura, passava as férias de Natal,
num dos resorts de Phuket, na companhia do
marido e dos três filhos, todos eles igualmente sobreviventes daquela tragédia.
Para
além da descrição da traumática experiência, o que me impressiona na
entrevista é a forma de como esta mulher passou a encarar a vida. O seu desabafo
de que «agora sei o que é importante e
para o que devo viver» é um sinal de que a vida passou a ter um sentido completamente
diferente do que era antes do Tsunami.
Esta
médica, que abandonou a profissão, assumindo o papel de porta-voz das vitimas
da tragédia, acreditava que tanto ela, como a sua família, tinha uma grande beleza e enorme
importância social. Após esta experiência, diz, com impressionante convicção: «Sou a mulher mais bonita do mundo. A minha beleza está nas minhas
cicatrizes, nas minhas rugas, nos meus cabelos brancos».
É
frequente este fenómeno de se sentir a vida com outro olhar após uma
experiência de quase-morte ou da vivência de um drama pessoal ou familiar muito
traumatizante.
Vivemos apressados os dias e os anos, numa correria sem destino
e sem alma. Só damos conta da direcção que levamos quando somos sacudidos por
algo que nos perturba profundamente e que nos permite reavaliar diversas coisas
extremamente relevantes, que o nosso dia-a-dia teima em passar por cima e,
mesmo, desprezar. Pois, como escreveu o
escritor francês, Saint-Exupéry, no seu livro "O Pequeno Príncipe", «O essencial é invisível aos olhos».
Histórias, como a de Maria Bélon,
obrigam-nos a reflectir no que realmente somos e para onde vamos. E de não ter
medo de passar a ouvir as palavras que sempre desejamos ouvir, de pronunciar as
frases que um dia gostamos de repetir, de sentir a emoção que sempre esperamos
sentir, de caminhar pelos trilhos que um dia ansiamos seguir, de dividir o carinho
com quem sempre ambicionamos repartir e de viver a vida que sempre sonhamos
existir.
Imagem: Google
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