Carlos da Gama |
À minha frente, o cenário tantas vezes revisitado: O casarão brasonado, que observo
em silêncio, jaz abandonado, e já tomado pelas trepadeiras do tempo, na margem direita do
Rio Cávado.
Em tempos, era uma palacete cheio de vida, onde as crianças de Gemeses se
dirigiam para aprender as primeiras letras ministradas por educadoras
pertencentes àquela família. Foi, também, uma das casas mais abastadas da Freguesia.
Há
algumas décadas, porém, iniciou o seu declínio mortal. O cenário que hoje testemunho é o da completa decadência de uma referência arquitectónica de Esposende.
Observando-a, por entre uma árvore desnudada de folhas e ferida pela
amputação dos seus ramos mais musculados, vêm-me à memória histórias, ouvidas dos mais velhos, sobre os fantasmas que por ali se acolheriam.
O mais presente terá sido um seu
antigo dono que apareceria, em altas
horas da noite, no mirante da moradia ou vagueando pela enorme quinta
que lhe pertencera. Enfim, a história dos povos faz-se, também, de mitos e lendas fantasmagóricas que dão colorido a momentos, mais ou menos marcantes, em cada sociedade.
A manhã veste-se de uma tristeza invernal, com uma chuva fraca que lhe acrescenta
melancolia. Lá mais em baixo, o rio, de cor pálida, escorre silencioso em
direcção à Foz.
Encontro-me junto da Capela da Senhora da Barca do Lago, um lugar
paradisíaco que, em tempo de veraneio, veste-se de vegetação revigorada, de
águas mais azuis, de flores variadas e de um calor que atrai multidões.
Tenho para mim que o Inverno mais não é que a espera por esse tempo
luminoso!
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