quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

O casarão


Carlos da Gama



À minha frente, o cenário tantas vezes revisitado: O casarão brasonado, que observo em silêncio, jaz abandonado, e já tomado pelas trepadeiras do tempo, na margem direita do Rio Cávado.
Em tempos, era uma palacete cheio de vida, onde as crianças de Gemeses se dirigiam para aprender as primeiras letras ministradas por educadoras pertencentes àquela família. Foi, também, uma das casas mais abastadas da Freguesia. 
Há algumas décadas, porém, iniciou o seu declínio mortal. O cenário que hoje testemunho é o da completa decadência de uma referência arquitectónica de Esposende. 

Observando-a, por entre uma árvore desnudada de folhas e ferida pela amputação dos seus ramos mais musculados, vêm-me à memória histórias, ouvidas dos mais velhos, sobre os fantasmas que por ali se acolheriam. 
O mais presente terá sido um seu antigo dono que apareceria, em altas horas da noite, no mirante da moradia ou vagueando pela enorme quinta que lhe pertencera. Enfim, a história dos povos faz-se, também, de mitos e lendas fantasmagóricas que dão colorido a momentos, mais ou menos marcantes, em cada sociedade.

A manhã veste-se de uma tristeza invernal, com uma chuva fraca que lhe acrescenta melancolia. Lá mais em baixo, o rio, de cor pálida, escorre silencioso em direcção à Foz.
Encontro-me junto da Capela da Senhora da Barca do Lago, um lugar paradisíaco que, em tempo de veraneio, veste-se de vegetação revigorada, de águas mais azuis, de flores variadas e de um calor que atrai multidões.
Tenho para mim que o Inverno mais não é que a espera por esse tempo luminoso!

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