(Carlos da Gama. Marrocos2013) |
“Neste
dia sem luz que me anoitece,
Que me sepulta inteiro,
Até de mim a minha dor se esquece
Para que eu seja um morto verdadeiro.
Que me sepulta inteiro,
Até de mim a minha dor se esquece
Para que eu seja um morto verdadeiro.
Chove
tristeza fria no telhado
Do castelo do sonho; nua, nua
A calçada que subo, já cansado
De tanto andar perdido nesta rua.
Do castelo do sonho; nua, nua
A calçada que subo, já cansado
De tanto andar perdido nesta rua.
Duma
olaia caiu, morta, amarela,
Qualquer coisa que foi princípio e fim;
E bem olhada, bem pensada, é ela
Aquela folha que lutou por mim…
Qualquer coisa que foi princípio e fim;
E bem olhada, bem pensada, é ela
Aquela folha que lutou por mim…
Sozinho
e morto ouço cantar alguém,
Mas é longe de mais a melodia…
E o ouvido que vai nunca mais vem
Trazer-me a luz que falta no meu dia.”
Mas é longe de mais a melodia…
E o ouvido que vai nunca mais vem
Trazer-me a luz que falta no meu dia.”
Miguel Torga, in «Diários I a IV»
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