Era um dos principais objectivos da viagem: a
visita aos campos de extermínio humano de Auschwitz-Birkenau. Um local que,
seguramente, não deixa ninguém indiferente!
Desde Carcóvia – onde pernoitamos – até Auschwitz,
fizemos cerca de 60 kms.
As florestas que ladeiam a estrada, bem verdejantes,
pareciam tristes: O nevoeiro que se formou e os pensamentos que me assaltaram
naquele percurso tornaram o ambiente bem mais carregado e soturno.
Um holocausto pensado ao pormenor
por um regime déspota e hediondo.
Arrepia imaginar as sub-humanas condições de
higiene, quer na acomodação dos prisioneiros nos barracões em espécies de
beliches colados uns aos outros numa sequência que retirava qualquer ilusão de
privacidade.
Mas também os espaços destinados à satisfação das necessidades
fisiológicas eram aviltantes para seres humanos: várias filas de buracos e uma
vala colectora de dejectos por debaixo deles, o que tornaria o ambiente fétido
e nauseabundo.
Arrepia saber que milhões de pessoas foram
mantidas em condições terríveis, passando fome e frio, cheias de doenças,
submetidas a regimes duríssimos de trabalho e tratados como animais até que
chegasse a sua vez de morrer.
Arrepia toda a máquina de morte que diariamente se
alimentava dos indesejados pelo regime.
Arrepia, sobretudo, fazer um exercício
de retrospectiva e não encontrar razões para toda esta barbárie, que foi
cometida, anos a fio, sem que o mundo se apercebesse.
Uma vez ali chegados, a
maioria dos idosos, mulheres e crianças era conduzida para a secção de morte
por gás e, posteriormente, cremados em fornos que funcionavam continuamente.
Mas estar
aqui, ver objectos que pertenceram a prisioneiros assassinados, ver os
barracões com aquelas espécies de camas, num ambiente sufocante e imundo, ver
as condições de higiene sub-humanas, ver tudo isto e muito mais, é constrangedor
e opressivo.
A
crueldade, aqui cometida, foi desumana porque nos choca compreendê-la como
fenómeno humano.
Como foi possível que Hitler tomasse o poder na
Alemanha, instaurasse um regime de terror e desencadeasse a mais mortífera
guerra da História?
E, se atentarmos na tese religiosa, como se poderá
sustentar que, como reza a Bíblia, «o homem foi feito à imagem e semelhança de
Deus»?
De facto, só a demência pode
estar no centro deste comportamento cruel e hediondo do nazismo.
Não será por acaso esta dificuldade que sinto em
encontrar palavras para expressar emoções e ideias.
Porque Auschwitz, museu que
ilumina facetas obscuras da degradação humana, coloca-nos perante a quase
impossibilidade de transmitir o que se sente ao descobrir o que ali aconteceu.
Impressionou-me a presença de muitos jovens, de
várias nacionalidades, em visitas de estudo, o que contribui para que a memória
da barbárie perdure nas consciências e no tempo.
E para que a memória desta imensa barbárie perdure!
Sem comentários:
Enviar um comentário